Acusado de espancar a própria mulher, o deputado federal Carlos Alberto da Cunha, conhecido como Delegado Da Cunha (PP), foi denunciado por lesão corporal decorrente de violência doméstica, dano qualificado e ameaça pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). Para a Polícia Civil, o político disse que teria sido provocado por Betina Raísa Grusiecki Marques, e que agiu “com fim de se proteger”. Da Cunha também alegou que ela é lutadora profissional de muay thai. As informações foram divulgadas pelo Metrópoles nesta quarta-feira (25).
O caso aconteceu em 14 de outubro, no apartamento do então casal em Santos, litoral de São Paulo. A nutricionista de 28 anos relatou ter sido ameaçada de morte e acusou Da Cunha de bater com a cabeça dela na parede até desmaiar. Eles estavam juntos há três anos. O caso foi registrado na 2ª DDM (Delegacia da Defesa da Mulher), na Zona Sul de São Paulo.
A versão dada pelo deputado em depoimento à Polícia Civil foi rejeitada pelo Ministério Público. Nesta semana, a Promotoria decidiu denunciá-lo por três crimes. De acordo com o MPSP, Da Cunha começou uma discussão com Grusiecki e “logo passou a agredi-la”. A perícia do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que Betina sofreu lesões e apontou “escoriação recente do couro cabeludo em região occiptal (nuca)”. O parlamentar levou dois pontos por causa de um corte. Para o promotor Rogério da Luz Ferreira, da Promotoria de Justiça de Santos, que analisou o caso, o ferimento dele foi “justificado pela legítima defesa”. Ele afastou a hipótese de acusar a nutricionista de agressão.
“Ele agarrou a ofendida e, com violência, bateu a cabeça dela contra uma das paredes do imóvel”, relatou o promotor na denúncia. “O denunciado também apertou o pescoço da vítima (esganadura), fazendo com que ela perdesse a consciência. Quando ela voltou a si, o denunciado bateu mais uma vez a cabeça dela contra a parede”, destacou o documento. “O denunciado queria ferir a vítima e conseguiu seu objetivo“, acrescentou.
Como Da Cunha é deputado federal, os autos foram encaminhados para o Supremo Tribunal Federal (STF). No processo, Carlos Alberto afirmou que era inocente e que foi vítima de agressão por parte de Betina. Segundo Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, o juiz Leonardo de Mello Gonçalves, da 2ª Vara Criminal da comarca de Santos, submeteu os autos ao STF em caráter de urgência.
O promotor do caso defende que Carlos Alberto da Cunha não tenha foro privilegiado, uma vez que o crime imputado não foi praticado no local das suas funções como membro da Câmera dos Deputados. Os advogados de Da Cunha negaram que ele tenha praticado qualquer crime. “A defesa de Carlos Alberto da Cunha rechaça todos os fatos constantes na denúncia oferecida pelo Ministério Público e provará sua inocência nos autos de ação penal”, afirmou, em nota, a banca Malavasi Advogados.
Para o g1, os representantes confirmaram uma discussão entre os dois. “Houve uma discussão, em meio à comemoração de seu aniversário, mas em nenhum momento ocorreu qualquer tipo de violência física de sua parte”, disseram.
Gabriela Manssur, advogada da nutricionista, também comentou sobre o caso. “A palavra da vítima foi comprovada pelas provas produzidas até o presente momento, que inclusive serviram de base para que o Ministério Público oferecesse denúncia pelos crimes, em tese, crimes contra Betina”, disse. “Nosso objetivo é a defesa da vítima de violência doméstica e de todas as mulheres brasileiras que sofrem violência doméstica a cada 15 segundos no Brasil”, completou.
Versão de Da Cunha
Na delegacia, Da Cunha contou que viajou com Betina para a cidade de Santos no feriado de 12 de outubro. No dia 14, aniversário dele, os dois passaram a tarde em um clube e depois voltaram para casa. “Quando retornaram para o apartamento, Betina entrou de modo enfurecido na suíte do casal, e bateu a porta”, dizia trecho do depoimento. Em seguida, a nutricionista teria começado a “provocá-lo, dizendo de forma desafiadora: ‘Você vai me bater?’”.
O parlamentar disse que tentou “conversar com calma”, mas ela, “de forma provocadora”, repetia: “Você vai vir para cima?”. Ainda de acordo com ele, a companheira seria “lutadora profissional de muay thai e fisiculturista”. “Subitamente, Betina começou a empurrá-lo com força para sair e, com o fim de se proteger, esticou o braço na altura do pescoço de Betina, sem apertá-lo”, relatou. “Esta começou a simular que estava desmaiando, e se projetou ao solo”, disse Da Cunha.
O deputado ainda falou que ao se levantar, a mulher o acertou com um secador de cabelo. Ele teria ficado “atordoado” e sofrido um corte no supercílio esquerdo. Seu filho de 15 anos teria afastado o político de Betina e acionado a Polícia Militar.
Da Cunha destruiu pertences de Betina
A Justiça paulista recebeu vídeos do parlamentar destruindo roupas, calçados e outros pertences da mulher na noite em que ele teria a agredido. De acordo com o Metrópoles, que divulgou as imagens ontem (25), o ex-delegado juntou os objetos de Marques, jogou água sanitária e os descartou em uma sacola de lixo. Por isso, ele também foi denunciado por dano qualificado pelo MPSP.
Na denúncia, Rogério Ferreira afirmou que Da Cunha “destruiu, deteriorou e danificou os óculos, roupas e calçados da sua companheira”, com “emprego de violência e grave ameaça”. “Logo após a agressão e a ameaça, ainda tendo a vítima sob sua mercê, intimidada e impossibilitada de resistir, o denunciado destruiu os óculos de sol da vítima. A seguir, ele jogou água sanitária (cloro) sobre roupas e calçados da ofendida”, declarou.
Segundo o promotor, os objetos ficaram “impróprios para uso”. “Ele assim agiu para ridicularizar e menosprezar a vítima, desdenhando de seus pertences pessoais. Ele buscou humilhar a vítima fazendo isso na presença dela”, diz a acusação. Assista:
Vídeo mostra Da Cunha destruindo objetos de Betina pic.twitter.com/B0EZ5Q1hdf
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) October 26, 2023
Ao depor, o parlamentar afirmou que, “para evitar novos conflitos”, decidiu se mudar definitivamente para cidade de São Paulo. Ele também admitiu que danificou pertences da nutricionista e declarou que estaria “disposto a ressarcir eventuais danos materiais causados, com relação a artigos de vestuário de Betina”.
O deputado federal também é investigado por enriquecimento ilícito e abuso de autoridade. Ele é acusado de usar a estrutura da Polícia Civil para gravar vídeos de operações oficiais compartilhados em redes particulares. Em julho de 2021, ele chegou a ser afastado de suas funções por peculato, que é crime de apropriação por parte de um funcionário público, do que ele tenha acesso por causa do cargo que ocupa, em benefício próprio ou de outras pessoas. A arma e o distintivo de Da Cunha também foram recolhidos. No entanto, ele teve os equipamentos de volta ainda em julho. Agora, Carlos Alberto da Cunha é apenas deputado federal.