Um professor da Faculdade de Direito de Franca foi acusado de assédio após um episódio durante uma aula online na última segunda-feira (28). Na ocasião, ele insistiu que uma aluna que abrisse a câmera ao saber que ela estaria nua. O vídeo com o momento causou polêmica ao circular nas redes sociais, até que, nesta quarta (30), a instituição se manifestou.
O caso aconteceu durante uma aula de Direito Penal. Inicialmente, o professor pediu que a aluna abrisse sua câmera, mas ela negou. “Deve estar horrível”, ironizou ele. Na sequência, ela justificou: “Não é isso, não. É que eu ia tomar banho e estou sem roupa, não posso abrir”. Ciente da suposta nudez, ele insistiu: “Abre a câmera aí”. Mas a estudante seguiu rejeitando. “Não, não vou abrir”, devolveu ela.
Em meio aos risos, o professor seguiu interessado com o pedido: “Tá de sacanagem comigo? Sério que você me falou isso no meio da aula?”. A aluna voltou a se explicar. “Se vai ficar insistindo é melhor eu já falar a verdade, né?”, disse. Foi então que o profissional ofereceu um aumento na nota caso a moça se exibisse. “Meio ponto… para você abrir a câmera”, sugeriu.
Assim que a aluna negou a “oferta” inapropriada, o professor rebateu: “Você abriu o áudio e veio me chatear?”. Mas a estudante, novamente, afirmou que não queria – nem precisava – daquele meio ponto. “Eu estudo… Abrir a câmera não vale meio ponto”, concluiu ela no trecho da aula, que está disponível nas redes sociais.
De acordo com a Marie Claire, uma suposta mensagem do professor também começou a circular na web após a divulgação do vídeo. “Comunico que, até segunda ordem minha, se houver, em razão de uma brincadeira ocorrida ontem, inter partes, e que tem gerado incômodo, por meio de comentários maldosos, a uma colega, todos os alunos, diurno e noturno, estão sem os dois pontos de trabalho”, teria dito ele. Olha só:
Direção da faculdade se manifesta
Com a repercussão do caso, a Faculdade de Direito de Franca afirmou hoje que tomará providências legais e cabíveis sobre o caso, assim que apurar o episódio. “A direção da Faculdade de Direito de França informa que, diante dos fatos ocorridos no dia 28/09/2920, divulgados pela mídia e redes sociais, foi instaurado Procedimento Administrativo próprio para apuração e providências legais nos termos do Regimento Interno da FDF”, disse um comunicado.
Confira:
Nota de repúdio do DA
O Diretório Acadêmico da instituição também emitiu uma nota de repúdio sobre o caso, condenando as atitudes relatadas. “Todo e qualquer tipo de abuso, agravado pela manipulação através das relações de poder instituídas na academia, são absolutamente inaceitáveis. Tais práticas, apesar do tom de brincadeira, ferem não apenas a ética das relações educacionais, mas o próprio processo de construção científica e a responsabilidade das instituições na formação de recursos humanos”, escreveu o texto.
O órgão de representação dos alunos também informou que solicitou a abertura de uma sindicância para investigar a situação e a postura do professor envolvido: “Relembramos que muitas vezes o assédio é estimulado, e repetidamente praticado, ancorando-se na perspectiva de impunidade e permissibilidade corporativista”.
Veja a íntegra abaixo:
“Chegou ao conhecimento do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de Franca um ocorrido na aula de Direito Penal do 4º ano do dia 28 de setembro de 2020.
Inicialmente é importante destacar que os alunos não devem compartilhar e divulgar tal situação em grupos ou entre particulares pois trata-se de uma exposição que não deve ocorrer para uma das partes.
Na ocasião, o professor conversava com uma aluna por áudio, situação em que pediu para que abrisse a câmera. A questão é que ao informar que não poderia abrir a câmera, pois iria entrar no banho e não estava devidamente vestida, o professor insistiu, inclusive mencionando pontuação correspondente.
O Diretório Acadêmico “28 de março” vem repudiar atos de assédio moral e sexual denunciados pelos alunos da Faculdade de Direito de Franca – FDF. Reiteramos, como uma pauta já expressa, que todo e qualquer tipo de abuso, agravado pela manipulação através das relações de poder instituídas na academia, são absolutamente inaceitáveis. Tais práticas, apesar do tom de brincadeira, ferem não apenas a ética das relações educacionais, mas o próprio processo de construção científica e a responsabilidade das instituições na formação de recursos humanos.
Relembramos que muitas vezes o assédio é estimulado, e repetidamente praticado, ancorando-se na perspectiva de impunidade e permissibilidade corporativista.
Entendemos que na Faculdade deve prevalecer a justiça, pois é o espaço de construção e autorreflexão da sociedade, portanto esse tipo de situação é inaceitável, ainda que se baseie em amizade entre professor e aluno.
Portanto, o Diretório Acadêmico solidariza-se com os estudantes, reafirma o compromisso de combater o assédio na academia e estar ao lado dos alunos, fazendo valer essa representação, na busca de melhores condições de ensino e pesquisa.
O Diretório Acadêmico protocolou hoje um ofício requerendo a abertura de sindicância para avaliar a conduta do professor, sendo requerido a imposição das penalidades previstas no artigo 187 e incisos do Regimento Interno da FDF.”