Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, três dos cinco suspeitos pelas mortes dos três meninos de Belford Roxo, Rio de Janeiro, também foram assassinados pelo chamado “tribunal do tráfico”. Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique, de 12, desapareceram em dezembro de 2020 e a grande repercussão do caso teria feito com que a cúpula da facção criminosa CV (Comando Vermelho) decidisse tirar a vida dos supostos envolvidos.
As investigações apontam que as crianças foram mortas após furtarem o passarinho de um tio do traficante Wiler Castro da Silva, mais conhecido como Estala. Os garotos ainda teriam sido submetidos à uma sessão de tortura na comunidade Castelar, onde moravam, na Baixada Fluminense. Os corpos dos três ainda não foram encontrados.
O crime teria sido autorizado por Edgard Alves de Andrade, o Doca, e José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha, ambos chefes do tráfico na comunidade, segundo as autoridades. Conhecida como Tia Paula, a traficante Ana Paula da Rosa Costa, também estaria envolvida. Ela sabia do crime e teria escondido os corpos.
Tirando Doca, que está foragido, a polícia acredita que os outros traficantes tenham sido assassinados por decisão da cúpula do CV. Segundo as investigações, Estala teria sido o primeiro morto. Em 25 de agosto, o criminoso foi convocado para uma reunião com os chefes da facção criminosa na Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio. Lá, o homicídio aconteceu.
Em outubro, por volta do dia 6, foi a vez de Tia Paula. Pouco tempo depois, no dia 9 de outubro, Piranha também foi assassinado, após perder a liderança das comunidades que comandava, de acordo com os policiais. No dia anterior, um corpo carbonizado havia sido encontrado em um carro em Belford Roxo. A Polícia Civil investiga se era Leandro Alves de Oliveira, o traficante Farol, também do Castelar. Não se sabe se ele teria alguma ligação com a morte das crianças.
Já em 7 de novembro, mais um corpo carbonizado foi encontrado. Os oficiais acreditam poder se tratar de Wagner Costa Teixeira, o Guil, irmão de Tia Paula. Também não há informações de que ele esteja envolvido no caso dos três meninos.
Processo criminal
Apesar da Polícia acreditar que Estala, Piranha e Tia Paula estejam mortos, eles são tratados como vivos no processo criminal, já que não foram encontrados corpos nem provas concretas dos homicídios. Segundo o UOL, o delegado Uriel Alcântara, da DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense), disse que investigações estão em busca dessas evidências. Se forem encontradas, as acusações contra os três serão retiradas.
Existe ainda um quinto traficante suspeito de ter participação no caso dos garotos. Ele já está preso e não teve a identidade revelada. Enquanto isso, um sexto homem responde em liberdade pela ocultação dos cadáveres dos meninos. As investigações apontam que Victor Hugo dos Santos Goulart, o VT, que tinha o papel de gerente-geral na comunidade, tentou fugir da sanção da cúpula do CV.
Áudios interceptados pela Polícia Civil trazem mensagens em que um traficante diz que VT é um “otário” e um homem de sorte “pois iria morrer pelos traficantes” e revela que ele “meteu o pé porque viu que estava morrendo geral no tribunal do tráfico“.
Em outro áudio, uma voz feminina conta que o rapaz se entregou às autoridades para não ser executado. Ele foi preso no dia 9 de novembro, mas a polícia não informou qualquer envolvimento do criminoso no caso dos meninos.
“Sabemos que [os corpos das crianças] foram jogados no rio, nós diligenciamos em três locais distintos, mas o lapso temporal torna uma diligência em busca dos corpos inviável [em alguns pontos]. As buscas pelos corpos não estão encerradas. Qualquer informação que a gente tenha, vai analisar“, afirmou Uriel Alcântara.