Nesta terça-feira (6), o Tribunal de Justiça de Goiás inocentou o padre Robson de Oliveira Pereira após acusações de lavagem de dinheiro. Meses atrás, a “Operação Vendilhões” e investigações do Ministério Público de Goiás (MP-GO) tinham indicado que o religioso teria movimentado cerca de R$ 2 bilhões através da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), em um período de 10 anos.
De acordo com o Correio Braziliense, a decisão pelo habeas corpus foi unânime, em um julgamento que durou apenas quarenta minutos. O voto do desembargador Nicomedes Domingos Borges – relator do processo – foi acompanhado por outros quatro magistrados da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, em Goiânia. Segundo o G1, na prática, isso implica na suspensão da tramitação do processo contra o sacerdote.
O padre Robson era investigado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de capitais e apropriação indébita. Segundo as apurações do Ministério Público, o pároco recebia doações altíssimas de fiéis pela Afipe, que chegavam a R$ 20 milhões por mês. Esses recursos, por sua vez, teriam sido usados para comprar fazendas e casas de praia – ao invés de serem investidos na construção de um santuário. De acordo com o MP, o Vaticano teria até mesmo enviado dois representantes para a cidade de Trindade em setembro, para investigar a Afipe.
Ministério Público recorrerá da decisão
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) afirmou que recorrerá quanto ao arquivamento do processo contra o padre Robson. De acordo com o Correio Braziliense, os integrantes do órgão se reunirão ainda nesta quarta-feira (7) para definir os próximos passos do processo. Dessa reunião, sairão as estratégias que os promotores utilizarão para manter a investigação em andamento na Justiça.
O que diz a defesa
Enquanto isso, para a defesa de Robson, “fica reconhecido que não houve qualquer ilicitude praticada pelo religioso, que sempre se dispôs a esclarecer toda e qualquer dúvida sobre a sua atuação na Afipe ou em qualquer outro âmbito de evangelização”. Em nota, o advogado do religioso, Cléber Lopes, afirmou que os fiéis teriam noção dos investimentos das quantias milionárias.
“Segundo os magistrados, a associação presidida pelo pároco é de natureza privada e não houve qualquer desvio de valores, sendo certo que todos os investimentos foram aprovados pelos membro da associação”, disse ele. “A decisão do tribunal reconhece o que a defesa já havia dito há algum tempo. Esperam, com isso, que o sacerdote possa ter a sua biografia restaurada”, acrescentou o texto.
Afipe se posiciona
Em nota à TV Anhanguera, a Arquidiocese de Goiânia informou que, por enquanto, não irá se manifestar sobre o trancamento da ação envolvendo o religioso. Já a Afipe – fundada e presidida por padre Robson – emitiu um comunicado, no qual mencionou que está fazendo um “trabalho de auditoria, reforma administrativa, implantação de governança e demais ações” para o “renascer da Nova Afipe”.
Confira a íntegra:
A Justiça atendeu ao pedido de habeas corpus dos advogados do Padre Robson na tarde desta terça-feira, 6 de outubro.
A Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) continuará o trabalho de auditoria, reforma administrativa, implantação de governança e demais ações que estão em andamento na associação. Tais medidas são fundamentais para o renascer da Nova Afipe e para que a entidade possa continuar cumprindo com sua principal missão que é evangelizar e manter suas ações sociais, a obra da nova Basílica em Trindade e a TV Pai Eterno. Sendo, o mais importante, a confiança do devoto do Pai Eterno nas ações da entidade e na transparência que a atual gestão defende e trabalha.
Relembre o caso
No final de agosto, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) pediu a prisão de Robson de Oliveira Pereira – um dos padres mais populares do Brasil e reitor do Santuário Basílica de Trindade – mediante apuração de irregularidades na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), presidida pelo católico.
Uma das peças de investigação do MP é a construção da nova Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, iniciada em 2012 e até hoje, não concluída. A obra é financiada por contribuições de fiéis, mas há suspeita de que as doações estejam sendo usadas para adquirir imóveis milionários, dentre eles uma fazenda em Abadiânia, por R$ 6 milhões, uma casa de praia e um avião, ambos avaliados em R$ 2 milhões cada, com a colaboração de laranjas, em um suposto esquema de lavagem de dinheiro.
Segundo o Ministério Público, a detenção era necessária porque o padre, “há vários anos”, estaria se apropriando de recursos da Afipe e “promovendo a transferência de bens desta para terceiros”. Além da prisão, os promotores pleitearam também que Robson fosse afastado do cargo de diretor da associação e proibido de entrar nos imóveis da entidade.
Fora a Afipe, o católico criou mais duas outras associações. Entre 2008 e 2018, as três movimentaram mais de 2 bilhões de reais, de acordo com levantamento feito pelo Grupo de Combate à Corrupção do Ministério Público de Goiás (Gaeco). Com a “Operação Vendilhões”, cinco possíveis crimes também foram investigados: apropriação indébita, falsificação de documentos, organização criminosa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
Acatando o pedido do MP, promotores e autoridades policiais cumpriram 16 mandados de busca em imóveis de Goiânia, Trindade e São Paulo, dentre eles, propriedades de luxo vinculadas ao padre Robson e à Afipe. O líder religioso acompanhou presencialmente o trabalho dos investigadores em sua casa.
Padre se manifesta sobre investigações
Em entrevista concedida ao Fantástico em 23 de agosto, Robson de Oliveira Pereira negou existência de atividades criminosas nas negociações investigadas pela Justiça. “Não existe nenhuma má intenção ou atividade criminosa. São números altos? São. Números altos me condenam? Não. Tudo que a Afipe faz é dentro da regra e da lei”, declarou o religioso.
“Entendemos que a melhor coisa seria fazer investimentos imobiliários. Compramos fazendas, gado… fizemos investimentos que são totalmente dentro das finalidades da entidade, e totalmente lícitos (…) Eu não tenho nada no meu nome, um patrimônio, um lote… nunca tive”, assegurou. Por fim, sobre o avião adquirido no valor de 2 milhões, Robson comentou: “É um avião velho, muito velho. Precisamos dele como veículo para nos transportar para cidades pequenas”.
Confira a reportagem na íntegra:
O religioso também se manifestou nas redes sociais, reforçando que não cometeu qualquer tipo de irregularidade, e anunciando seu afastamento das funções da associação para colaborar com as investigações do MP. “Entendi que o melhor caminho seria me afastar temporariamente da reitoria do Santuário Basílica de Trindade e também da presidência da Afipe. Esse pedido (de afastamento) vai me permitir colaborar com as apurações da melhor forma e com total transparência, para que seja comprovado que todas as doações que fizemos ao pai eterno foram empregadas na própria associação, em favor da evangelização”, declarou.
Robson ainda disse estar “sereno e confiante” de que a situação será esclarecida. “Tudo está – desde a primeira doação, e assim continua – na Afipe, e é utilizado para que nós levemos a nossa obra de evangelização aos fiéis, ao mundo. Meu coração está sereno e confiante de que tudo será esclarecido o mais breve possível”, garantiu, agradecendo por fim, as orações dos fiéis. Veja: