No domingo (10), o anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi flagrado estuprando uma mulher grávida durante o parto, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, no Rio de Janeiro. Na tarde desta quinta-feira (14), outra paciente se apresentou na Delegacia de Atendimento a Mulher (DEAM) para prestar depoimento e afirmou acreditar também ter sido vítima de abuso. As informações são do g1.
A paciente, que não teve seu nome divulgado, foi uma das três gestantes que passaram por uma cesariana com o anestesista no mesmo dia do flagrante, feito pela equipe de enfermagem. Acompanhada por seus advogados, entre eles Joabs Sobrinho, a mulher detalhou uma série de atitudes suspeitas do profissional de saúde.
“Ela conta que ele quis fazer coisas que não eram de sua alçada, como por exemplo colocar a sonda nela. Ele não tinha que fazer isso, e sim o enfermeiro. Ele quis limpá-la. Não é atribuição dele e sim do enfermeiro. Ele começou a falar da tatuagem dela, que “elas eram bonitas, que as letras eram lindas”. Pelo fato dela estar com uma amiga, por ser mãe solteira, ele se aproveitou para fazer isso. Ela não sabe se houve algum ato sexual, porque ela estava apagada. Mas, a sedação foi muito forte e ela ficou apagada. Ela desencadeou tudo isso”, detalhou o advogado.
“Ela estranhou muito o comportamento. Ele sabia que ela é mãe solteira e por esse motivo ele começou a indagar muitas coisas que não tinham nada a ver com a cirurgia, como fazer elogios da tatuagem dela. (…) E nunca na frente das pessoas, sempre sozinho”, disse ele. “Outra coisa estranha foi quando ela perguntou o nome dele. Ele disse que era Yago. Ele disse: ‘Prazer, eu sou o anestesista, vou cuidar de você, meu nome é Yago”, relatou.
De acordo com Sobrinho, a mulher está muito abalada com o caso. “Ela ficou muito chocada porque ela não lembra exatamente o que aconteceu, ela estava inconsciente. Mas ela tá muito triste porque todos os vizinhos, amigos e outras pessoas (…) [o caso] está expondo muito a intimidade dela. Ela é mãe solteira. Então é muito complicado. Ela está realmente sofrendo, principalmente por não amamentar a criança. Isso para ela é o fim”, lamentou.
Paciente critica hospital
Em depoimento, a paciente questionou a atitude do hospital diante do episódio de estupro. “Ela tem sentido [que ele a estuprou]. Mas o que mais maltrata ela é saber que o hospital também tem culpa. Se eles perceberam que aquele ato tinha um abuso, não tinham que ter montado um segundo ou terceiro [parto]. Tinham que ter denunciado. Ninguém denunciou. ‘Ah, vamos filmar’. Foram atrás de uma prova mais contundente, de um vídeo”, declarou o defensor.
Joabs criticou o hospital pela falta de proatividade em contatar a jovem após o flagrante. “A equipe sabe que todo mundo hoje que sofre com estupro, a palavra da vítima é suficiente. Agora imagina uma equipe médica dizendo que um colega está abusando. Não se reportaram a ninguém, ela saiu do hospital terça (12), não sabia do caso, não foi procurada por ninguém”, contou. “Após a repercussão, a delegada a chamou aqui é só por isso, a minha cliente ficou sabendo. Agora, ela vai tomar o coquetel HIV. Ela está muito chocada e triste. Ela está sofrendo muito”, explicou Sobrinho, em entrevista ao O Globo.
O depoimento, colhido na Delegacia da Mulher de São João de Meriti, começou por volta das 17h40. Segundo a delegada Bárbara Lomba, responsável pelo caso, o relato apresentou “fortes indícios” de que a mulher também tenha sido abusada por Giovanni, já que ele fez uso excessivo de anestésico durante o procedimento cirúrgico. “Ela tem uma reparação muito grande. Ela tá com a imagem dela exposta no país todo. Ela tá passando por um momento muito delicado. O primeiro dia de vida do filho ela vai lembrar que foi estuprada”, completou o advogado.
Marido de grávida questionou anestesista sobre sedação
O marido da segunda mulher atendida no domingo (10), também se apresentou às autoridades ontem. Ele prestou depoimento sobre o caso e saiu sem falar com a imprensa. A delegada que comanda a investigação compartilhou detalhes do relato. “Ele fala que ficou na sala até o nascimento dos filhos e, nesse momento, o Giovanni disse que ela iria dormir um pouco. Nesse momento ele questionou por que ela iria dormir. ‘Ela vai dormir por quê? Ela estava falando comigo há pouco’. Mas, o médico disse que era padrão. Então, ele se mantém no corredor, já que ele conhece muito de seus direitos. Mas, em seguida ele desce para a enfermaria. Só na segunda que ele vê o que aconteceu e disse que: ‘Realmente estava desconfiando de alguma coisa estranha'”, detalhou Lomba.
A titular da DEAM afirmou que não descarta pedir na Justiça que o anestesista faça um exame de HIV. Bárbara informou que a mulher que foi estuprada durante o parto e que teve o crime gravado já tomou um coquetel anti-HIV no domingo, seguindo o protocolo para os casos de violência sexual. Ela foi liberada para amamentar o bebê nesta quinta.
“Tudo pode ser requerido judicialmente. Essas medidas invasivas podem ser pedidas desde que justificadas para que se configure um possível crime. Claro, diante da possibilidade de um outro possível crime, que seria a transmissão de moléstia, poderia haver essa possibilidade. Só que nós temos como testar as vítimas. Me parece que esses profissionais de saúde têm que ser cadastrados caso eles tenham alguma doença Eu vou buscar esta informação. Vamos por partes. Tem que se estudar um pouquinho, mas eu não descarto o pedido (do exame de HIV)”, declarou a delegada.
Até o momento, a Polícia Civil investiga 30 possíveis casos de estupro de pacientes por Giovanni Quintella Bezerra. Esse número representa o total de procedimentos cirúrgicos que contaram com a participação do anestesista nos últimos dois meses.