Família de Eduarda, brasileira morta a tiros na Argentina após ‘barriga solidária’, rebate declarações de Fernando, réu confesso no crime

Família de Eduarda Santosrebateu acusações feitas por Fernando Alves Ferreira, réu confesso pelo crime

Eduarda

Dias atrás, o brasileiro Fernando Alves Ferreira, de 26 anos, confessou ter matado Eduarda Santos, de 27, com nove tiros na cidade de San Carlos de Bariloche, na Patagônia argentina. Às autoridades, ele admitiu o crime, apontou uma suposta motivação e deu detalhes da relação entre ele e a vítima. Por enquanto, o homem teve prisão preventiva decretada por quatro meses.

Segundo Fernando, o feminicídio da também brasileira teria ocorrido para “proteger sua segurança” e a de seus filhos, gêmeos, que Eduarda teria gestado através de uma “barriga de aluguel”. Alves afirmou, ainda, que a moça estaria envolvida com traficantes do Rio de Janeiro, local em que vivia anteriormente.

Em conversa com o hugogloss.com, Wallace Oliveira, irmão de Eduarda, rebateu as declarações feitas pelo autor do crime. Além de negar envolvimento da vítima com o narcotráfico carioca, ele garantiu que a parente não recebeu dinheiro pelo processo gestatório de gêmeos, o que descaracterizaria a “barriga de aluguel”. De acordo com Wallace, psicólogo que trabalha no Ministério Público do Rio de Janeiro, tratou-se de uma “barriga solidária” — quando alguém empresta, gratuitamente, o útero para gerar um bebê em favor de outra pessoa.

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A relação de Fernando e Eduarda

“Eu conhecia Fernando virtualmente, porque ele já vivia na Argentina há muitos anos. Mas a gente se falava com bastante frequência, por videochamada, ligação… como eu falava com minha irmã todo dia, ele sempre estava do lado. Em tese, era uma boa relação, minha irmã sempre falou muito bem dele, inclusive. Sempre disse que era um cara maneiro, gente boa… Mas, enfim, não é, né”, lamentou Wallace.

O servidor público também afastou a hipótese de que Eduarda e Fernando tivessem um relacionamento amoroso. O réu confesso foi casado com Marcelo, falecido meses atrás após contrair Covid-19. “Ela (Eduarda) nunca trouxe nenhum conflito deles pra gente, ele mesmo (Fernando) sempre falava muito bem da minha irmã, porque eles eram amigos. O Fernando tinha uma relação homoafetiva com Marcelo, falecido, e exatamente por essa relação de amizade que houve o convite para que ela pudesse ser útero solidário”, pontuou.

Eduarda
Eduarda perdeu a vida após gestar gêmeos para Fernando. (Foto: Reprodução/Facebook)

Alegação de envolvimento com tráfico

Em seu depoimento à polícia, Fernando disse que após dar à luz, Eduarda teria feito “exigências fora do contrato”, por exemplo de participar da criação das crianças, além de ameaçar que os pequenos estariam “na mira do narco” caso aparecessem no Brasil. “Sobre essas alegações, entendo que faz parte da orientação da defesa de Fernando. É muito característico do crime de feminicídio desqualificar a vítima. Minha irmã tinha profissão, era marinheira, tinha a carteira náutica pra poder trabalhar com turismo em Angra dos Reis, então em hipótese alguma, ela possuía qualquer tipo de associação com o crime organizado. É piegas dizer isso, mas somos de uma família de trabalhadores. Ela tinha cidadania argentina e residência na Argentina, e todos nós sabemos que para obter cidadania em um país precisa passar por um processo muito rigoroso”, ressaltou Wallace.

A guarda das crianças

O irmão de Eduarda disse ainda que ela e Fernando haviam acordado que as crianças residiriam na Argentina, mas os planos teriam mudado após Marcelo falecer. “Após a morte do Marcelo, ela voltou para a Argentina, pelo que fomos informados, para que pudesse pegar os filhos. E o Fernando ia voltar junto para o Brasil, embora ele tenha dito que não eram os planos, mas ele falava comigo sobre isso também. Inclusive, dois dias antes do acontecido, foi o que eles disseram, que iam voltar pro Brasil e morar juntos pra criar as crianças, que não queriam mais morar na Argentina”, lembrou.

Wallace declarou ainda que sua família entrará com pedido de guarda dos gêmeos, assim como de um terceiro bebê, fruto de um relacionamento de Eduarda com outro brasileiro. As crianças estão temporariamente sob cuidados da cunhada do criminoso.

“Nossa família vai entrar com ação de guarda e nós pretendemos, sim, trazer as crianças, não há possibilidade de que elas fiquem na Argentina. O Fernando está preso lá, a gente sabe que a legislação para feminicídio é bem rigorosa, então existe a possibilidade, segundo os noticiários locais, de uma possível prisão perpétua. Então as crianças voltam pro Brasil com a gente, claro, a partir de uma briga judicial”, avisou.

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Vaquinha online e viagem para a Argentina

No momento, os parentes de Eduarda aguardam a resolução de pendências burocráticas para que possam, então, seguir em viagem para a Argentina: “Já era pra termos ido, mas ainda precisamos resolver algumas coisas. Contatos precisam ser feitos. Essa relação diplomática entre Brasil e Argentina precisa acontecer para que possamos chegar lá encaminhados, ir para o SENAF, que é equivalente ao nosso conselho tutelar… Esse é o primeiro território jurídico onde está correndo todo esse processo civil, familiar e penal. A gente precisa se inteirar dessa relação diplomática e fazer os contatos necessários pra chegar lá bem encaminhados”.

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Colegas de trabalho de Wallace, no MPRJ, se mobilizaram e organizaram uma vaquinha (Foto: Divulgação)

Os familiares contam ainda com ajuda de doações para que possam bancar todas as despesas da viagem, além do valor que será gasto com advogados. “O sindicato dos servidores do Ministério Público do Rio de Janeiro organizou uma vaquinha solidária pra custear duas coisas: o translado do corpo, que em média, o serviço custa 5 mil dólares, e as questões relacionadas a estadia e alimentação enquanto ficarmos lá. Além dos trâmites jurídicos, porque teremos que nomear um advogado lá, tendo em vista que a advocacia brasileira não possui jurisdição em territórios estrangeiros e isso requer gastos de muitos honorários. São esses pontos: serviço funerário, estadia e alimentação e o serviço jurídico”, encerrou.