Um ex-funcionário do X revelou que toda a equipe brasileira foi pega de surpresa pela decisão do bilionário Elon Musk de fechar o escritório da plataforma no país, há cerca de 15 dias. A atitude foi uma das que desencadeou o bloqueio da rede social no Brasil, já que, por lei, é obrigatório que empresas estrangeiras tenham representante no país para responder formalmente por suas ações.
Em entrevista ao g1, divulgada nesta terça-feira (3), o ex-funcionário, que não quis se identificar, detalhou o processo, que começou numa quinta-feira, dia 15 de agosto. O time de 35 funcionários do X Brasil se reuniu com a diretora-executiva da big tech, Linda Yaccarino, e alguns outros colegas de equipe.
Ao g1, ele reforçou que, em nenhum momento, foi mencionado o possível encerramento das atividades do escritório no Brasil, apesar das discussões sobre as tensões com o governo brasileiro. “Na chamada, eles mencionaram preocupações com o cenário da operação brasileira do X e deram a entender que haveria mudanças. Mas, em nenhum momento, falaram em fechar o escritório”, declarou.
O “golpe” veio dois dias depois, no sábado, 17 de agosto. Os colaboradores foram convocados para uma nova reunião com Yaccarino, fora do horário de trabalho, o que despertou desconfiança no profissional: “Eu estranhei, porque esse tipo de compromisso no final de semana não era comum no X. Mas, como era com a CEO, imaginei que seria algo importante”.
Foi durante essa conversa que ele e os colegas foram informados sobre o fechamento do escritório no Brasil e, consequentemente, sobre as demissões. A conversa não teria durado mais de 15 minutos. “Foi totalmente inesperado. Por mais que eu soubesse do aumento das tensões do X no Brasil, os resultados da equipe estavam ótimos, e não achei que isso ia acontecer”, afirmou o ex-funcionário.
Ainda segundo o relato, Linda Yaccarino afirmou que o fechamento da empresa se devia a “complexidades legais”. Ela destacou também que o RH entraria em contato para seguir com os próximos passos. “Menos de uma hora depois, meus acessos ao sistema da empresa já tinham sido bloqueados. De maneira geral, foi muito frustrante, principalmente porque o trabalho da equipe estava indo muito bem e tínhamos planos pela frente”, detalhou.
Nos dias seguintes, o time de RH voltou a se comunicar com os ex-funcionários para efetuar o pagamento das verbas rescisórias, com exceção da multa do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), direito de todo funcionário que trabalha em regime CLT e é dispensado sem justa causa.
O ex-funcionário afirmou que o RH, realizado por uma empresa terceirizada, entrou em contato pouco depois por e-mail e que, nos dias subsequentes, as verbas rescisórias foram pagas. Entretanto, nenhum dos ex-funcionários recebeu a multa do FGTS.
Quase quinze dias depois, o grupo de ex-funcionários foi informado de que não há previsão para o pagamento da multa, visto que as contas da Starlink, empresa de Elon Musk em operação no Brasil, foram bloqueadas após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). O bloqueio entrou em vigor na quinta-feira (29), para garantir o pagamento das multas aplicadas pela Justiça contra o X.
Até o momento, o X não se posicionou sobre o assunto ou prestou qualquer satisfação aos ex-funcionários. “Nesse sentido, estamos apreensivos. Queremos seguir em frente, mas temos que ter os nossos direitos respeitados”, declarou o profissional.
Por fim, o ex-colaborador destacou que a equipe do X Brasil era formada por profissionais experientes, muito unidos e que seguem em contato. Todos estão em busca de reposicionamento no mercado de trabalho, que, segundo ele, “tem sido receptivo”. O X não se manifestou, mesmo após contato da equipe do g1.