Neste domingo (18), o “Fantástico” conversou com mulheres que acusam o ginecologista e obstetra Felipe Sá de abuso. O médico foi preso em Maringá, no norte do Paraná, após ao menos 15 denúncias. As vítimas detalharam os episódios em que se sentiram violadas e as atitude suspeitas do ginecologista. Após a repercussão, o advogado de Felipe se manifestou e chamou as denúncias de “infundadas”. O Conselho Regional de Medicina também emitiu uma nota sobre o caso.
Antes de ser detido, Felipe atendia em um bairro nobre da cidade. A psicóloga e sexóloga Fernanda Cassim contou que o médico foi indicado por outras pacientes e que ela acabou “atraída” pelo discurso do ginecologista sobre respeito às mulheres.
“Ele estava me examinando e ele tentou me estimular e eu imediatamente disse pra ele parar. Ele dizia: ‘você precisa relaxar’, ‘você precisa entender que o seu corpo pode te dar muito prazer’. E aí quando percebi que ele me estimulou, imediatamente eu afastei ele, sentei na maca e disse que aquilo não era um exame ginecológico. E aí ele falou que eu tinha que quebrar muitos tabus ainda, que aquilo não era o posicionamento de uma mulher empoderada”, lembrou.
Segundo Fernanda, ela só entendeu que se tratava de um abuso quando mais denúncias vieram à tona. “Me dei conta de tudo o que aconteceu depois que uma pessoa veio e me relatou um abuso ainda maior. E aí percebi que se eu não tivesse parado, ele teria continuado até o fim”, desabafou.
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Já a psicóloga Vivian Rafaela Prestes, outra vítima, afirmou que o médico relatou estar “excitado” durante uma consulta. “As consultas eram realizadas num sofá. Ele mostrou o resultado dos meus exames e ele começou a falar da parte sexual, de sexo oral. Falou do ‘pau’ dele, que ele estava com o ‘pau’ duro, enfim. Falou que os resultados dos meus exames estavam bons, então, eu estava ‘limpinha’. Em nenhum momento, eu achei que ele fosse assim”, disse. Segundo Vivian, ela não retornou ao consultório após o episódio, já que ficou “traumatizada” com o comportamento.
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Uma terceira mulher, que preferiu não se identificar, revelou que Felipe pediu 12 vezes para que ela levantasse a blusa. De acordo com as autoridades, a prática pode ser considerada importunação sexual. O ginecologista ainda teria sugerido uma hipnose para relações sexuais durante outra consulta.
“Ele pediu pra que eu fechasse os olhos, que eu me imaginasse num lugar paradisíaco, que eu gostasse, contou até dez, estralou os dedos. Mas em nenhum momento eu estava hipnotizada, eu estava em sã consciência. Ele falou: ‘Não, é sério. Se imagine tendo relações sexuais. Mas vamos fazer da seguinte forma, é a seguinte brincadeira: Você tem relações sexuais só com coisas que estejam dentro dessa sala”’, lembrou.
Em seguida, o médico teria insistido para que ela se “masturbasse”. “Ele foi insistindo, insistindo nessa conversa de eu ter que me masturbar, de eu me tocar, de eu tirar minha blusa, mostrar os meus seios para ele, porque qual que era o problema de ele me ver pelada, sendo que ele já me viu pelada e daí ele, de forma bem direta, perguntava assim: ‘Eu já não te vi pelada?'”, continuou.
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Em depoimento, uma das vítimas ainda disse que Felipe Sá introduziu a mão no canal vaginal dela e depois mudou a posição, passando a massagear o clitóris. Atualmente, ela não consegue ver as fotos do próprio parto, feito pelo ginecologista preso. “Hoje ver as fotos do parto e ter ele lá dói e está marcado pro resto da minha vida”, desabafou a mulher.
As investigações começaram em janeiro deste ano e devem continuar nas próximas semanas. Felipe Sá só será ouvido quando todas as vítimas prestarem depoimentos. Ele é acusado de crimes de violação sexual mediante fraude, importunação sexual e estupro de vulnerável.
“Ele utilizava esse expediente, esse universo de fragilidade feminina para supostamente praticar esses atos sexuais”, observou Dimitri Tostes Monteiro, delegado da Delegacia da Mulher de Maringá. Tostes também apontou que o médico não tem qualquer formação em hipnose. “A gente fez um estudo bem amplo sobre a vida acadêmica dele, a gente não achou qualquer curso de formação sobre a temática envolvendo hipnologia. A gente acredita que ele tentou utilizar esse artifício justamente pra facilitar o emprego dessa suposta prática criminosa”, disse o delegado.
Advogado se manifesta
Sá foi preso temporariamente por trinta dias, mas o tempo pode ser prorrogado. Para a prisão, uma policial que está grávida se passou por paciente e marcou uma consulta com o suspeito. A estratégia foi usada para ter certeza de que o médico estava no consultório. No local, as autoridades apreenderam dois computadores, um HD e o celular de Sá. O apartamento onde ele mora também foi alvo de buscas.
Leonardo Batistella, representante do acusado, afirmou que as denúncias não teriam fundamento. “As alegações contra o meu cliente são infundadas e não condizem nada com o seu histórico profissional, no mais, todos os elementos da defesa serão apresentados durante o transcurso do processo judicial”, afirmou o advogado.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) disse que instaurou procedimento interno para apurar a denúncia de possível desvio de conduta ético do médico Felipe Sá, mas que o processo tramita em sigilo.