Investigado por lavagem de dinheiro, o padre Robson de Oliveira teve um novo desdobramento nas polêmicas acerca de seu nome. Nesta terça-feira (23), o UOL divulgou detalhes de áudios vazados do religioso, nos quais ele e mais dois advogados discutem o suposto pagamento de uma propina de R$ 1,5 milhão a desembargadores do Tribunal de Justiça de Goiás. A defesa do padre e o TJ-GO se manifestaram sobre o caso.
Segundo o Ministério Público de Goiás, o intuito da suposta propina seria garantir a vitória em um processo envolvendo uma fazenda, avaliada em R$ 15 milhões. A briga judicial se deu após um erro ao descrever o tamanho da propriedade. No primeiro semestre de 2019, padre Robson perdeu o pleito em primeira instância. Na época, sua defesa decidiu recorrer da decisão da justiça e obteve sucesso na segunda instância, em julho do mesmo ano. No entanto, não se sabe essa quantia milionária teria sido paga aos desembargadores.
Detalhes das gravações
Todos os diálogos e a gravação foram obtidos nos computadores, HDs e no celular de padre Robson durante a Operação Vendilhões – que apurava supostos desvios de verba na Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno), presidida pelo religioso na época. De acordo com a investigação do Ministério Público, o material passou por uma perícia, que comprovou a veracidade dos registros.
Segundo o UOL, um dos advogados afirmou durante a reunião que precisa “ter elemento de negociação para eventualmente subcontratar apoios no Tribunal de Justiça”. Em outro trecho, o padre questiona como a suposta propina seria paga, quando seu aliado explica que ela seria dividida entre três desembargadores. “500 [mil reais] pra um, e o resto dividido para os outros dois, entendeu?”, disse o membro da defesa de Robson no áudio.
A publicação, que teve acesso aos áudios vazados, ainda atesta que o padre concordou com a suposta propina. De acordo com o UOL, o religioso afirmou também que estava ficando sem dinheiro, mas que agradeceu por ter interrompido a construção da nova Basílica de Trindade, porque isso impedia que ele ficasse sem nada. “Estou dando graças a Deus de ter parado a obra”, comentou Robson.
Desde o ano passado, padre Robson é suspeito pelos crimes de lavagem de dinheiro, apropriação indébita e falsidade ideológica. Segundo as acusações, o sacerdote teria movimentado até R$ 2 bilhões em dois anos, com dinheiro doado por fiéis para a construção da nova Basílica. O MP-GO investiga se o religioso teria desviado a verba para a compra de bens, tais como fazendas e uma casa de praia.
Defesa de padre Robson rebate áudios vazados
A defesa do padre Robson contestou a autenticidade dos áudios vazados e afirmou que o “material original e verdadeiro não foi exibido, já que é mantido em segredo de Justiça pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, por decisão do poder Judiciário”. Em nota ao UOL, a equipe do ex-presidente da Afipe desmentiu os argumentos, alegando que eles tratam-se de “construções fantasiosas com a tentativa de constranger pessoas, já que não se sustentam juridicamente nem sequer foram judicializadas nem representam qualquer ato ilegal”.
A Presidência do Tribunal de Justiça de Goiás também foi procurada pela reportagem, mas afirmou desconhecer os fatos narrados. “Não foram utilizados os meios próprios para trazer ao Poder Judiciário informações ou indícios de eventual conduta inadequada de magistrados para regular apuração. Não se pode presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente”, disse o órgão.
Investigação pode ser reaberta
Em outubro de 2020, o Tribunal de Justiça de Goiás inocentou o padre Robson de Oliveira após acusações de lavagem de dinheiro. Contudo, no último domingo (21), uma reportagem do “Fantástico” revelou áudios apreendidos em agosto do ano passado, na investigação que apura crimes cometidos pelo sacerdote da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade. Segundo o MP de Goiás, as associações criadas pelo sacerdote teriam cometido apropriação indébita, falsificação de documentos, organização criminosa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
Agora, de acordo com o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, há motivos para que a investigação seja retomada. Isso porque as mensagens divulgadas pela reportagem apresentam novos delitos cometidos pelo religioso, que teria gasto milhões de reais da Igreja para se livrar de uma sequência de extorsões que sofreu nos últimos anos. O padre teria até feito referências à possibilidade de um assassinato. “Se você pudesse matar ele pra mim, eu achava uma bênção”, afirmou.
Saiba todos os detalhes da reportagem e confira a íntegra do caso, clicando aqui.