Wesley Timana Yovera, conhecido como “doutor Cegonho” nas redes sociais, virou réu em um processo criminal por lesão corporal contra uma mãe e seu bebê após complicações no parto. Larissa Elias Cardoso Martins e Leandro Nogueira Martins esperavam o segundo filho, Luca. No “Fantástico” deste domingo (6), o casal relatou o ocorrido, em 2022, e apontou falta de profissionalismo do médico.
Wesley é ginecologista e obstetra, e atendia em Curitiba e São Paulo. Ele ficou conhecido pelos vídeos descontraídos na internet, divulgando ações de marketing sobre seu trabalho. Foi através destas publicações, que Larissa e Leandro decidiram procurá-lo. “Ele fazia um marketing de sonho, com muitos mimos, muitos agrados e isso acabou nos envolvendo, de certa forma”, contou a mãe.
Complicações no parto
Conforme o casal, todos os exames pré-natais indicavam que o bebê estava saudável. Larissa começou a sentir contrações na véspera da Páscoa, mas o trabalho de parto se estendeu por 27 horas. Na reta final, ela disse que sentia “dores insuportáveis”. “Eu falei: ‘Olha, Wesley, deu. Chega. Eu conheço a Larissa, ela está muito fraca. Acho que é hora de fazer uma cesárea'”, recordou Leandro.
Ele também descreveu uma cena que acabou presenciando. “Eu estava no banheiro e comecei a escutar umas risadas vindas do quarto. Quando eu abri a porta do banheiro , ele estava fazendo aquelas barras de pilates, se pendurando ali e a equipe dando risada. Aquilo ali, pra mim… É chocante”, disse.

Durante o longo período do parto, Larissa explicou que Wesley tentou identificar os batimentos cardíacos de Luca, mas não teve êxito. Em seguida, o médico usou o fórceps, sem aplicação de anestesia, para retirar o bebê. “Eu não consigo nem dizer que foi um nascimento. O Luca foi levado imediatamente para UTI neonatal em parada total, sem nenhum batimento cardíaco”, pontuou.
O obstetra, por sua vez, alegou que o casal não pediu que a cesárea fosse realizada. Ele salientou que a indicação do fórceps foi feita na tentativa de salvar o bebê. “A cesárea leva tempo. Até anestesiar, até fazer, ia levar uns 15 minutos. Esse bebê ia a óbito”, argumentou ele ao dominical.
Wesley também se pronunciou sobre as complicações após o parto. Segundo ele, houve demora até o recém-nascido ser atendido pela pediatria do hospital, pois não tinha leito pronto para uma situação de emergência. “Quando ela (Larissa) entrou na UTI, também não tinha leito pronto. Eu não estou me eximindo de culpa, tá? Eu até acho válido que o CRM investigue, que o Ministério Público investigue. Por quê? Porque tem coisas mesmo que precisam ser avaliadas”, salientou.
O médico acrescentou que o hospital não disponibilizou o equipamento que registra a frequência cardíaca do bebê. O aparelho de ultrassom também não funcionava bem, conforme Yovera. Ele reconheceu que ambas as informações deveriam ter sido mencionadas no prontuário: “Devia ter colocado”.
Sequelas e denúncia
Luca ficou 91 dias internado na UTI. A família contou que ele sofreu uma lesão extensa no cérebro e foi diagnosticado com paralisia cerebral grave, decorrente de sofrimento fetal prolongado. “Luca é uma criança de 3 anos que nunca atingiu nenhum marco de desenvolvimento. Ele não chora. Ele não sorri”, lamentou a mãe.

O Ministério Público do Paraná denunciou o médico por lesão corporal contra Larissa e Luca, afirmando que ele “demorou excessivamente para realizar o parto, que teria causado as sequelas neurológicas permanentes no bebê”. A mãe também teve complicações graves após o nascimento do filho.
Ela foi liberada pelo hospital, mas três dias depois voltou a passar mal. Os exames revelaram que Larissa estava com uma rotura uterina ativa (quando a parede do útero se rompe parcial ou completamente) e hemorragia interna. “Meu útero estava aberto há oito dias desde o parto, sangrando”, contou.
Ela foi encaminhada para uma cirurgia de emergência, enquanto o Ministério Público acusou Wesley de negligência. O Hospital e Maternidade Brígida reforçou que o médico “nunca fez parte do corpo clínico, que instaurou uma auditoria interna rigorosa e comunicou o caso ao Conselho Regional de Medicina (CRM)”.
O obstetra destacou que manteve contato com Larissa e pediu que os exames necessários fossem feitos. Em nota, o advogado dele declarou que a denúncia “foi formulada sem que o Dr. Wesley fosse previamente ouvido, impossibilitando o médico de apresentar sua versão dos fatos” e que serão fornecidas “provas periciais e documentais que demonstrarão a correção da conduta médica adotada”.
Além da queixa criminal, recebida no início de junho, Wesley também responde a dois processos ético-profissionais no Conselho Regional de Medicina do Paraná. No caso de Larissa, ele é investigado por “causar dano ao paciente, por ação ou omissão” e por indícios de imprudência ao retardar a indicação da cesárea.
O CRM informou que, caso seja comprovada alguma infração ética, o médico poderá sofrer uma advertência ou até a cassação do exercício profissional. “Não [tenho medo]. Eu fui acusado, não quer dizer que eu sou culpado”, defendeu-se.
Em contrapartida, Larissa e Leandro afirmam buscar justiça para evitar que outras pessoas tenham uma experiência semelhante. “Ele é nosso menino, muito amado, tem uma irmã que é apaixonada por ele“, concluiu o pai. “Eu espero que o Luca seja um caminho para mudar a história de outras pessoas. Que ele tenha uma vida feliz, dentro das limitações dele”, desejou a mãe.
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