Flordelis: Primeiro dia de julgamento tem choro, acusações de incesto e de ‘falso filho biológico’; saiba o que foi dito

Flordelis é acusada de ser a mandante do crime que tirou a vida do marido, Anderson do Carmo, em 2019

Nesta segunda-feira (7), teve início o julgamento da ex-deputada federal Flordelis. Ela é acusada de ser a mandante do crime que tirou a vida do marido dela, o pastor Anderson do Carmo, com mais de 30 tiros, em 2019. Segundo o g1, o primeiro dia no tribunal durou mais de 11 horas e quatro testemunhas foram ouvidas. Além da parlamentar, a filha biológica dela, Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e os filhos adotivos André Luiz e Marzy Teixeira, também estão sendo julgados.

Flordelis nega todas as acusações e chorou ao chegar no Tribunal do Júri em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A presença da mãe da ex-deputada, Carmozina Mota, também teria contribuído para as lágrimas da acusada.

A primeira a prestar depoimento foi a delegada Bárbara Lomba, responsável por conduzir a investigação inicial do caso. “Foi perceptível depois do crime que havia já algumas pessoas mais revoltadas que queriam falar algo para a polícia. Para a igreja deles e a sociedade era um casamento tradicional. Mas os depoimentos desmontam algo que era passado de outra forma. Não havia o amor de pai e mãe, eles conviviam e as pessoas tinham relações com elas de cunho sexual”, disse a delegada.

Na sequência, a defesa da ex-deputada rebateu o depoimento. Para o advogado Rodrigo Faucz, a acusação não teria provas contra Flordelis: “Essa foi uma das mentiras contadas para prejudicar a imagem de Flordelis que, no decorrer do processo, foi desacreditada até mesmo pela acusação. Como a acusação nunca teve provas sobre a participação dela no assassinato, utilizou outras questões que nada tinham a ver com o crime para impactar a opinião pública”.

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No depoimento, Lomba também apontou que a vítima era considerada “filho adotivo” da deputada antes de se casar com Flordelis, aos 17 anos. “Eles têm uma diferença de 16 anos de idade e conseguiram autorização para se casar quando Anderson tinha 17 anos. Essa situação, além da relação entre os adolescentes adotados, desagradava a Flávio, que saiu de casa para morar com a avó”, afirmou. No ano passado, Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza, foram condenados por envolvimento na morte de Anderson do Carmo.

A delegada ainda afirmou que o filho apontado como sendo biológico do casal, Daniel dos Santos de Souza, teve sua certidão falsificada. A investigação provou que a mãe biológica do rapaz foi localizada e disse que foi forçada pela família a doar a criança.

Flordelis é acusada de envolvimento no assassinato do marido. (Foto: Reprodução/Instagram)

O delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito, também foi ouvido pelo júri – formado por três mulheres e quatro homens. Duarte destacou as inconsistências nos depoimentos dos réus e afirmou que Flordelis já havia tentado matar o marido em 2018, envenenando sua comida com arsênico e cianeto. Segundo ele, também houve uma tentativa de contratação de pistoleiros para executar o pastor. “Flordelis tem predileção pelo absurdo. Ela prefere matar o marido do que provocar um escândalo junto à igreja”, disse.

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A terceira testemunha a ser ouvida foi Regiane Ramos Cupti, ex-patroa de Lucas César dos Santos. A mulher contou que descobriu o que acontecia na casa da ex-deputada após se aproximar do jovem. De acordo com Regiane, alguns filhos tinham “privilégios”, diferente de Lucas, que era maltratado pela matriarca. “É uma família perigosa. Eu nem sei o que os netos dela podem fazer comigo quando eu sair daqui. Mas não posso me calar porque daqui a pouco estão me matando igual fizeram com o pastor. Ele (Lucas) não tinha sandália, andava sujo, maltrapilho, nunca teve um desodorante”, contou.

Cupti narrou um episódio quando Lucas teria mostrado a ela uma conversa em que Flordelis pedia para o filho simular um assalto contra Anderson e, em troca, ele ficaria com relógios do pastor. Além disso, segundo ela, bombas foram jogadas em sua casa após a prisão dos reús. Lucas é suspeito de ter conseguido a arma do crime.

Regiane também confirmou que a parlamentar pediu o filho para assinar uma carta assumindo a culpa. A pastora chegou a apresentar a correspondência à polícia, mas a investigação encontrou indícios de fraude e desvalidou o documento.

Flordelis está presa desde agosto do ano passado. (Foto: Reprodução/Instagram)

A última testemunha foi Mariana Jasper, convocada de última hora. Em seu depoimento, Regiane disse que sofreu uma tentativa de atropelamento feita por uma das netas de Flordelis, e que a diretora teria presenciado o momento. “Como não vi o que aconteceu porque estava trabalhando, filmando. Considero tudo uma grande coincidência, já que não vi nenhum movimento brusco”, explicou Mariana, encerrando sua participação.

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Ao longo do julgamento, de acordo com o g1, a defesa da parlamentar afirmou que vai tentar provar que Anderson praticava violência física e sexual contra ela. “São inúmeras provas. Inclusive, a análise no celular do pastor deixa claro como ele era um predador sexual. Tudo isso está demostrado. Fica bem provado que não há nenhuma prova que vincule os nossos clientes do homicídio cometido”, disse o advogado Rodrigo Faucz.

A afirmação, no entanto, foi rebatida pela defesa da família do pastor. “Ela teve cinco oportunidades para falar isso. Ela nunca narrou isso. Muito pelo contrário. Ela sempre vangloriou o Anderson, que era ‘o meu tudo’. É uma estratégia sorrateira. A prova do processo contradiz tudo o que está alegado“, respondeu Ângelo Máximo.

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Flordelis é acusada de ser a mandante do assassinato de Anderson do Carmo. Na época, ela afirmava que o marido tinha sido vítima de um roubo seguido de morte. A pastora responde por homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima -, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Outras dez pessoas foram indiciadas por suspeita de participação e tentativa de fraudar provas e atrapalhar o andamento das investigações. Por causa do número de réus, a expectativa é de que o julgamento ocorra por pelo menos mais dois dias.

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