Na tarde deste sábado (10), uma mulher de 47 anos foi presa durante a motociata organizada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em Porto Alegre. Segundo relatos de testemunhas, a manifestante estava apenas batendo panela, em protesto ao governo do mandatário. No entanto, a Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul (SSP-RS) afirmou que o caso foi diferente.
O episódio foi registrado por volta das 12h, próximo aos cruzamentos entre a Avenida João Pessoa e a Avenida Venâncio Aires. De acordo com relato da SSP-RS, a manifestante não identificada teria ameaçado motociclistas que passavam, até que foi abordada por policiais e instruída a se afastar. “Apesar das repetidas tentativas das PMs de afastar a mulher, ela desobedeceu a ordem, desacatou as PMs que a abordaram, tentou chutar um dos motociclistas e manteve as ameaças de agressão”, declarou a organização no Twitter. Após o ocorrido, a mulher foi conduzida à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde assinou um termo e foi liberada.
Durante a manifestação de motociclistas pela Capital, por volta das 12h, um grupo de manifestantes contrários formou-se próximo aos cruzamentos entre as Av. João Pessoa e Av. Venâncio Aires.
— Segurança Pública/RS (@SSP_RS) July 10, 2021
Na web, o caso chamou atenção ao longo da tarde e, junto aos registros da apreensão da manifestante, internautas demonstraram sua revolta com a atitude da polícia. “ABUSO POLICIAL! Uma cidadã de Porto Alegre acabou de ser PRESA por bater panela, enquanto acontecia a motociata de Bolsonaro! Isso é um absurdo! É repressão ao direito de manifestação!”, declarou Matheus Gomes, vereador de Porto Alegre, também no Twitter. Confira alguns vídeos:
ABUSO POLICIAL! Uma cidadã de Porto Alegre acabou de ser PRESA por bater panela, enquanto acontecia a motociata de Bolsonaro!
Isso é um absurdo! É repressão ao direito de manifestação! Acabei de conversar com pessoas que presenciaram o fato e estamos vendo como auxiliar! pic.twitter.com/h2CtL2HBqe— Matheus Gomes (@matheuspggomes) July 10, 2021
A ditadura militar tentando se oficializar no Brasil. Mulher presa por protestar contra o genocida em Porto Alegre. via @laurasito #ForaBolsonaroGenocida #BolsonaroVaiCair pic.twitter.com/lN8oQfF02P
— Emerson Damasceno (@EmersonAnomia) July 10, 2021
Entre as reações às imagens, muitos pediram um posicionamento do governador local, Eduardo Leite (PSDB). “O governador Eduardo Leite PRECISA explicar o que houve. Agiram com sua autorização ao pisar na Constituição e no estado de direito? Se não foi, ele PRECISA fazer valer sua autoridade e punir os abusos rigorosamente. Antes que seja tarde”, disparou outro usuário da rede social.
O governador @EduardoLeite_ PRECISA explicar o que houve.
Agiram com sua autorização ao pisar na Constituição e no estado de direito?
Se não foi, ele PRECISA fazer valer sua autoridade e punir os abusos rigorosamente.
Antes que seja tarde.— EU ME IMPORTO 💞 (@GenariSandra) July 10, 2021
O político, por sua vez, usou seu perfil oficial para se pronunciar e afirmou que a manifestante cometeu desacato contra a polícia. “A Brigada Militar atuou hoje para garantir a ordem e a segurança a manifestantes de ambos os lados – como pode ser visto neste vídeo. No único incidente, diante de ameaças de agressão e desacato a policiais, uma manifestante foi contida e levada à delegacia”, começou o governador.
A Brigada Militar atuou hoje para garantir a ordem e a segurança a manifestantes de ambos os lados – como pode ser visto neste vídeo. No único incidente, diante de ameaças de agressão e desacato a policiais, uma manifestante foi contida e levada à delegacia. Segue o fio 🧵 pic.twitter.com/dh6sfBzY8e
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) July 10, 2021
Junto às declarações, o político publicou um vídeo, no qual a mulher detida pode ser vista, durante poucos segundos, no canto esquerdo da imagem, enquanto bate uma panela e protesta contra os motociclistas e apoiadores de Bolsonaro. Em momento algum o vídeo mostra a manifestante agredindo os policiais.
“Relatos são que a manifestante foi abordada e solicitada por diversas vezes a se afastar do leito da via, de forma a evitar acidente. Apesar das tentativas de afastar a mulher, ela desobedeceu a ordem, desacatou as PMs que a abordaram, tentou chutar motociclista e manteve ameaça”, acrescentou Leite.
Relatos são que a manifestante foi abordada e solicitada por diversas vezes a se afastar do leito da via, de forma a evitar acidente. Apesar das tentativas de afastar a mulher, ela desobedeceu a ordem, desacatou as PMs que a abordaram, tentou chutar motociclista e manteve ameaças
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) July 10, 2021
“A mulher foi contida por policiais femininas no local e conduzida à delegacia. Foi o único incidente registrado, onde evidências apontam que o recolhimento da manifestante foi justificado”, pontuou Leite. “Ainda assim a BM abrirá procedimento para apuração, em nome da transparência e rigor com os fatos”, concluiu.
A mulher foi contida por policiais femininas no local e conduzida à delegacia. Foi o único incidente registrado, onde evidências apontam q o recolhimento da manifestante foi justificado. Ainda assim a BM abrirá procedimento p/ apuração, em nome da transparência e rigor c os fatos
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) July 10, 2021
A cena também gerou reações por parte de políticos da oposição. O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou a situação como “um absurdo”. “A máquina repressiva bolsonarista, que atropela todos os direitos, inclusive o de manifestação, previsto na Constituição, está a todo vapor. Até quando?”, indagou.
ABSURDO – Mulher é presa após bater panela contra Bolsonaro em Porto Alegre, onde ele comanda mais uma "motociata" da morte. A máquina repressiva bolsonarista, que atropela todos os direitos, inclusive o de manifestação, previsto na Constituição, está a todo vapor. Até quando? pic.twitter.com/Ru7IT2QhcY
— Humberto Costa (@senadorhumberto) July 10, 2021
O episódio da manifestante acabou inspirando internautas a se unirem neste sábado, às 20h, para um panelaço em protesto ao governo de Jair Bolsonaro e à atitude da polícia.