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O rosto da imagem de Nossa Senhora das Dores, em Pirenópolis, no interior de Goiás, causou polêmica entre fiéis após uma restauração que mudou traços marcantes da escultura sagrada. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirmou à TV Anhanguera nesta segunda-feira (7) que a intervenção não foi autorizada.
A representação, do século XVIII, fica na igreja matriz Nossa Senhora do Rosário, um dos principais pontos turísticos de Pirenópolis, cidade conhecida por suas tradições católicas e culturais que atraem milhares de visitantes por ano.
Famosa por simbolizar a tristeza do momento em que Maria vê Jesus morto após a crucificação, o item sagrado original trazia uma lágrima em cada olho e sobrancelhas arqueadas, simbolizando dor. Na Sexta-feira Santa, que este ano será no próximo dia 18, ela é levada em procissão pelas ruas de Pirenópolis. Segundo fiéis da região, a nova versão perdeu a expressão que marcava esse momento.
“Ela está sem a lágrima, sem a feição, está com cílios. Praticamente maquiada com blush. É a mãe de Jesus, nossa mãe e quando chega essa época a gente quer ir adorar, participar. Pede para ela porque o olhar da imagem é a gente, é a semelhança da gente (…) Aos olhos da gente, ela está transformada“, opinou a devota Helena Cristina de Pina à TV.

Fotos divulgadas por jornais locais mostram as diferenças. Antes da restauração, a imagem não tinha contorno nos olhos nem bochechas coradas. A lágrima era muito mais visível e os tons da pintura mais realistas.
“Nós observamos que mudou a cor da imagem. A técnica de pintura é diferente porque essas imagens antigas são pintadas com policromia, uma técnica que usa várias cores para dar tonalidades da pele, feição. E a pintura que tem lá é simples, alguém foi com o pincel, com uma tinta de uma cor só e pintou. Isso mudou completamente os traços da imagem, as características que ela tinha“, explicou o devoto e jornalista Ronaldo Félix.
O fiel ainda relatou outros detalhes encontrados na representação: “Além do visual, nós observamos também na base da imagem, que é de madeira, resquício de tinta, tinta pintada, tem um prego que sustenta o pé dela. Esse prego estava pintado da mesma cor que pintaram o pé“.

O Iphan enviou um ofício à Diocese responsável pela igreja, pedindo explicações sobre a intervenção, feita sem autorização e sem acompanhamento técnico. A Diocese tem 15 dias para responder.
“Não foi uma obra de restauração pelo dano que causou à Nossa Senhora das Dores“, afirmou Margareth de Lourdes Souza, chefe substituta do escritório do Iphan em Pirenópolis, que ainda revelou que há outras imagens que receberam intervenções de formas inadequadas e sem a permissão do instituto.
