Albino Santos de Lima, conhecido como o “serial killer de Alagoas”, foi preso no dia 17 de setembro, após uma investigação da Polícia Civil. Desde então, o caso ganhou repercussão, revelando histórias de pessoas que cruzaram o caminho do criminoso, como uma vizinha que afirmou ter sido perseguida por ele. Albino confessou oito homicídios e é suspeito de outros dez.
Ana (nome fictício), uma das vítimas de perseguição, contou ao UOL que o pesadelo começou em 2021, quando teve seu número de celular inserido em um grupo de WhatsApp voltado para o compartilhamento de pornografia. Após ter seu contato divulgado em um canal chamado “Putaria 100%”, Ana começou a receber mensagens de desconhecidos com propostas sexuais.
Na época com 24 anos, Ana acreditava que a inclusão no grupo havia sido acidental. “Eu não tinha inimizade, então não tinha ninguém em mente que poderia ter raiva de mim para colocar meu nome desse jeito”, pontuou.
Mesmo saindo dos grupos e bloqueando os contatos, as mensagens persistiram. Dias depois, Ana começou a notar um detalhe incomum: entre os números que faziam parte desses grupos, havia um com DDD de Alagoas. Ao investigar, descobriu que o responsável por inserir seu contato era Albino, seu vizinho. Ele havia salvo o número dela com a descrição “puta vadia” e usado isso para divulgá-lo.
Ana e Albino frequentavam a mesma igreja, e foi por meio de um grupo da comunidade religiosa que ele conseguiu o contato dela. “Mostrei até aos meus pais, estava claro que era para puxar assunto, porque a informação que ele queria tinha no cartaz do evento [da igreja]. Eu ignorei”, contou Ana, referindo-se a uma mensagem privada que recebeu do vizinho no WhatsApp.
Mesmo sem resposta, Albino continuou tentando contato, mencionando-a no grupo da igreja. Paralelamente, Ana descobriu que ele usava três perfis falsos no Instagram, onde divulgava mensagens de ódio político e religioso, além de apoio a Israel, Rússia e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Eu bloqueei todos após isso”, afirmou.
A perseguição afetou profundamente Ana, que começou a viver com medo constante. A situação foi denunciada às autoridades, mas Albino alegou que seu celular havia sido clonado, o que não foi comprovado. Após o episódio, ele foi orientado a manter distância dela e da igreja.
Com a prisão de Albino e sua confissão de crimes, Ana ligou os pontos: “Durante todo esse tempo, eu ficava com medo quando passava algum carro, quando parava um carro na porta, com vidro fumê. Eu não compartilhava nem com os meus pais, mas eu ficava pensando: e se for alguém que ele mandou me matar? Isso fica na cabeça da pessoa e ainda assim me sentia culpada, porque como eu posso sentir tanto medo por um cara que nunca chegou perto de mim, que nunca me ameaçou diretamente?”.
Os relatos da polícia indicaram que Albino escolhia e monitorava suas vítimas pelo Instagram. Ana acredita que as denúncias e os bloqueios a salvaram. “Minha mãe, com medo que acontecesse algo, contou para todos os vizinhos possíveis porque se algo acontecesse, saberiam que foi ele. E o fato de eu tê-lo bloqueado, também impediu dele me monitorar”, afirmou. “Eu sempre dizia que uma hora iam descobrir algo muito grave dele, porque era nítido. Ele sempre foi muito esquisito, impossível não ver que tinha algo de errado”, finalizou.
Defesa se manifesta
O advogado de Albino, Geoberto Bernardo de Luna, afirmou que o acusado justificou os homicídios como uma suposta “missão de justiceiro”, inspirada no personagem Charles Bronson dos filmes “Desejo de Matar”. “Ele disse que matava porque eram traficantes envolvidas com droga”, pontuou.
A polícia, entretanto, descarta essa versão e aponta que a motivação de Albino era uma obsessão por mulheres com um perfil específico. O advogado pretende solicitar um laudo psiquiátrico para avaliar a condição mental do cliente. “Se ele for doente, não pode ser punido, aí tem de ser internado em local próprio”, concluiu.