Nesta terça-feira (23), o laudo da Polícia Técnico-Científica apontou que a velocidade média do Porsche de Fernando Sastre de Andrade Filho era de 156 km/h, momentos antes de causar um grave acidente na Avenida Salim Farah Maluf, em São Paulo, no dia 31 de março. O empresário de 24 anos conduzia o carro de luxo que colidiu contra um Sandero e matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos. O limite no local é de 50 km/h.
Segundo as informações obtidas pelo g1, através do Ministério Público, ainda serão produzidos outros laudos pelo Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal para serem entregues à Polícia Civil, que investiga as causas e eventuais responsabilidades.“O MPSP pediu perícia escaner em 3D para elucidar o acidente com detalhes”, diz o comunicado. Os novos documentos devem ser produzidos ainda nesta semana e anexados ao processo.
Falha de PMs
Imagens de câmeras corporais dos agentes que atenderam a ocorrência foram entregues apenas após 22 dias. O conteúdo já havia sido solicitado durante as investigações, gerando críticas ao delegado Nelson Alves. Na última sexta-feira (19), ele foi afastado e transferido para outra delegacia. A Polícia Civil, no entanto, negou relação entre as críticas e o afastamento. “Mudança normal”, relatou a pasta.
Em nota divulgada pela CNN nesta terça (23), a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que os policiais militares envolvidos na abordagem ao jovem serão responsabilizados por “falha de procedimento durante a atuação”. A falha foi constatada pelas autoridades após a análise das imagens das câmeras corporais que estavam acopladas aos uniformes dos agentes. Segundo a SSP, as gravações mostraram que o condutor do carro de luxo não foi submetido ao teste de alcoolemia (bafômetro) para detecção de possível ingestão de álcool.
O motorista do Porsche foi indiciado por homicídio por dolo eventual (por ter assumido o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por ferir Marcus) e fuga do local do acidente. Ele se apresentou à polícia 38h após o acidente, pagou fiança de R$ 500 mil e responde em liberdade.
A colisão aconteceu de madrugada, no Tatuapé, e foi registrada por câmeras de segurança. A velocidade do carro de luxo foi calculada pelos peritos a partir da análise dessas imagens. Ornaldo chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros em parada cardiorrespiratória, mas não resistiu aos ferimentos e morreu ao dar entrada no Hospital Municipal do Tatuapé com traumatismos múltiplos.
Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo de Fernando, ficou em coma induzido, quebrou quatro costelas e precisou retirar o baço numa cirurgia, mas já recebeu alta. Fernando teria se ferido na boca, mas não passou por atendimento médico. Procurada, a advogada Carine Acardo Garcia, que representa Fernando Sastre, disse que não iria se posicionar sobre o resultado do laudo.
Depoimentos
Em depoimento no 30º Distrito Policial, a namorada de Marcus contou que eles, Fernando e sua namorada beberam “alguns drinks” em um restaurante. Depois, foram no Porsche e em outro carro para uma casa de pôquer com “open bar”. Câmeras de segurança registraram a chegada e a saída do grupo do estabelecimento. Fernando, então, teria discutido com a namorada, que não queria deixá-lo dirigir porque ele estava “alterado”.
Outras duas testemunhas ouvidas pela Polícia Civil afirmaram que Fernando Sastre de Andrade Filho dirigia em alta velocidade e apresentava sinais de embriaguez. Já a namorada do empresário, porém, falou por quase duas horas com os agentes do 30º Distrito Policial (DP) e negou que ele tenha ingerido bebida alcoólica antes de assumir a direção.
Aos policiais, Fernando não soube precisar a velocidade em que estava na hora da colisão e também negou ter fugido do local. A Justiça determinou que a fiança de R$ 500 mil era para garantir futuros pagamentos de pedidos de indenizações às famílias de Ornaldo e Marcus, além de suspender a carteira de motorista e recolher o passaporte.
Investigação
Na época do acidente, ao portal g1, os advogados de defesa alegaram que Fernando não fugiu e apontaram que ele foi liberado pelos policiais para ser encaminhado ao hospital. Eles argumentaram que o rapaz se apresentou de forma espontânea, mesmo após 38 horas, e que pretende colaborar com a investigação e prestar solidariedade à família da vítima.
A Folha de São Paulo teve acesso ao inquérito com informações sobre onde Fernando e amigos estiveram antes do acidente. Eles foram jantar e depois seguiram para uma casa de pôquer. Em um dos estabelecimentos, o quarteto consumiu oito “Jack Pork” – drink feito com uísque, licor, angostura e xarope de limão siciliano -, além de uma caipirinha de vodca. Também foram consumidos água, torresmo, bolinho de costela, um hambúrguer e outros dois salgados. O total gasto foi de R$ 620.
O inquérito, no entanto, afirma que ainda não é possível confirmar se há imagens de Fernando ingerindo bebida alcoólica, “mas que existe essa possibilidade”. A expectativa é que a perícia também seja entregue até o fim desta semana.