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Carolina Arruda, brasileira que foi diagnosticada com a neuralgia do trigêmeo, a doença conhecida como a “pior dor do mundo”, concedeu uma entrevista à revista Marie Claire nesta terça-feira (11) e falou sobre as atualizações do seu estado de saúde. A jovem, de 28 anos, havia feito uma “vaquinha” online para conseguir pagar a eutanásia na Suíça, mas após alguns tratamentos, abandonou a ideia.
Recentemente, ela revelou um novo diagnóstico, de espondiloartrite axial, e disse que as dores estavam piores. Carolina também contou que estava reconsiderando o suicídio assistido.
“Eu tive uma piora considerável nos últimos meses. Não só da neuralgia do trigêmeo, mas também da espondiloartrite axial, doença com a qual fui diagnosticada no dia 3 de janeiro. Perdi parte dos movimentos e comecei a usar cadeiras de roda no mês passado. Por todas essas questões, além dos tratamentos estarem muito lentos, eu comecei a reconsiderar a eutanásia“, afirmou Arruda.
Apesar de reconsiderar o procedimento, a jovem explicou que não irá fazer a eutanásia imediatamente. Além de ser um processo extremamente burocrático, a médica veterinária justificou que pretende esgotar todas as opções de tratamento para tentar aliviar suas dores.
“Eu não tenho de me arrepender porque eu tomei a decisão do suicídio assistido há muitos anos. Só eu vou sentir essa dor sozinha, para sempre. Eu não posso ser egoísta comigo mesma a ponto de me submeter a essa doença a qualquer custo. Mas não vou optar pela eutanásia sem chegar ao limite do tratamento que estou fazendo. Eu vou até o fim“, ponderou.

Tratamento
O médico intervencionista responsável pelo tratamento que Carolina vem fazendo, Carlos Marcelo de Barros, também deu entrevista à Marie Claire e detalhou o método. Barros, que é presidente da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) e diretor clínico da Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, explicou que Arruda foi submetida ao implante de neuroestimuladores e de uma bomba de morfina dentro do sistema nervoso central.
“A paciente está na fase de ajuste das dosagens administradas pelos dispositivos, visando otimizar o controle da dor e melhorar sua qualidade de vida“, disse.
O profissional esclareceu que as terapias estabilizaram a dor e reduziram muito as idas da paciente ao pronto-socorro, mas que isso ainda não é o suficiente. “Seis meses após a alta, ela teve apenas dois episódios que necessitaram de atendimento emergencial. No entanto, o resultado ainda está aquém do ideal para uma vida digna“, declarou.
Carolina demonstrou alívio por não precisar frequentar o hospital com tanta frequência, mas admitiu que, psicologicamente, não se sente bem. “Hoje, me sinto um pouco melhor em questão de ir ao hospital, mas pior em intensidade da dor e em relação ao meu psicológico. Estou esgotada mentalmente“, refletiu a jovem, que ainda precisa tomar anticonvulsivantes, antidepressivos e analgésicos.

Carlos explicou que, caso a veterinária não responda a este tratamento, será necessária uma nova intervenção, como a nucleotractotomia trigeminal. No entanto, a jovem afirma não ter intenção de tentar. “A neurotractomia tem muitos riscos de sequelas que eu não estou disposta a enfrentar porque eu não aguentaria. Eu posso ficar surda, cega, e sem conseguir falar, por exemplo“, relatou.
Espondiloartrite axial
Sobre o novo diagnóstico que recebeu, Carolina detalhou que sofre com os sintomas da enfermidade há 8 anos e que só agora será possível tratar. A espondiloartrite axial é uma doença inflamatória sem cura que atinge a coluna e a região lombar, causando dor nas costas e rigidez. Em casos mais graves, pode limitar os movimentos.
“Eu comecei a ter muito cansaço para andar e dor no corpo inteiro. Passei a ter inchaço nos dedos, nas mãos e nos pés. Como veterinária, eu usava luva PP e hoje utilizo G de tão grandes que ficaram minhas articulações“, disse ela, que começará o tratamento com imunobiológico, o remédio mais usado para tratar a doença.
Contudo, Arruda explicou que ainda não iniciou o procedimento devido a problemas com o plano de saúde. “Para começar o uso do imunobiológico, preciso fazer exames importantes, principalmente de tuberculose — como é um remédio que reduz a imunidade, se eu tiver a doença adormecida, ela pode emergir e eu corro risco de morte. Mas estou com dificuldade de realizar os testes porque o convênio os negou“, esclareceu.
Carolina, que recentemente compartilhou um vídeo mostrando os vestidos que experimentou para sua formatura, contou que precisará participar do evento em uma cadeira de rodas e expressou seu receio de ter que ir ao hospital depois da cerimônia.
“Eu tinha desistido de participar da minha formatura. Acho que hoje, com a cadeira de rodas, vou conseguir ir. Apesar de que eu sei que vai ser um dia muito cansativo, que pode me desencadear crises de dor e me levar ao hospital”, relatou.
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