Hugo Gloss

Médico é indiciado por lesões em paciente durante procedimentos estéticos em SC

Um cirurgião plástico que atua em Florianópolis, Santa Catarina, foi indiciado pela Polícia Civil por lesão corporal gravíssima, nesta segunda-feira (14). Marcelo Evandro dos Santos é acusado de realizar procedimentos estéticos que resultaram em graves complicações para várias pacientes, incluindo queimaduras, necrose, perda de tecido e outras sequelas. Caso condenado, ele pode receber uma pena de até cinco anos de prisão.

O caso mais recente envolve a neuropsicopedagoga Letícia Mello, que relatou consequências severas após passar por uma série de cirurgias estéticas. Em entrevista à NSC TV, Letícia contou que buscou o cirurgião em janeiro deste ano para trocar as próteses de silicone e obter informações sobre uma técnica de lipoaspiração. No entanto, segundo ela, o médico sugeriu outros procedimentos adicionais, incluindo a remoção de flacidez abdominal e intervenções nas pernas e glúteos.

“Disse que poderia tirar a flacidez da barriga. Logo em seguida já tocou no meio das minhas pernas, falou que também poderia ser possível tirar essa flacidez que a academia não tira, e que eu tinha uma depressão lateral. Eu fui para procurar um procedimento, acabei sendo encantada por vários outros. Não fui avisada dos riscos que teriam, da quantidade de horas e procedimentos”, relatou.

Paciente teve queimaduras por todo o corpo (Foto: Reprodução/NSCTV)

Ela explicou que, no dia da cirurgia, foi submetida a 12 intervenções, somando 10 horas no centro cirúrgico, durante as quais foram retirados sete quilos de gordura. Após a operação, Letícia enfrentou complicações de saúde. Ela permaneceu 11 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada. “O lado direito paralisado e comecei a ter muita dificuldade com respiração. Recebi seis bolsas de sangue e fiquei muito mal, muito debilitada, muito fraca”, contou a paciente. Além disso, seu corpo começou a apresentar queimaduras e bolhas, que evoluíram para necrose. “Eu fiquei 20 dias ali, praticamente necrosando”, detalhou.

Após receber alta, a vítima denunciou o caso à Delegacia-Geral da Polícia Civil de Santa Catarina. De acordo com o delegado-geral Ulisses Gabriel, a investigação constatou que o tempo de cirurgia e a quantidade de gordura removida ultrapassaram os limites seguros. “O delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima”, afirmou Gabriel.

O caso gerou grande repercussão, com mais pacientes relatando problemas após cirurgias realizadas pelo médico. Uma funcionária de um dos hospitais onde ele operava, que preferiu não se identificar, revelou que era comum as pacientes de Santos serem encaminhadas diretamente para a UTI após as cirurgias, o que não ocorria com outros profissionais.

Letícia denunciou médico (Foto: Reprodução/NSCTV)

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) também abriu uma investigação nesta terça-feira (15) para avaliar a conduta do cirurgião e identificar outras possíveis vítimas. O órgão informou que o inquérito não se limitará ao caso de Letícia, mas analisará a atuação do médico em outros procedimentos. Até o momento, ele não se pronunciou oficialmente sobre o indiciamento. Já Letícia afirmou que está fazendo acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Histórico de Processos e Condenações

Além de Letícia, outras pacientes também enfrentaram sérias complicações. A auditora de saúde Andréa Pieper passou por duas cirurgias com Marcelo em 2022 – lipoaspiração e mamoplastia. O procedimento durou mais de 12 horas e deixou a paciente com uma grave infecção, resultando na perda da mama esquerda e da prótese da mama direita. Ela passou 10 dias na UTI e relatou que o médico não atendeu aos seus pedidos de assistência durante o período.

De acordo com o g1, Marcelo Evandro dos Santos já havia sido processado anteriormente por pacientes insatisfeitas. Ao menos sete processos de indenização por dano moral foram movidos contra ele em Santa Catarina e no Paraná, com quatro condenações.

O portal ainda apontou que o profissional já enfrentou a Justiça na área civil. No caso mais grave, o médico foi responsabilizado pela morte de uma paciente após uma lipoaspiração, ocorrida em 2021. A sentença de condenação mencionou propaganda enganosa sobre sua especialidade e negligência no atendimento, além de operar em condições inadequadas.

Outras pacientes também foram afetadas (Foto: Reprodução/NSCTV)

O Que Diz o Conselho de Medicina

O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina informou que há uma sindicância aberta para investigar a conduta do médico, mas que não pode se manifestar sobre processos em andamento. O CRM do Paraná também declarou que não pode comentar os casos, mas confirmou que o cirurgião está regularmente inscrito nos conselhos de ambos os estados.

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