No dia 5 de abril, a escritora Roseana Murray foi atacada por três cães da raça pitbull, enquanto fazia uma caminhada perto de casa, em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Os ferimentos resultaram na amputação de um braço e uma orelha. Já neste domingo (14), em entrevista ao “Fantástico”, ela falou pela primeira vez sobre o ataque e relembrou detalhes do episódio. A escritora segue internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Alberto Torres.
Devido aos pontos e cicatrizes da escritora, a reportagem foi feita sem mostrar o rosto. Segundo Roseane, tudo aconteceu “muito rápido”, sem que ela tivesse tempo de reação. “Eu saí de casa, os três cachorros estavam na rua e eu pensei: ‘Eles vão deixar eu passar’. Mas aí, quando eu passei, eles me atacaram ao mesmo tempo. Me derrubaram e foi muito, muito rápido. Eu fiquei gritando por socorro, mas não passava ninguém, porque eu tava indo para academia, às 6 horas da manhã”, relembrou.
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O ultramaratonista Eduardo Neves, que treinava na praia, foi quem salvou a escritora dos cachorros. “Quando eu chego próximo, estou vendo a senhora deitada no chão, três cachorros em cima atacando, mordendo de tudo quanto é jeito, e eu já fui com um cabo de vassoura pedindo para sair, só que os cachorros saíam dela, vinham para cima de mim e eu subia o muro. Aí, do nada, veio um carro de passeio e o cara jogou o carro em cima dos cachorros”, contou Eduardo. Depois que conseguiu prender os cachorros de volta na casa, o atleta chamou o Corpo de Bombeiros.
Ela teve graves ferimentos e foi levada de helicóptero para o Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. O estado de saúde era considerado muito grave. “Ela tinha lesões muito importantes, hemorragias, e chegou num quadro que a gente teve que fazer logo o primeiro atendimento rápido nela e levar para o centro cirúrgico também imediatamente”, contou o médico Tarcísio Encinas.
Murray teve o braço direito amputado, o esquerdo precisou ser reconstituído e a escritora também perdeu uma das orelhas. “Pelo risco de sangramento que ela tinha, ela teve lesão também no braço esquerdo que a gente conseguiu reconstruir e lesões na face”, continuou o profissional.
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Em vista dos desdobramentos, os dois filhos de Roseane já estavam se preparando para o pior. “Falei para ela: ‘Mãe, a gente está aqui, a gente está aqui com você e você lutou, você sobreviveu, você está viva, a gente ainda tem muita coisa pela frente, a gente ainda tá aqui do seu lado, mas se você tiver cansadinha, quiser fechar os olhinhos e partir, fica tranquila, porque a gente tá aqui com você’. Então, com um sopro de voz que ela conseguiu emitir, ela falou: ‘Eu quero viver'”, relatou Guga, filho caçula da escritora. “Nunca faltou coragem a ela nesse momento tão difícil. Não. Ela lutou, ela lutou com a coragem de 10 titãs”, completou ele.
Com o passar dos dias, no entanto, o quadro de saúde da escritora se reverteu, surpreendendo inclusive a equipe médica. “Hoje é o melhor dia emocionalmente que eu estou vivendo. De pouquinho em pouquinho, porque vai cicatrizando, porque eu sei que eu vou sair daqui”, afirmou Roseana. No dia 8 de abril, ela já respirava sem a ajuda de aparelhos e fazia fisioterapia.
Segundo os médicos, Murray deve voltar para casa nos próximos dias. “Ela está linda, parece que as cicatrizes dela foram desenhadas com canetinha. Ela não tem um roxo, não tem nenhuma parte inchada, não tem sangramentos, todos os indicadores dela são melhores do que os médicos poderiam imaginar”, disse Guga.
Roseana, que já escreveu mais de 100 livros de poesia e foi premiada pela Academia Brasileira de Letras para literatura infantil, quer voltar a produzir textos após o episódio. “Vou ter que aprender a escrever os meus poemas com a mão esquerda. Mas a vida vai continuar, eu não morri, estou aqui conversando com você. Viver é o milagre que nos guia, é verdade, eu escrevi isso”, concluiu a autora.
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Inquérito policial sobre o caso
O caso foi registrado na 124ª DP, em Saquarema, e segue investigado pelas autoridades. Os tutores dos cachorros foram presos em flagrante por maus-tratos, mas foram liberados na última quinta-feira (11) e vão responder em liberdade. Os pitbulls eram dois machos e uma fêmea, entre cinco meses e um ano de idade, e estão em um canil da prefeitura.
“Eles estão respondendo pelo crime da omissão de cautela nos animais e lesão corporal. Só que diante do relato das testemunhas de que houve outros episódios de ataques dos cães, nós estamos inclinados a mudar a tipificação para uma lesão corporal dolosa, qualificada pelo resultado que seria uma lesão corporal gravíssima, cuja pena varia de três a oito anos de reclusão”, relatou o delegado André Bueno.
O Fantástico teve acesso, ainda, a documentos de janeiro deste ano que mostram que a polícia e a prefeitura de Saquarema haviam sido avisadas sobre ataques dos mesmos cachorros a pessoas e a outros animais. A polícia afirmou que enviou ofícios eletrônicos para a prefeitura informando as ocorrências envolvendo os cães. O órgão, porém, disse que não foi notificado pelas autoridades.
Em nota, a prefeitura de Saquarema apontou que recebeu apenas um relato e encaminhou o denunciante a um canal específico da Secretaria do Direito Animal, mas o órgão não foi procurado. A prefeitura disse também que deu início a um processo de desapropriação da casa – uma invasão onde moram os tutores e os cachorros. A ideia é de que no futuro, o local se transforme em um Centro Cultural e Educacional.
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