O idoso de 72 anos que enviou um bilhete com ameaças para Padre Júlio Lancellotti se manifestou sobre o assunto nesta segunda-feira (28). Em entrevista ao Metrópoles, Wilson Aliano contou que misturou bebida com medicações antes de entregar a carta. Além disso, ele ainda explicou o motivo para ter tomado tal atitude.
“Estava sozinho em casa, tomando remédio para labirintite. Fui cair na asneira de tomar uma cerveja. Aí fiquei pensando, me deu uma revolta, escrevi [o bilhete]. Aí mandei esse bilhete mesmo, fui de cara limpa lá, para saber quem eu era mesmo. Sabia que tinha câmera, era para me reconhecer mesmo”, admitiu ele.
Segundo a Arquidiocese de São Paulo, a capela em que Lancellotti atua foi doada pela família Aliano à Cúria Metropolitana, em 1960. O idoso revelou que pensou sobre isso ao escrever o bilhete. “O trabalho do padre com os pobres é elogiável até. Um detalhe é que minha família doou aquela igreja para culto religioso, não para um ambiente de partido político. Famílias de bem frequentavam a igreja e se afastaram”, afirmou.
Os registros do 8º Distrito Policial declararam que o bilhete deixado pelo idoso no local ofendia e ameaçava o religioso. No entanto, Aliano rebateu as alegações, principalmente em relação a parte em que ele escreveu que “seu dia de reinado aqui vai acabar”. “Não tem ameaça de morte nenhuma. Sobre o reinado que vai acabar, o que eu quis dizer foi que vou levantar juridicamente como está a finalidade da doação [da igreja], ela é de fruto religioso. Se tiver brecha judicial, vou anular essa doação, é isso que vou fazer”, garantiu ele.
O idoso finalizou dizendo que está isolado para evitar eventuais represálias ou ameaças, mas ele falou que nenhuma das duas ainda ocorreu. Já Padre Júlio Lancellotti afirmou à publicação que conhece Aliano. De acordo com o sacerdote, alguns dias antes de enviar o bilhete, o homem solicitou um documento de batismo anterior à existência da capela. Porém, a certidão não estava mais no local. Ao ser informado, o idoso teria prometido entrar na Justiça pedindo a anulação da doação do espaço.
“Ele esteve lá esses dias pedindo documentação de batismo. Foi informado que, da época que ele pediu, não era paróquia ainda. Ele sabia disso, mas estava implicado com o tratamento que se dá à população de rua e ficou xingando, ofendendo e dizendo que ia entrar na Justiça para anular a doação”, explicou Lancellotti. Ainda segundo ele, Aliano não frequenta a capela regularmente.
Entenda o caso
No sábado (26), o Padre Júlio Lancellotti, da paróquia de São Miguel Arcanjo, em São Paulo, recebeu um bilhete com ameaças. Segundo a Secretaria de Segurança Pública Estadual, um idoso de 72 anos confessou neste domingo (27), que foi o responsável pelo envio da mensagem. Após a repercussão, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania se manifestou sobre o caso. As informações são do g1.
“Padreco de merd*, pensa que aqui é partido político. Defensor dos direitos dos bandidos. Petista vagabund*. Usa o povo para te favorecer. Seu dia de reinado aqui vai acabar. Pode esperar”, dizia o bilhete. Conhecido especialmente por seu trabalho ajudando pessoas em situação de vulnerabilidade, esta não é a primeira vez que o religioso é alvo de ameaças.
Quando encontrou o bilhete, o próprio padre entrou em contato com o secretário-executivo da SSP, Osvaldo Nico Gonçalves, para informar sobre a mensagem. As câmeras de segurança da igreja flagraram o momento em que homem deixou o papel no local.
O idoso responsável foi encaminhado ao 8º Distrito Policial, no Brás. Em depoimento, ele alegou que conhecia o padre e que “não pretendia fazer, efetivamente, mal a ele”. O caso foi registrado pelas autoridades como injúria e ameaça. A partir de agora, Julio Lancellotti tem seis meses para representar criminalmente contra o autor.
Nas redes sociais, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, lamentou as ameaças sofridas pelo religioso. “Minha solidariedade ao Padre Júlio Lancelotti, que faz um forte trabalho cristão em São Paulo. Esclareço que, no caso da ameaça por ele sofrida, a princípio a competência legal é estadual. De todo modo, vamos colher mais informações e estudar medidas cabíveis”, escreveu.
Minha solidariedade ao Padre Júlio Lancelotti, que faz um forte trabalho cristão em São Paulo. Esclareço que, no caso da ameaça por ele sofrida, a princípio a competência legal é estadual. De todo modo, vamos colher mais informações e estudar medidas cabíveis.
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) August 27, 2023
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania também emitiu uma nota de repúdio sobre o bilhete e as demais ameaças ao padre. Segundo o comunicado, o órgão se colocou à disposição para proteger Julio Lancellotti. “O ministro Silvio Almeida ligou para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, após chegar neste domingo de viagem à África em que integrava comitiva do presidente Lula. O governador informou ao ministro que a polícia prontamente identificou o autor da ameaça, e o encaminhou às autoridades competentes.”, diz a nota.
“Infelizmente, não é a primeira vez que o religioso é ameaçado por causa do trabalho que realiza com pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade. É inadmissível que um homem com sua trajetória e importância social continue sendo alvo de atos criminosos por parte de quem se opõe à luta pela justiça social. O MDHC se coloca à disposição para adoção de todas as medidas necessárias visando à proteção do Padre Júlio, que reconhecemos como grande defensor dos direitos humanos das pessoas em situação de rua”, conclui o texto enviado ao g1.