Na última quarta-feira (02), a Polícia Civil de Mato Grosso encerrou as investigações sobre o caso de Isabele Guimarães Ramos, morta por um tiro na cabeça no dia 12 de julho, com apenas 14 anos. A conclusão foi de que o tiro não havia sido acidental, como a amiga da adolescente, e principal suspeita do crime, alegou inicialmente. Pelo contrário, as autoridades acreditam que a jovem tinha, sim, intenção de matar Isabele.
Uma reportagem do “Fantástico”, exibida nesse domingo (06), deu mais detalhes sobre como a polícia chegou a este resultado e ainda exibiu as últimas imagens da vítima, poucas horas antes de falecer. A gravação faz parte do circuito de câmeras de segurança da casa da família da amiga e mostra o momento em que Isabele chegou ao local, por volta das 16h40 do dia 12. Ela ia preparar uma sobremesa lá.
Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o nome da adolescente atiradora, do namorado dela e dos pais não foram divulgados. No entanto, sabe-se que as duas famílias faziam parte de um grupo chamado CACs, de caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo. Quando Isabele chegou à casa, o pai de sua amiga estava fazendo manutenção de seis armas na mesa da sala.
A polícia colheu 25 depoimentos de testemunhas e realizou 12 perícias criminais, incluindo uma reprodução simulada. Devido às versões e provas conflitantes, a perícia foi essencial para a conclusão. “Já que não tem confissões nem testemunhas, a prova técnica é elementar, ela é indispensável para solução de qualquer investigação. Pois ela pode, ela deve, trazer as verdades dos fatos”, explicou Eduardo Andraus Filho, diretor de Medicina Legal.
A partir desta análise, os investigadores concluíram que a amiga, que também tem 14 anos, deixou o estojo com uma das armas em cima de um móvel no quarto dela e, então, foi até o banheiro. Dentro dele, disparou contra Isabele a 20 ou 30 centímetros de distância, em uma altura de 1,44 centímetros. O tiro entrou no nariz e saiu pela nuca.
“Evidencia-se que a vítima estava de frente e apontando diretamente a arma para o rosto da vítima. A pessoa que efetuou o disparo estava dentro do banheiro. Isso pode ser comprovado, conforme deixa claro o laudo pericial, pelas manchas de sangue, pela posição de queda da vítima, e pelos elementos e marcas que foram deixados no local”, pontuou o delegado Wagner Bassi. As investigações, no entanto, não conseguiram determinar o que motivou o crime.
De acordo com a polícia, a adolescente que atirou cometeu ato infracional análogo ao crime de homicídio doloso, quando há intenção ou assume o risco de matar. O namorado dela, ato infracional análogo ao porte ilegal de arma de fogo. Já o pai dela foi indiciado por quatro crimes: homicídio culposo, quando não há intenção de matar, posse ilegal de arma de arma de fogo, omissão de cautela na guarda de arma de fogo, e fraude processual.
Os investigadores também indiciaram a mãe da jovem e o pai do namorado dela pelo crime de omissão de cautela na guarda de arma de fogo. Agora, cabe ao Ministério Público analisar o caso e aceitar a decisão. “Caso o Ministério Público concorde com a conclusão do delegado de polícia, e ofereça a denúncia nestes termos, a adolescente pode ser submetida à medida sócio-educativa de internação de até três anos”, explicou Breno Melaragno Costa, advogado e professor da PUC-RJ.
O caso evidencia como o acesso cada vez mais fácil a armas de fogo, no Brasil, pode ter consequências trágicas. “É bom que fique bem claro que a morte de Isabele não se deu única e exclusivamente pelo dedo da jovem atiradora. Houve ali uma conjunção de fatores, houve todo um contexto envolvendo tanto os pais da adolescente atiradora, quanto o jovem que levou essa arma e os pais dele. Foi a união dessas condutas que causou o resultado morte”, destacou Hélio Nishiyama, advogado da família de Isabele.
“Toda essa tragédia teria sido evitada se o Estado conseguisse controlar de maneira eficiente a circulação de arma de fogo”, completou o advogado Breno Melaragno Costa. Assista à reportagem na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=ALxqOEvLlUA
Isabele Guimarães Ramos estava na casa de uma amiga em 12 de julho, num condomínio de luxo em Cuiabá, Mato Grosso, quando levou um tiro no crânio e veio a óbito. O caso, até então, seguia com muitas dúvidas e poucas respostas. De acordo com a adolescente suspeita de efetuar o disparo, a pistola teria sido acionada quando ela guardava a arma para seu pai – negando que estivesse brincando com o objeto, ou tentando mostrá-lo para a amiga.
O laudo oficial de balística da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), no entanto, garantiu que a arma de fogo utilizada não pode produzir um tiro acidental.