Os pais de um menino com transtorno do espectro autista, de 2 anos, denunciam que o filho foi dopado, com um sedativo de uso controlado, dentro do Espaço de Desenvolvimento Infantil René Biscaia, localizado em Cosmos, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A família percebeu que a criança apresentou um comportamento estranho no dia 16 de junho, entretanto, o caso só foi noticiado nesta segunda-feira (24).
Em entrevista ao “RJ2”, da TV Globo, Laís Torres de Almeida explicou que o filho não conseguia andar normalmente ou segurar a mamadeira após retornar da creche. “Como de costume, eu sempre abaixo e abro os meus braços para poder recebê-lo correndo. Aí a professora o colocou no chão para ele tentar correr e vir até mim, e automaticamente ele caiu“, descreveu.
Ela ressaltou que o menino anda e brinca normalmente, e tem apenas atraso na fala. O cansaço incomum e a falta de coordenação motora também continuaram em casa. “Ele tentou pegar a mamadeirinha dele, com muita dificuldade, e levou até a boca, mas tropeçando a todo tempo e caindo a toda hora“, acrescentou Luiz Felipe dos Santos, pai do garoto. Assista:
Pais mostram filho autista dopado após voltar de creche, no Rio de Janeiro pic.twitter.com/lg3Lx6DpMz
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) June 25, 2024
Preocupados, eles levaram a criança para a emergência do Hospital Municipal Rocha Faria, e perceberam que, no caminho, ela chegou a ficar desacordada. “Foram os piores 20 minutos, porque o médico disse para mim: ‘Se em 20 minutos ele não voltar, a gente entuba. Se ele voltar, significa que ele foi dopado. E aí a medicação está cortando o efeito’“, explicou Laís.
Na unidade de saúde, o menino recebeu uma lavagem estomacal e a medicação adequada. Cerca de 30 minutos depois, ele reagiu. Segundo a família, o médico teria sugerido que eles procurassem a polícia porque os exames indicavam que o garoto teria sido realmente dopado. No boletim médico, a situação foi classificada como intoxicação aguda.
No documento obtido pela emissora também consta que a criança apresentava sonolência, transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de sedativos e hipnóticos. O caso foi registrado na 35ª DP (Campo Grande), no entanto, segundo os pais, a Polícia Civil não pediu nenhum exame toxicológico. Por isso, eles fizeram em uma clínica particular, que encontrou 0,18 miligramas de Zolpidem, indicado no tratamento de insônia, no organismo do garoto.
O filho de Laís e Luiz precisou de dois dias para voltar ao estado normal. “Ele nunca teve nenhum tipo de crise, ele não bate, ele não agride“, afirmou a mãe. Nesta segunda, eles foram na 10ª Coordenadoria Regional de Educação, em Santa Cruz, para tentar uma recolocação do menino em outra unidade.
O pai da criança também fez um alerta sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). “O autismo não é para o pobre no Brasil. Para a gente, tudo é muito difícil. Tudo é com muita briga, tudo tem que ter discussão, justiça“, desabafou. Na reportagem do “RJ2”, o neuropediatra Eduardo Jorge da Fonseca também falou sobre os riscos do medicamento em uma criança.
“O Zolpidem é um indutor do sono. É um medicamento que tem que ser prescrita sob a orientação médica. Isso é muito importante. E esse tipo de medicação precisa de prescrição pela possibilidade de induzir alergias ou mesmo distúrbios de condutas e algumas reações adversas. É um tipo de medicação que, em qualquer faixa etária, tem que ser usado com uma parcimônia muito grande e com orientação“, informou.
A Secretaria Municipal do Rio instaurou uma sindicância e afirmou estar colaborando com as investigações da Polícia Civil. O órgão também garantiu que, assim que soube do caso, procurou a família e atendeu “prontamente” ao pedido de transferência do aluno. Não foi informada qual providência será tomada em relação à equipe da creche em Cosmos.