Após o sargento da Marinha, identificado como Aurélio Alves Bezerra, ser preso em flagrante por atirar três vezes e matar seu vizinho, a Justiça do Rio de Janeiro decidiu que ele responderá por homicídio doloso – quando se há intenção de matar. A vítima, Durval Teófilo Filho, de 38 anos, chegava do trabalho quando foi atingido na barriga pelos disparos. As informações são do UOL.
A decisão causa uma reviravolta no caso, já que, inicialmente, a Polícia Civil considerou o crime como homicídio culposo, ou seja, sem intenção de matar. A prisão de Aurélio, até então temporária, também foi convertida em preventiva, por decisão da juíza Ariadne Villela Lopes. Segundo ela, “a medida é necessária para a garantia da ordem pública e para a conveniência da instrução criminal, e não em razão de pressão ou clamor social“.
À polícia, o atirador disse ter confundido o rapaz, que era negro, com um bandido. No depoimento, obtido pela publicação, o sargento afirmou que atirou “para reprimir a injusta agressão iminente que acreditava que iria acontecer” e que, “por seu automóvel ter película escura nos vidros e estar chovendo, não conseguiu ver com precisão o que Durval estava segurando“.
Durval Teófilo Filho foi enterrado nesta sexta-feira (4), no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo, no Rio. De acordo com o UOL, a viúva Luziane Teófilo estava bem abalada e questionou a decisão inicial da Polícia Civil. “Muito obrigada, senhor Aurélio, por destruir a minha vida, da minha filha, da minha família. Estou aqui sangrando. Ele não deu chance de o meu marido viver. Eu não vou te perdoar. Isso não foi engano, foi uma covardia, foi racismo, foi despreparo, mas ele vai pagar”, desabafou.
“Falar que não foi intencional? Estou enterrando meu marido por causa da imprudência dele. Eu espero que o senhor esteja feliz. E agora, é o senhor que vai levar ela para escola? É o senhor que vai contar história para dormir? Ela chamava o Durval de super-herói e tinha o melhor pai do mundo”, lamentou.
Na cerimônia, amigos e familiares pediram por justiça, enquanto seguravam cartazes com os dizeres “Vidas negras importam” e “Queremos Justiça por Durval“.
Relembre o caso
A tragédia ocorreu na quarta-feira (2), em frente a um condomínio na Rua Capitão Juvenal Figueiredo, no bairro do Colubandê, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Registros feitos por câmeras de segurança mostram como tudo aconteceu. Durval, que trabalhava em uma rede de supermercados, aguardava a mulher para abrir o portão de casa, já que seu controle remoto estava sem pilhas. Estacionado em um carro ali próximo, estava Aurélio.
Em um determinado momento, Teófilo mexeu em sua mochila e foi caminhando para perto do veículo. O sargento da Marinha então fez o primeiro disparo. Logo em seguida, saiu do carro e atirou mais duas vezes. Durval acenou com a mão, já caído no chão, e informou que era morador do condomínio. Aurélio socorreu o vizinho e o levou até o Hospital Estadual Alberto Torres, na mesma região, mas ele não resistiu.
O corpo da vítima foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Tribobó. Segundo laudo, a causa da morte foi hemorragia interna produzida por projétil de arma de fogo. Durval deixa a mulher e uma filha, de 6 anos. O sargento, por sua vez, foi preso em flagrante por policiais da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, e indiciado, incialmente, por homicídio culposo. Em depoimento, Aurélio alegou que a região onde o caso ocorreu registra constantes assaltos, e que ele teria agido em “legítima defesa”.
Em entrevista ao “Jornal Nacional”, a esposa de Durval, Luziane Teófilo, lamentou a morte do companheiro e disse estar sendo alvo de ameaças. “Mesmo ele falando que era vizinho, ele foi assassinado. Ele era preto, mas ele era trabalhador. Ele não merecia morrer desse jeito”, afirmou. Fabiana Teófilo, irmã da vítima, também se manifestou.
“A vida dele era para a filha dele. E agora? Como é que vai explicar para essa criança onde está o pai dela? Que alguém tirou a vida dele porque achou que o pai dela fosse vagabundo, sem ter nada na mão? Será que se fosse um branco andando e mexendo na mochila, tinham atirado três vezes? E ele falando que era morador do condomínio? Será? Eu duvido. Mais um preto morto e vai ficar por isso mesmo? A justiça tem que ser feita”, declarou.