Nesta segunda-feira (28), a Reporter Brasil revelou que a Polícia Federal resgatou três pessoas que eram submetidas a condições análogas a escravidão, em uma fazenda no Maranhão. A denúncia foi feita por um deles, que sobreviveu a um tiro na nuca, após cobrar uma dívida trabalhista do patrão.
No depoimento, o trabalhador rural afirmou que foi alvejado por trás, pelo caseiro da propriedade. Ao levar o tiro, que pegou de raspão, ele fingiu que estava morto, esperou o homem se afastar, fugiu e procurou ajuda.
Após o trabalhador revelar o caso, os policiais foram até o local e constataram que eles não tinham contrato de trabalho, folgas e viviam em acomodações insalubres. Um deles, um senhor de 62 anos, trabalhava em troca de casa e comida. Ele, inclusive, precisou ser resgatado por uma ambulância, pois tinha um quadro grave de Covid-19 e não comia nada há seis dias.
“Esse senhor tinha uma condição muito vulnerável, trabalhava em troca de casa e comida havia um ano e quatro meses. Quando adoeceu, não recebeu atendimento médico e o empregador ainda deu a ele um medicamento vencido”, relatou Ivano Rodrigues Sampaio, auditor fiscal do trabalho que participou da ação.
A tentativa de homicídio aconteceu em novembro passado, enquanto seus colegas de trabalho foram resgatados em fevereiro deste ano, por isso o caso ainda está em andamento. O administrador da fazenda, Samy Wilker Novaes Aguiar, sua irmã, Saskia Aguiar Evangelista, e o pai, Sebastião Costa Aguiar, estão respondendo na Justiça do Trabalho pela manutenção de trabalhadores em condições de escravidão e deverão responder também pelo tiro que atingiu o funcionário.
Às autoridades, a família Aguiar disse que o tiro “foi consequência de uma briga pessoal entre o trabalhador e o caseiro e se isenta de responsabilidade”. “Eu não tenho culpa do acontecido”, afirmou Samy Aguiar. Ele admitiu ter ordenado que o homem carregasse a caminhonete, mas afirmou ter sido surpreendido pelo disparo e não soube explicar por que não tentou ajudar o funcionário. Os empregadores autuados por trabalho escravo têm dois anos para apresentarem sua defesa.
Já o caseiro, responsável pelo tiro, revelou que foi Samy Aguiar quem o mandou se posicionar atrás de uma árvore e atirar. O funcionário só não foi assassinado, porque se abaixou para colocar a mercadoria no momento exato do disparo. As empresas para as quais a fazenda presta serviços foram acionadas pela publicação, mas não se manifestaram sobre o caso.