A mãe de Tainara Souza Santos, que foi atropelada pelo namorado e arrastada por quase um quilômetro, comentou o caso ao “Fantástico” deste domingo (7). Visivelmente abalada, Lúcia Aparecida Souza da Silva expressou sua indignação com o crime cometido por Douglas Alves da Silva, de 26 anos.
Tainara caminhava com um amigo depois de sair de um bar na Zona Norte de São Paulo, no dia 29 de novembro. Logo em seguida, imagens de câmeras capturam o atropelamento, com a vítima ficando presa debaixo do carro dirigido por Douglas.
Outros motoristas também registraram a tragédia. “Tá arrastando a mina na marginal! A mina tá embaixo do carro, desgraçado”, espantou-se uma das pessoas que filmaram a cena. Além de seguir o trajeto por quase um quilômetro, o motorista ainda trocou de faixa e realizou ultrapassagens.
“Um horror. Eu como mãe ainda fico… Eu fico pensando assim… As pernas dela, ela no sofrimento ali, o povo buzinando, as pessoas buzinando”, afirmou. “Ele foi pra matar mesmo. Ele não tem coração, não tem justificativa, não tem”, cravou Lúcia.

Emocionada, ela ainda contou que Tainara é uma mulher trabalhadora e que ama dançar. “É uma menina divertida, gosta de deixar todo mundo feliz. É a minha filha, meu bebê. É trabalhadora, tem seus filhos. Eu fico olhando a alegria, a vontade dela”, desabafou a mãe.
À polícia, um amigo que estava no carro confirmou que Douglas atropelou Tainara, puxou o freio de mão e acelerou para tentar matá-la. Segundo ele, os dois namoravam, mas a vítima optou pelo término da relação. No relato, o amigo apontou que Douglas ficou enfurecido ao ver Tainara conversando com outro rapaz. Logo, uma discussão começou e o motorista jogou o carro em cima dela.
“Eu comecei a gritar. Falei: ‘Atropelou a menina’. Ele pegou e começou a cantar em cima dela, e ela começou a se bater”, descreveu outra testemunha. Tainara teve as duas pernas amputadas, passou por mais três cirurgias e continua internada na UTI do Hospital das Clínicas. Ele está sedada e em estado grave.
“Quando eu vi aquela cena… Eu já chorei muito. Ela é forte, ela está se recuperando, se recuperando assim devagarzinho, aos poucos”, atualizou Lúcia. Douglas, por sua vez, fugiu sem prestar socorro, mas foi preso no dia seguinte. Ele responde por tentativa de feminicídio.
O homem já havia sido preso em 2023 por portar uma pistola 9mm. Em junho deste ano, ele firmou um acordo com a Justiça, confessando o crime para obter o benefício. Cinco meses depois, descumpriu o trato e cometeu o atropelamento que deixou Tainara gravemente ferida.
“Eu vou ser as pernas dela agora. Ela tem muito amor, vai ter muito carinho da gente, das amigas, dos familiares. Ela vai ser feliz de novo”, afirmou a mãe da vítima. “Hoje foi a Tainara, amanhã a Evelyn, amanhã a Edna, amanhã a Maria, né? Gente, isso tem que mudar!”, concluiu ela.
A defesa de Douglas alegou que eles não se conheciam, que a briga do seu cliente era com o amigo de Tainara e que ele vai provar isso na Justiça.

Índice de feminicídio no Brasil
O feminicídio atingiu sua alta histórica no ano passado, com a marca de 1.492 casos. Em média, quatro mulheres são assassinadas por dia apenas pela condição de ser mulher. Geralmente, os principais agressores são companheiros e ex-companheiros. O recorde aconteceu no mesmo ano em que a pena ficou mais severa, definindo uma condenação de até 40 anos de prisão.
“A gente está vivendo uma escalada nos casos de violência contra a mulher, de forma mais específica com relação ao feminicídio. A gente não tem mais nenhum tipo de barreira para a violência física. Ela é feita com requintes de crueldade. Não basta matar a mulher. Eu preciso humilhar, eu preciso subjugar, eu preciso colocá-la numa situação de completa violação de direito”, analisou Juliana Brandão, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Para Cármen Lúcia, ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), a Justiça precisa atuar com urgência no combate à violência contra a mulher. Ela também defende a criação de uma rede que unifique esforços e ofereça apoio efetivo às vítimas.
“Para que a gente previna e acolha mulheres vulnerabilizadas, previna crimes ilícitos praticados contra as mulheres, todos os tipos de violência. Por exemplo: se uma mulher é agredida e não tem um espaço de acolhimento, ela tende a voltar para a casa e, às vezes, a agressão é maior. Com isso, ela fica com medo de denunciar e fica submetida permanentemente às violências”, explicou.
Assista à íntegra:
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