Nesta quinta-feira, 1º de junho, dia que marcou o início do Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, o “Linha Direta” abordou o caso do serial killer de Curitiba. José Tiago Correia Soroka assassinou três homens gays e tentou matar uma quarta vítima. Além de reproduzir em detalhes o caso que chocou o Brasil em 2021, a produção também entrevistou um antigo parceiro do assassino, que revelou mais sobre seu passado.
O serial killer foi preso em maio de 2021, e os crimes ocorreram entre abril e maio do mesmo ano, em plena pandemia de Covid-19. À polícia, ele confessou a morte de três homens: um professor, um enfermeiro e um estudante de Medicina. O primeiro crime aconteceu em 16 de abril de 2021, em Abelardo Luz (SC), quando ele tirou a vida de Robson Olivino Paim. No mesmo ano, em Curitiba, Soroka assassinou David Júnior Alves Levisio, em 27 de abril, e Marco Vinício Bozzana da Fonseca, no dia 4 de maio. Uma quarta vítima foi atacada em 11 de maio de 2021, mas sobreviveu.
Soroka demonstrou padrões que facilitaram a investigação: o criminoso escolhia suas vítimas em sites e aplicativos de relacionamento, marcava encontros nas residências dos rapazes e uma vez a sós com eles, tirava suas vidas por asfixia. Ele cometeu aproximadamente um assassinato por semana, em geral às terças-feiras, por dois meses.
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Questionado pela polícia sobre o motivo dos alvos sempre serem homens homossexuais, José Tiago negou ter qualquer preconceito. “A escolha em si não foi por homens homossexuais. A escolha foi por quem aceitasse que eu adentrasse a residência delas”, alegou ele, que se dizia hétero. O assassino afirmou, ainda, que nunca manteve relações sexuais com homens no passado. No entanto, a polícia descobriu que não era o caso.
Em meio à investigação, foi descoberto um homem, que revelou ter mantido um relacionamento com Soroka por cerca de quatro anos, enquanto o criminoso era casado com uma mulher. José, que sempre negou sentir atração por homens, foi pego de surpresa ao ser confrontado pela polícia sobre a relação homoafetiva e se recusou a responder a respeito do caso.
O antigo namorado, entretanto, decidiu falar com o programa de Pedro Bial. “Eu tava num domingo, em casa. Era tarde, umas seis horas da tarde, eu estava me sentindo assim… sozinho. Daí entrei num bate-papo, daí ele me falou primeiro. Falou ‘oi’. E aí começamos a conversar, daí nisso ele pediu meu WhatsApp, me interessei por ele na hora, de imediato, assim. Aí eu falei para ele: ‘Vem na minha casa’. E a gente ficou junto, foi ótimo”, começou o relato. “Todo final de semana ele vinha. Você marcava e ele estava lá. Isso foi sagrado, ele nunca faltou a um encontro”, acrescentou.
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Seis meses após o início do relacionamento, José Tiago disse que estava apaixonado por uma mulher e que iriam morar juntos. Soroka teve um filho com a parceira, mas continuou a se encontrar com o rapaz que conheceu no bate-papo às escondidas. “Eu estava na minha casa um dia, à tarde, daí ele perguntou: ‘O que você acha que eu sou? Eu sou gay, bissexual ou heterosexual?’. Aí eu falei: ‘Ai, Tiago, eu acho que você é bissexual, porque você está comigo, mas também está com uma mulher’. Aí ele falou assim: ‘Ah, eu acho que é isso mesmo'”, detalhou a testemunha.
Durante a relação romântica, o então parceiro de Soroka o ajudou financeiramente. “Ele trabalhava como segurança, não tinha um bom salário. Daí ele tinha essas despesas dele, tinha mais o filho. Acho que se colocar no lápis tudo [o que ajudei], dá quase uns R$100 mil. Como eu gostava, eu fazia. Eu fiz por amor a ele. Por carinho por ele, não me arrependo nem um pouco”, admitiu.
Em 2019, os dois homens tiveram um desentendimento devido aos constantes pedidos de dinheiro de Soroka, bem como suas mudanças de humor. Mesmo contrariados, eles decidiram se encontrar. “Eu estava meio incomodado. Aí ele pegou, marcou comigo num sábado e eu não estava querendo que ele viesse na minha casa naquele dia. Mas ele insistiu e eu aceitei”, recordou.
Soroka chegou com uma mochila e abraçou o namorado. No entanto, o gesto carinhoso se transformou num mata-leão ainda na porta da sala. Os dois engajaram num embate físico, que quase custou a vida da testemunha. “Eu comecei a questionar ele de toda essa parte: ‘O que está acontecendo, o que você quer?’. E ele apertou bem o meu pescoço, a minha voz não saía. Ele falou que queria dinheiro, os cartões de crédito e os cartões do banco”, contou o homem.
