O “Fantástico” exibiu, na noite deste domingo (24), as últimas imagens de Livia Gabriele da Silva Matos, que morreu depois de um encontro com Dimas Cândido de Oliveira Filho, ex-atleta sub-20 do Corinthians. O programa ainda teve acesso ao laudo oficial, que constatou que não houve violência. Além disso, ambos não usaram drogas ou bebidas alcoólicas.
Os laudos e a causa da morte
A Polícia Científica de São Paulo divulgou o resultado dos exames – necroscópico, toxicológico e sexológico – nesta semana. Além do casal não ter consumido substâncias ilícitas, não havia esperma no corpo da jovem, o que confirma o uso de preservativo. Ela também não apresentava fraturas, nem sinais letais de violência. A causa da morte foi uma “ruptura de fundo de ‘saco de Douglas’ com extensão à parede vaginal esquerda“. “Saco de Douglas” é o nome dado a uma região genital que fica na parte baixa do abdômen, entre o útero e o reto.
“Teriam hematomas, outros machucados ali. Se fosse um sexo forçado, uma violência sexual. Outra parte do corpo também, outra marca registrando de luta, de defesa. Ela teve um sangramento, uma hemorragia, tanto da parte interna, tanto da parte externa“, explicou Fabiene Vale, da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, na reportagem. “A causa da morte foi na verdade uma hemorragia aguda importante com um choque hemorrágico“, acrescentou Jairo Iavelberg, médico ginecologista, obstetra e perito judicial.
O laudo informou ainda que a ruptura chegou a 5 centímetros de extensão. “Muitas vezes isso pode acontecer sem muita dor e, provavelmente, só teve início a queixa com os sintomas já de choque, como tontura, taquicardia, perda de consciência“, disse Iavelberg. Quanto à lesão, sem especificar qual seria, foi causada por um objeto contundente. “Especificamente, o pênis contra o fundo do saco vaginal“, complementou.
“O pênis pode ter levado a essa lesão. O caso dela foi uma fatalidade, pelo que está aparecendo, pela parte anatômica. Em qualquer caso de sangramento, o tempo faz diferença. As mulheres não precisam ficar preocupadas. Isso é uma condição rara. Mas se a mulher apresenta algum sangramento durante a relação sexual, se a mulher tem dor durante a relação sexual, para, procura ajuda. Vai no ginecologista, para ter uma vida sexual saudável, plena“, aconselhou Vale.
As últimas imagens
As imagens das câmeras de segurança também ajudaram a entender o que aconteceu no dia da morte de Livia. Nos registros, a jovem chega num carro de aplicativo num condomínio no Tatuapé, Zona Leste da capital, no dia 30 de janeiro de 2024. Ela faz uma ligação e Dimas aparece em seguida. Os dois não se cumprimentam e passam pela portaria. Apenas no elevador é possível ver um gesto de carinho. As imagens também mostram os dois indo ao apartamento dele. Não há registros do que aconteceu dentro do apartamento. Assista:
À polícia, o jogador afirmou ter usado camisinha. Segundo ele, os dois descansaram, conversaram e foram ter outra relação. Livia, então, não respondia mais e Dimas percebeu que ela havia desmaiado. Naquele momento, ele ligou para o Samu e disse que o atendente o orientou a colocá-la de barriga pra cima e massagear o peito até a chegada da ambulância. Então, Dimas percebeu que a jovem apresentava um sangramento nas partes íntimas.
O atendimento do Samu
Em depoimento, a médica do Samu explicou que a ambulância não conseguiu entrar na garagem porque o automóvel era mais alto que a cobertura do estacionamento do condomínio. A equipe andou cerca de 100 metros até o prédio de Dimas, com os equipamentos para atendimento de uma parada cardiorrespiratória. Um elevador estava ocupado e o outro, quebrado.
A equipe esperou a chegada do elevador, foi ao oitavo andar e, ao entrar no apartamento, encontrou o atleta fazendo massagem cardíaca em Livia. Dimas ainda estava ao telefone, com o atendente do Samu. A partir daí, eles assumiram a emergência. Um dos socorristas também aparece nas imagens buscando um reanimador manual, usado em casos de insuficiência respiratória, até a ambulância. A médica disse que o equipamento que a equipe tinha levado ao apartamento não estava funcionando bem.
A profissional informou ainda que, naquele momento, a jovem não havia apresentado sangramento ativo em nenhuma parte do corpo e que por isso não foi necessária nenhuma contenção. Ela declarou que a vítima teve duas paradas cardiorrespiratórias no apartamento e que a colocaram numa colcha, fornecida por Dimas, pois a maca não cabia no elevador. Quando chegaram ao estacionamento do condomínio, os socorristas trouxeram a maca, que estava na ambulância.
Foram 51 minutos da ligação de Dimas até a chegada de Livia ao hospital, onde ela teve mais duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu. Em nota, a prefeitura de São Paulo, responsável pelo atendimento do Samu, informou que a ambulância chegou à portaria em 11 minutos após receber o chamado. Os profissionais ficaram retidos na portaria, que não estava avisada da ocorrência, e que a utilização do reanimador manual se dá apenas depois dos primeiros procedimentos, os quais ocorreram dentro do tempo previsto no protocolo de atendimento. A prefeitura disse ainda que “lamenta a tentativa do advogado de imputar responsabilidade descabida ao Samu, serviço fundamental para salvar vidas.”
Defesa de Dimas
Tiago Lenoir Moreira, advogado do atleta, criticou a demora do Samu. “Os laudos deixam claro que houve consentimento, que não houve violência. É um absurdo a gente querer espremer para tentar buscar alguma coisa criminal contra o Dimas. Ele foi testemunha de uma fatalidade. O tempo foi fundamental para a evolução desse óbito. Demorou demais. Será que o Samu está preparado para atendimentos de pronto atendimento ginecológicos?“, questionou Moreira.
Segundo o advogado, Dimas não mora mais em São Paulo. O atleta estava emprestado para o Corinthians e tinha um contrato de dois anos, que venceria no final de 2024. No entanto, após a morte de Livia, ele resolveu retornar para o clube onde começou sua carreira, o Coimbra Sports, em Contagem (MG).
“Ele está extremamente abalado ainda com toda essa situação. Não tinha clima nenhum para ele jogar mais no Corinthians. Agora ele está trabalhando, cuidando da cabeça dele, cuidando do corpo dele para retomar com a carreira dele“, acrescentou Moreira.
Os investigadores aguardam outros relatórios médicos para saber se Livia tinha outras doenças. A operação está em fase final. A família de Livia preferiu não gravar entrevista e disse que aguarda o fim das investigações.