Um caso que aconteceu em 8 de junho de 2022 ganhou uma guinada na investigação. No Fantástico” deste domingo (24), foram reveladas imagens das câmeras de segurança que registraram a morte da advogada Carolina Magalhães. Conforme a reportagem, ela caiu do oitavo andar de um prédio em Belo Horizonte, Minas Gerais, por volta das 23h10 da noite.
Inicialmente, o episódio foi tratado como suicídio. Dois anos depois, porém, houve uma reviravolta. O namorado de Carolina, Raul Rodrigues Costa Lages, que também é advogado, foi acusado de homicídio triplamente qualificado. Ele espera o julgamento em liberdade.
A hipótese de suicídio não fazia sentido para a família e amigos da vítima. “A gente nunca teve dúvida alguma de que não se tratava de um suicídio”, disse Lucas Magalhães, filho da advogada. “Ela era uma pessoa maravilhosa, que só trazia coisas boas pra todo mundo que estava por perto dela”, declarou o outro filho, Vitor Magalhães.
Segundo o irmão de Carolina, o advogado Demian Magalhães, ela estava no relacionamento com Raul pois “gostava do conto de fadas, de compartilhar afeto”. Demian também começou a recolher provas logo após o crime e o laudo de suicídio.
Relação abusiva
Conforme os filhos da vítima, ela começou a se afastar dos amigos depois de engatar o namoro com Raul. Foi então que os primeiros sinais de um relacionamento abusivo surgiram. “Ele conseguiu com que ela bancasse a vida financeira dele. Até mesmo a academia que ele fazia, era a Carolina quem pagava”, informou a delegada Iara França Camargos.
A advogava chegou a desabafar com as amigas sobre a situação. “Eu não quero mais contato com ele, não. Eu tô cansada de ameaça, e tudo ele fala comigo em tom de ameaça”, teria dito ela em uma mensagem. Porém, as supostas agressões verbais passaram a ser físicas também. “Ela me contou que eles tiveram uma briga e ele segurou ela pelo pescoço”, relatou uma amiga de Carol.
Pessoas próximas à vítima, incluindo seus próprios filhos, disseram que a advogada era perseguida por Raul após terminar a relação repetidas vezes. Carolina, então, saiu fugida para o México, onde encontrou algumas amigas. “Ela me falou: ‘Eu vim fugida pra cá para o México, porque ele estava me perseguindo ao extremo. E eu não consigo terminar, porque ele não deixa eu terminar”, recordou uma moça.
Versões do crime
A vítima retornou da viagem após 10 dias e se reconciliou com Raul. Ela ainda teria descoberto uma possível traição por parte dele, ocasionando mais uma briga. “Acho que ela descobriu uma traição dele e pediu que ele pegasse suas coisas. E nesse momento, ele apontou o dedo pra ela e a ameaçou. Falou que ele ia acabar com a vida dela”, narrou a amiga Lourença Fernandes Tameirão.
Carolina morreu dias depois, e Raul foi a última pessoa a vê-la com vida. A versão dada por ele à Polícia Militar, de que a mulher teria se jogado do apartamento, passou a ser investigada por Demian. “Na noite do crime, a polícia não foi até a portaria onde fica a tela com o gravador das câmeras para pedir acesso. No dia seguinte do falecimento dela, eu fui à portaria do prédio e pedi esse acesso. Essa foi a primeira vez que a gente viu a sequência dos fatos, e viu que a versão que ele tinha apresentado não batia com a realidade”, contou.
Imagens das câmeras
Imagens de câmeras de segurança do condomínio de Carol mostram ela e Raul entrando no elevador às 19h31. Uma hora depois, o homem desce de bermuda e camiseta para pegar comida, e volta em cinco minutos. Às 21h11, Lucas e Vitor (filhos de Carolina) deixam o apartamento da mãe para assistir a um jogo de futebol em um bar perto de casa.
Já às 23h10, é possível ver que o sensor da câmera da área de lazer do prédio acende. Um minuto depois, o porteiro vai até o local e se assusta ao ver o corpo no chão, de acordo com a reportagem. Por volta das 23h14, quando Carolina já estava morta, o elevador, que estava parado na portaria, é acionado para o 8º andar.
Neste instante, Raul Lages é filmado entrando com as roupas trocadas, de terno, com uma mochila e duas sacolas, aparentemente pesadas. Ele vai em direção à portaria e ao tentar sair do prédio encontra o porteiro desorientado, que o leva até o local onde o corpo está caído. Cerca de um minuto depois, o homem sai falando ao celular, coloca as sacolas no porta-malas do carro estacionado na rua e vai embora.
Uma ambulância chega ao condomínio para atender à ocorrência, quando Raul estaciona o carro e decide retornar ao local. Às 23h20, os dois filhos da advogada entram no prédio e se desesperam ao saber da morte da mãe.
Para a polícia, Raul teve tempo suficiente para tentar esconder o cenário de violência. Ele trocou a roupa de cama, passou pano para tirar as manchas de sangue e esconder os sinais de violência, e colocou tudo pra lavar. O suspeito também recolheu todas as roupas dele que estavam no apartamento e ainda pegou o pedaço cortado da tela de proteção, jogou na lixeira e guardou a tesoura na gaveta da cozinha.
“Todos esses elementos demonstraram claramente que, primeiro, ele não estava dentro do elevador quando o corpo veio ao solo e, segundo, houve sim uma briga ali, houve uma agressão física cometida por ele, ele chegou a arremessar a cabeça dela ao solo no chão. Em razão dessa agressão, não foi possível determinar se ela faleceu naquele momento ou em razão da queda, porém sabe-se que no mínimo ela desmaiou com aquela queda e então ela foi jogada pela janela da sala”, afirmou a delegada do caso.
Uma vizinha também confirmou à polícia que naquela noite “ouviu passos rápidos vindos do apartamento de Carolina, seguidos de um barulho muito forte no chão da sala. Um estrondo que a fez levantar-se assustada. Dez minutos depois, ouviu um segundo barulho. Algum tempo depois chegou a notícia de que Carolina havia caído”.
Outro morador descreveu uma discussão, em que uma voz feminina disse: “Vai. Eu não preciso mais te aguentar, aguentar isso ou aguentar você”. O comportamento de Raul ao ver o corpo da namorada também causou estranheza. Já o porteiro Rubens Brito disse que o advogado agiu com frieza ao ver o corpo da vítima caído no chão.
Para a família, Raul Lages poderia ter sido preso em flagrante no próprio condomínio, se a Polícia Militar tivesse solicitado as câmeras de segurança do prédio e vistoriado as sacolas. “Ele estava em estado de flagrância, ele não tinha saído da cena do crime. Ele teria saído de lá preso e estaria respondendo [pelo caso] preso”, salientou o irmão de Carol.
Em nota, a PM de Minas Gerais declarou que “todas as informações colhidas, preliminarmente, no local do fato, foram registradas em boletim de ocorrência e encaminhadas à Polícia Civil para as devidas apurações e providências cabíveis”. O advogado de Raul Lages, por sua vez, afirmou que seu cliente é inocente e insiste que o caso foi suicídio. As investigações ainda constataram que o suspeito tem um histórico de violência contra mulheres.
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