A polícia do Rio Grande do Sul confirmou a identidade da mulher que teve partes do corpo encontradas dentro de uma mala na rodoviária de Porto Alegre. Segundo a cunhada da vítima ao g1, Brasília Costa, de 65 anos, conheceu o suspeito, Ricardo Jardim, de 66, em um abrigo durante as enchentes em junho do ano passado e eles começaram a namorar.
Brasília era manicure, natural de Arroio Grande, e morava na capital. Segundo familiares, ela era uma mulher reservada e gostava de ficar sozinha. Era divorciada, sem filhos, e preferia ser chamada de Bia. O relacionamento com Ricardo começou durante o acolhimento das vítimas das chuvas em 2024. Os dois chegaram a romper em outubro, mas reataram o namoro há cerca de cinco meses.
A cunhada da vítima, Raquel Costa, contou que Brasília chegou a planejar uma viagem com ele para João Pessoa. No entanto, a convivência com Ricardo mudou os hábitos de Bia. “Ela sempre foi de ficar o final de semana todo aqui em casa. Vinha sexta e ia embora só domingo. Depois que estava com ele, ela não vinha mais e ficava. A última vez que ela veio foi em julho. E só almoçou com a gente e foi embora. Ele começou a mandar mensagem dizendo que ela tinha que ir”, afirmou.
Ricardo nunca foi apresentado à família de Bia. Segundo relatos, ele dizia que tinha problemas com a mãe e os filhos e por isso não gostava de sair.
Histórico Criminal
Antes do assassinato, ele já havia sido condenado em 2015 por matar e concretar o corpo da própria mãe, Vilma Jardim. Na época, foi sentenciado a 28 anos de prisão.
Mesmo com o histórico criminal, o homem conseguiu progressão de regime antecipada em janeiro de 2024. A juíza Sonáli da Cruz Zluhan justificou a decisão apontando as condições precárias do sistema prisional e laudos favoráveis da equipe psicossocial. “Ele estava preso há nove anos sem tratamento penal nenhum, com parecer favorável da psicóloga e da assistente social, e com conduta carcerária plenamente satisfatória. Não tinha nada que contraindicasse a progressão dele”, afirmou à Gaúcha Zero Hora.

“Ricardo não apresentou, durante o atendimento, sinais/sintomas sugestivos de comprometimento da saúde mental que demandem intervenção no momento. Em relação ao delito pelo qual foi acusado e condenado, verbaliza seu desconforto ao recordar o episódio e lamenta não ter tido outra atitude diante do fato. Denota estar conformado com a punição e entende a gravidade do evento delitivo”, apontaram os laudos.
Já o parecer da assistente social registrou que “suas metas futuras são de cumprir a pena e vir a usufruir de direito a regime de pena abrandado, assim lhe sendo possível retornar ao convívio social de maneira gradual”.
Ricardo foi liberado da prisão em 16 de janeiro e deveria ter se apresentado ao Instituto Penal de Monitoramento Eletrônico em até 48 horas para instalar uma tornozeleira. Porém, o estado não dispunha de dispositivos no momento, e ele foi liberado provisoriamente para prisão domiciliar. Em 6 de abril, foi registrado como foragido, após descumprir a obrigação de se apresentar. Um novo mandado de prisão foi expedido em fevereiro de 2025.
Investigação
A nova investigação aponta que, após matar Brasília, o homem teria esquartejado o corpo e deixado partes em diferentes locais da cidade. A mala foi deixada na rodoviária de Porto Alegre em 20 de agosto. O volume permaneceu guardado por 12 dias no setor de guarda-volumes até ser aberto por causa do forte odor. Antes disso, outras partes já haviam sido encontradas no dia 13, em uma rua da Zona Leste. O torso foi localizado em 1º de setembro. A cabeça da vítima ainda não foi localizada, o que impede a definição exata da causa da morte.
Segundo a polícia, o autor retirou as pontas dos dedos da vítima para dificultar a identificação e teria deixado a cabeça por último justamente para retardar o reconhecimento. A linha de investigação aponta motivação financeira. Ricardo estava com o celular da vítima e se passou por ela em mensagens enviadas a familiares. Também tentou utilizar os cartões dela, segundo comprovantes encontrados pelos investigadores.

Com ele, foram apreendidos dispositivos eletrônicos, como notebook e celulares, que agora passarão por perícia. O objetivo é apurar se as mensagens realmente foram escritas pela vítima, além de rastrear movimentações digitais e financeiras. Por enquanto, o crime é tratado como feminicídio, e laudos complementares serão produzidos após a localização de todas as partes do corpo. Até o momento, Ricardo Jardim não constituiu defesa.
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