[Alerta de gatilhos: Este texto contém relatos graficamente fortes de tortura e abuso sexual] Calinka Padilha de Moura relatou episódios de violência doméstica e física que teria sofrido, durante anos, de seu ex-marido, Tales de Carvalho. Em entrevista ao Metrópoles, divulgada nesta quinta-feira (27), ela expôs casos de estupro, sadismo e tortura, incluindo chicoteadas em suas partes íntimas com fio de telefone e de ser obrigada a ver vídeos de abuso infantil.
Tales é filho do falecido escritor Olavo de Carvalho e um dos proprietários da escola de cursos Instituto Cultural Lux et Sapientia (ICLS). Além de Calinka, as duas filhas mais velhas do casal, Julia Moura de Carvalho e Ana Clara Moura de Carvalho, narraram episódios que teriam ocorrido ao longo de mais de duas décadas, além da formação de uma espécie de seita em torno da escola de cursos filosóficos.
Em relato ao jornalista Guilherme Amado, Calinka contou que se separou do filho de Olavo em 2006, quando o ex-marido comunicou que pretendia ter uma segunda esposa. Segundo o portal, a garota teria 12 anos na época. Em nota enviada por seu advogado, Tales afirmou que ela tinha 14, idade a partir da qual uma relação sexual não caracterizaria estupro de vulnerável.
A menina era enteada da mãe de Tales, Eugênia. Em um e-mail enviado por Tales a Calinka em 2003, ao qual o Metrópoles teve acesso, ele fala sobre “algo muito forte” que sentia pela menina. Na mensagem, ele pede à então esposa “compreensão” por querer uma segunda mulher e relata ter tido visões sobre um “destino glorioso” à espera do futuro trio.
Separação e islamismo
Calinka se casou com Tales em setembro de 1997, quando ela tinha 18 anos e ele, 22. Naquela época, os dois eram budistas, mas o astrólogo converteu-se ao islamismo no ano seguinte, convencendo a mulher a fazer o mesmo. Diante da separação e da volta da ex-esposa para Curitiba, Tales pediu o divórcio por telefone, mas sob os preceitos islâmicos.
A mulher deveria ficar quatro meses sem ter relações com ele ou outros homens, o que ela afirma ter respeitado. Após o período e já solteira, Calinka passou a trabalhar em um salão de beleza e a frequentar festas. Tales tomou conhecimento e pediu para reatar o casamento. De acordo com o depoimento, caso Calinka não reatasse, ele não permitiria que ela visse mais as filhas do casal, Julia e Ana Clara.
Reconciliação e violência
Segundo Calinka, episódios de tortura, sadismo e estupro teriam começado a partir da reconciliação. Ela declarou que as atitudes de Tales aconteceram todos os dias ou, no mínimo, dia sim, dia não, entre agosto de 2007 e terminaram no fim de 2009.
Inconformado com a vida dela de solteira, o astrólogo teria passado a querer saber detalhes do período. Calinka revelou ter sido agredida, primeiro, com um cinto, para que respondesse sobre o assunto. Para evitar deixar marcas, ele teria passado a urinar ou molhar o corpo da mãe de suas filhas com água e chicoteá-la com um fio de telefone, principalmente em sua vagina.
“Ardia que nem fogo. Ele disse que havia pesquisado que o fio de telefone no corpo molhado era bom porque doía mais e não deixava marca“, disse a mulher. Segundo ela, Tales também ameaçava arrancar seu clitóris com uma lâmina ou quebrar os ossos de sua perna com um martelo. Os maus-tratos incluiriam ainda estupros.
Calinka não teria sido a única torturada. A outra esposa, já maior de idade, também teria sido vítima, por conta de uma suposta traição cometida quando ela tinha 17 anos e descoberta por Tales. Algumas das torturas teriam se dado com as duas juntas. Para o astrólogo, as agressões eram algo previsto pelo Islã e destinado a “purificá-las”, e “limpá-las” de pecados. A prática não tem base no Islamismo.
Seita e estupro infantil
Segundo a mulher, Tales também teria marcado mãos e pés dela e da outra esposa com uma faca. As cicatrizes não são mais visíveis. “Aquilo virou uma seita“, declarou. “Ele dizia que eu era a escrava sexual dele. E eu, durante boa parte disso tudo, acreditava que merecia passar por aquilo. Eu tinha passado por uma lavagem cerebral“, acrescentou.
Calinka contou que um dos piores momentos das sessões de tortura era quando o astrólogo as obrigava a ver vídeos de crianças sendo estupradas. De acordo com ela, Tales ficava excitado com cenas de meninos e meninas, com menos de dois anos, sendo abusados. Ele teria o hábito de, na sequência, estuprar e sodomizar a mãe de suas filhas. Na entrevista, Julia e Ana Clara, hoje com 26 e 24 anos, respectivamente, relataram ter encontrado no computador do pai, ainda crianças, registros de estupro infantil.
A mulher também contou que tentou fugir, mas foi alcançada pelo ex-companheiro, que a arrastou pelos cabelos de volta para casa. Ela teve duas costelas quebradas. O sofrimento só parou quando ela decidiu engravidar propositalmente, a fim de cessar todas as torturas. Mesmo assim, ainda sem que tivesse contado a Tales sobre a gravidez, Calinka afirmou ter sido estuprada com uma garrafa de vodca.
Fuga e relato de Tales
Calinka decidiu se separar de Tales em abril de 2021. Ela saiu de casa fugida com a filha mais nova, Raquel, a mais velha e o genro, um ex-aluno do ICLS a quem Julia havia sido prometida aos 16 anos. Ana Clara, a filha do meio, também já estava casada na época, com um muçulmano, paraguaio, e vivia em Foz do Iguaçu, no Paraná. Hoje, aos 14 anos, a caçula vive com o pai por escolha própria, mediante acordo judicial entre o pai e a mãe.
Tales se casou, segundo depoimento de Calinka e das filhas, com uma terceira mulher, marroquina, que ele teria conhecido remotamente. Depois disso, ele se uniu a outras duas brasileiras: uma com quem ele ficaria quase 10 anos, e que o deixou em fevereiro deste ano, e uma jovem de 17 que ele conheceu em um site de relacionamento e com quem ficaria por cerca de três anos.
Por meio de seu advogado, o filho de Olavo de Carvalho respondeu ao portal que as acusações da ex-mulher “foram utilizadas por ela para tentar privá-lo da guarda da filha menor“. “A Justiça não deu crédito a essas mentiras, a guarda foi decidida em favor de Tales, e Calinka se comprometeu com não repeti-las em troca da extinção de duas queixas-crime (vã promessa, como se vê)“, afirmou a nota.
O advogado também rebateu o suposto casamento com uma menor de idade. “Fato público que Tales e ela se enamoraram quando ela tinha 14 anos, passando a morar juntos quando ela já contava com 18 anos, depois do casamento segundo a religião islâmica“, concluiu o comunicado.