Os pais de Ana Clara Benevides Machado, jovem de 23 anos que morreu durante o show de Taylor Swift no Rio de Janeiro, falaram sobre a perda repentina da filha. A mãe dela, Adriana Benevides, se emocionou na entrevista com o “Fantástico” exibida neste domingo (19), ao recordar da jovem.
Adriana está em Mato Grosso do Sul, onde a família reside, e conversou com a repórter Renata Ceribelli por uma videochamada. “Minha filha é o meu anjo. Deus a levou, mas levou ela no momento mais feliz da vida, que era só o que ela queria, era isso. ‘Mãe, se eu não conseguir ir nesse show, eu morro’, ela falou pra mim”, recordou ela, aos prantos.
Ana Clara criou um grupo no WhatsApp com os pais, que são separados, para que ambos acompanhassem sua viagem ao Rio de Janeiro. Ela registrou os momentos de decolagem, sua chegada na cidade carioca e alguns pontos turísticos. A estadia dela, entretanto, preocupou a família. “Eu falei: ‘Filha, é tão longe daqui. A gente não conhece ninguém lá. Aí ela falou: ‘Mãe, é o show da minha vida’. E eu: ‘Tá bom, minha filha. Vai para o show da sua vida, vai ver sua loira (Taylor)’. E ela foi, planejou tudo”, contou Adriana.
A mãe da jovem disse ainda que sempre pedia que ela se alimentasse e hidratasse bem devido ao calor. “Ela disse: ‘Mãe, eu vou comer bastante barrinha de cereal, porque eu vou ficar muito tempo lá. Eu quero ser a primeira da fila. Eu quero ficar pertinho dela, mãe’. Falei: ‘Vai, minha filha. Você vai conseguir'”, descreveu a conversa.
O pai de Ana Clara, José Weiny Machado, também destacou os cuidados que pediu para a filha ter. De imediato, ele admitiu ter ficado com receio da viagem por conta da violência no Rio de Janeiro. “[Estava com] total receio. Por ser uma cidade até então desconhecida pra ela, uma cidade perigosa. Sempre pedia para ela não aceitar nada de ninguém, principalmente bebida”, explicou.
José esclareceu à reportagem que o último contato com a filha foi feito quase 10h. Após isso, por volta das 19 horas, ele recebeu a ligação da amiga de Ana que a acompanhou para assistir ao show. “Eu estava do lado da minha esposa, até falei: ‘Deu ruim’. Eu saí andando pela rua. Eu fiquei atônito, não sabia o que fazer, tentando não acreditar. Como até agora eu tento não acreditar”, confessou.
Adriana Benevides lembrou o contato que fez com o médico responsável pelo atendimento de Ana Clara. “Ele me mandou mensagem, falando que não era trote. Mandou foto da amiga dela. Aí eu liguei e o médico falou que o atendimento foi rápido, que tentaram reanimar ela por mais de vinte minutos”, informou.
Calor extremo
A amiga Daniele, que estava com Ana Clara, disse ao “Fantástico” que elas chegaram na fila do show por volta de 11 horas da manhã. “A gente era pacote VIP, você podia entrar um pouco antes. Abriu por volta das 15 horas, então a gente ficou 4 horas na fila. E aí, depois do estádio, até umas 18h30”, salientou. “Estava todo mundo suando. Aí, antes de começar o show, algumas pessoas já saíram mal. Não chegavam a desmaiar, mas eles carregaram. Outras saíram meio cambaleando”, acrescentou ela.
O respectivo dia da morte de Ana Clara Benevides foi um dos mais quentes na cidade carioca. Os termômetros marcaram 40°C e a sensação térmica alcançou quase 60°C. Outras mil pessoas desmaiaram durante a apresentação de Taylor, que pediu à equipe para distribuir água aos fãs.
Na sequência, Daniele recordou os últimos momentos ao lado da amiga. Ela disse que as duas se alimentaram apenas com barras de cereal e água. Foi durante a segunda música apresentada pela cantora, o hit “Cruel Summer”, que a jovem viu Ana Clara caindo. “A gente estava pulando, feliz, e ela caiu. Ela foi caindo em cima das pessoas. Aí eu não sei como eu tive força, botei ela por cima da minha perna e eles puxaram para o outro lado da grade. Eu pulei atrás dela e a gente correu para o postinho. Eu vi a médica falando que era código azul já, que ela não tinha mais pulso”, relatou a amiga.
Daniele foi até a emergência do hospital com Ana Clara. Lá, o médico lhe disse que a situação era grave e que precisava do contato da família da paciente. “Aí eu entrei em desespero. Quando o médico falou com o pai da Ana, eu acho que a minha ficha caiu de que ela não ia mais voltar”, desabafou.
Translado do corpo
Agora, além do luto, a família de Ana tem que lidar com a espera pelo traslado do corpo da filha. O corpo dela segue no IML do Rio de Janeiro, aguardando o resultado da causa da morte. Segundo os pais, a Time For Fun, empresa responsável pelo evento, ofertou a eles apenas assistência psicológica.
“Isso é o que mais dói. Desde sexta-feira (17), ela está lá. O pessoal do show, que montou, não está dando suporte pra gente trazer ela pra casa. Sei que essas coisas nem passam pelos cantores, os artistas nem ficam sabendo disso. Mas a gente queria que eles dessem o suporte, para trazer ela pra casa. Porque, infelizmente, a gente está arcando com tudo. E a minha filha ainda não chegou”, apontou Adriana.
José Weiny disse que não sabe o que causou a parada cardiorrespiratória em Ana Clara. A Polícia Civil informou, em nota, que o laudo final ficará pronto em 30 dias. Agora, o pai só quer saber o motivo da morte da filha. “No laudo está inconclusivo. Aparece: aguardando resultados laboratoriais. Eu mesmo nunca tinha visto”, comentou.
“Todo mundo sabe que houve vários desmaios. Uma quantidade até excessiva. Por quê? Toda a prefeitura tem uma assistente social. Eles poderiam vir, não sabem as minhas condições”, encerrou o pai. Em comunicado, a prefeitura do RJ respondeu: “A responsabilidade por fatos ocorridos dentro do Estádio Nilton Santos é da organização contratada para realizar os shows”.
De acordo com o g1, o corpo de Ana Clara Benevides deve chegar em Campo Grande (MS) às 19h desta segunda-feira (20), e será velado na câmara de vereadores de Sonora, interior do estado. Saiba mais detalhes do caso, clicando aqui.
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