Nesta quarta-feira (24), o pai da adolescente que encontrou uma câmera escondida no banheiro de sua casa, em Anápolis (GO), relatou o desespero da filha com os desdobramentos. Ao UOL, o homem, que preferiu não se identificar, contou que adolescente de 16 anos “só chora” e está traumatizada com o caso. Ele também lembrou uma “atitude estranha” do dono do imóvel, preso na última sexta-feira, 19 de abril.
“Ela gritava bastante, dizendo que tinha uma câmera escondida no banheiro. Pedi para me mandar uma foto e constatei que se tratava de uma câmera realmente. [Ele] filmou todas as mulheres da casa tomando banho e até uma criança de oito anos, que também ficou com trauma”, disse o pai. A família se mudou para o imóvel alugado em fevereiro. Após 15 dias, a adolescente encontrou a câmera.
Agora, os pais buscam acompanhamento psicológico para ela e o irmão de 8 anos. “Minha filha só chora, está desolada, com medo da exposição e de o Francismar ser liberado e fazer alguma coisa contra ela e a família. Eu, como pai, estou indignado com toda essa situação. Ele acompanhava 24 horas minha filha, imagina o que poderia fazer no futuro? Só quero justiça, que ele apodreça na cadeia, e minha filha volte a sorrir e não tenha mais medo”, desabafou.
O suspeito de instalar a microcâmera na tomada é Francismar Fernandes da Silva, de 36 anos, o dono do imóvel alugado. O local foi periciado pela Polícia Técnico-Científica de Goiás, que confirmou a existência da câmera. As imagens eram captadas de dentro do banheiro, transmitidas em tempo real e ficavam armazenadas. A polícia também cumpriu um mandado de busca e apreensão na residência de Francismar e apreendeu dispositivos eletrônicos.
Segundo o pai da adolescente, o dono do imóvel foi até a casa no segundo dia de mudança, com a justificativa de desinstalar um equipamento usado para fazer imagens de monitoramento de câmeras de segurança. “Acreditamos porque havia realmente uma câmera de segurança na garagem. Mas, por que tirar as câmeras de segurança? No mesmo dia, ele pediu para usar o banheiro. Minha filha disse que ele poderia utilizar a suíte, mas ele insistiu para entrar no banheiro social e ficou lá uns dez minutos. Tenho certeza que foi nesse dia que Francismar instalou a câmera”, detalhou.
Além da adolescente que descobriu o equipamento e do irmão dela, a mãe e uma tia também moram no imóvel. Os pais da menina são divorciados. “Eles se mudaram para ficar mais perto do trabalho da minha ex-esposa e da escola da minha filha. Parecia tudo normal, mas depois tudo se encaixou quando descobrimos a câmera”, explicou o pai.
O homem ainda contou como a filha conseguiu achar a câmera, quando estava sozinha em casa. Ela ouviu cachorros latindo em direção ao banheiro e, segundo o pai, o proprietário estava no local sem que a família soubesse. “Minha filha estava sozinha em casa porque havia passado mal e não foi para a escola. Francismar, que já devia acompanhar a rotina da casa, foi até lá. Não sei o motivo, talvez a câmera estivesse dando problema. Foi quando minha filha o flagrou [no banheiro] e ele saiu correndo”, narrou.
Com o flagra, a adolescente notou a disposição estranha da tomada, achou o equipamento escondido e acionou o pai imediatamente: “Avisei que deveríamos chamar a polícia, mas elas (mãe e filha) ficaram com medo. A mãe dela ainda falou com a esposa de Francismar, que negou tudo. Disse que o marido nunca seria capaz, mas ele foi”.
Além do imóvel, Fracismar é proprietário de uma empresa de energia solar, o que lhe dá acesso ao interior de outras residências. Com isso, as autoridades acreditam que ele pode ter instalado câmeras em mais casas e seguem com as investigações. “Ele poderá responder pelo crime de registrar cenas de nudez de criança e adolescente, além da invasão da casa. Além do mandado de prisão, também cumprimos um mandado de busca e apreensão na casa dele. Apreendemos vários celulares e computadores que serão periciados e ele pode responder por mais crimes”, concluiu a delegada Aline Lopes ao portal.
Por meio de nota para a Folha de São Paulo, a defesa de Francismar disse que ainda não obteve acesso aos autos do processo que resultou em sua prisão preventiva. “A ausência de acesso aos documentos pertinentes compromete substancialmente nossa capacidade de preparar uma defesa eficaz em nome de nosso cliente. O direito fundamental à ampla defesa e ao contraditório é essencial em um Estado democrático de Direito, e estamos comprometidos em garantir que esses direitos sejam plenamente respeitados”, diz um trecho do texto.
Os advogados ainda disseram que com o acesso aos autos serão “capazes de exercer plenamente o direito de defesa e esclarecer quaisquer equívocos que possam ter ocorrido neste caso”, além de “garantir que a justiça seja alcançada de maneira justa e imparcial”.