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José Tiago prendeu a vítima no sofá e amarrou seus braços e pernas com fita adesiva. Na sequência, ele pegou os cartões do namorado e pediu as senhas. O criminoso entrou no aplicativo bancário e gastou todo o dinheiro que o parceiro tinha guardado: “Ele entrou no computador também para fazer compras, e aí pediu a foto lá e ele queria tirar foto de mim naquela situação e queria que eu sorrisse. E eu falei: ‘Como é que eu vou sorrir numa situação dessas?’. Ele usou todo o limite que eu tinha de crédito”.
“Ele me arrastou pra cama, me colocou atravessado, de costas, e eu tentava me debater. E ele: ‘Fica quieto, não fala comigo’. Eu falei e ele me deu dois socos, na lateral e um na cabeça. Daí ele meio que [se deu conta]: ‘O que eu tô fazendo?’. Naquele momento, eu achei que ele não sabia o que estava fazendo. Ele me arrastou lá pra sala, me sentou com ele lá e eu tentava falar com ele e ele me mandava ficar quieto. Minha intenção era tirar ele de lá. Ele estava super nervoso, estressado, trêmulo, o semblante tenso, vermelho e irritado, um olhar fixo… Aí ele arrancou o telefone do gancho e veio com o fio e eu pensei: ‘Agora eu vou morrer. Ele vai me sufocar com esse fio e vai me jogar daqui de cima’. Ele veio para cima de mim, mas do nada, ele chegou perto de mim e deu um “start” nele, ele pegou aquele fio e jogou para longe”, relatou a vítima.
Soroka largou o namorado amarrado no local e voltou ao apartamento quarenta minutos mais tarde, com um galão de gasolina. “Pensei: ‘Ele vai botar fogo aqui’. Ele ficou uns dez minutos e falou: ‘Eu vou embora’ e me desamarrou”, revelou. O criminoso deixou o local sem matar o namorado, mas o alertou para que não chamasse a polícia, pois ele retornaria para tirar sua vida.
“Nós não sabemos por qual motivo ele virou uma chave e a partir dessa vítima, talvez por negar o relacionamento, talvez por se negar, a partir daquele momento ele passou a matar homossexuais de forma periódica”, apontou Thiago Nóbrega de Almeida, delegado de polícia responsável pelo caso. O psicólogo Guilherme Bertassoni concorda: “O conflito dele é interno. Ele comete crime para tentar lidar com a própria sexualidade. Ele está tentando esconder a homossexualidade dele. Ele está tentando matar no outro aquilo que ele vê nele”.
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Mesmo com todas as evidências contra José Tiago e ainda sua confissão, a vítima se recusou a acreditar que ele, de fato, cometeu os assassinatos. “Eu estava em casa e abri o celular numa dessas páginas de jornalismo e estava estampada a cara dele como ‘procurado’. Eu levei o maior susto com aquilo. Foi um choque. Não poderia ser ele, não era a mesma pessoa, não tinha como ele matar três pessoas. Aquele rosto angelical, doce, que ele tinha, aquela voz… e ter feito isso? Eu não consigo acreditar, não entra na minha cabeça, é bem difícil para mim aceitar isso. Eu não vou aceitar isso”, confessou o ex-namorado.
“Essa vítima relutou muito em colaborar com a polícia. Mesmo sofrendo violência, mesmo sofrendo agressões, mesmo quase morrendo, acabou colocando seu afeto, seu carinho pelo Tiago acima de tudo. A ponto de vê-lo como uma vítima e não um agressor”, detalhou o delegado.
O apego a Soroka foi tanto, que a vítima não o abandonou, mesmo após sua prisão. “Depois que ele foi preso, eu acabei fazendo a carteirinha do presídio e comecei a me comunicar com ele através de cartas. Para dar um suporte para ele, porque ele ficou meio que abandonado, né? E eu me senti meio culpado”, contou o namorado.
“Eu ainda gosto dele. Eu acho que coloquei ele como um… É bem doida, a situação, mas é como se fosse um filho. É como se eu tivesse um cuidado com ele, como se fosse minha responsabilidade ter que cuidar dele. Eu acho que talvez eu ainda o ame, sim. Pode estar lá quietinho no cantinho, porque eu acabei matando isso, né? Acabei tendo que matar isso, porque eu não ia viver mais isso, não tinha como. Mas eu gosto dele ainda”, concluiu.
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José Tiago Correia Soroka foi condenado a mais de 130 anos de prisão com o agravante da homofobia. Seus advogados estão recorrendo da decisão para que o cliente seja internado em um hospital prisional.