Carolina Arruda, brasileira que foi diagnosticada há 11 anos com neuralgia do trigêmeo, já recebeu doses de medicamentos na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais, e passou por exames. Ela está internada desde segunda-feira (8) para um tratamento que busca amenizar a dor constante e intensa que ela sente, considerada “pior dor do mundo”.
O procedimento será realizado por tempo indeterminado. Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa e presidente da Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor (SBED), afirmou que casos como o da estudante de medicina veterinária devem ser tratados em centros especializados para que a possibilidade de alívio da dor seja maior, mesmo que parcialmente.
Ao g1, Carolina disse que o tratamento é gratuito e foi disponibilizado pelo médico que a procurou para ajudá-la. Essa é a primeira vez que ela passa por este procedimento. Nos próximos meses, ela enfrentará um processo gradual de tratamento na clínica especializada em dores crônicas. A primeira etapa tem duração de cerca de dez dias e, de acordo com o médico, será necessário que a jovem passe por um processo de dessensibilização com medicações, além de refazer os exames.
A previsão é que Carolina seja encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na quarta-feira (10) para receber a medicação exigida em protocolo para os pacientes internados neste tipo de leito. O médico destacou que depois desta etapa existem algumas possibilidades. Uma delas é a nova intervenção no nervo trigêmeo feita através de um balão guiado, que incha e comprime o nervo ou por radiofrequência, que tenta “adormecê-lo”.
Outra saída é o implante de bomba intratecal de fármacos, no qual um dispositivo leva a medicação até a medula óssea, chegando direto ao sistema nervoso central. Uma terceira possibilidade é o tratamento por radiocirurgia (Gamma Knife) que visa atingir áreas cerebrais específicas para tentar aliviar a dor. Por fim, também existe o implante de neuroestimuladores no nervo trigêmeo em que dispositivos estimulam o nervo e impedem a passagem de dor.
Seja qual for a opção, o médico frisou que será necessária cautela. “Tratamentos como o da Carolina são complexos e demorados. Eles devem ser realizados com base nas melhores evidências científicas disponíveis”, disse ele. “Muito importante salientar que o tratamento pode levar meses. Esta fase inicial tem objetivo de tirar dela o sofrimento agudo. Os próximos passos serão tomados de maneira mais racional e amena. Quando o paciente está em pleno sofrimento, isso é muito difícil”, afirmou. Apesar disso, Carolina já contou que não descartou a alternativa de fazer eutanásia no exterior.
Relembre o caso
O caso de Carolina viralizou recentemente nas redes sociais. Em seu Instagram, ela descreveu como é conviver com a doença e as dores, descritas como as piores do mundo. A estudante relembrou que sentiu a dor pela primeira vez no lado esquerdo do rosto, quando estava sentada no sofá da casa da avó. Na época, ela tina 16 anos e estava grávida de quatro meses. “Foi semelhante a um choque, uma facada. Na hora, eu não conseguia falar nada, só gritava e chorava”, declarou.
Ela, entretanto, só recebeu o diagnóstico após quatro anos da primeira crise. “Precisei ser hospitalizada pela primeira vez ainda na gravidez. No começo, as crises eram espaçadas. Com o tempo, foram ficando cada vez mais frequentes. Passei por 27 neurologistas até ter o diagnóstico. Os médicos não cogitavam ser neuralgia do trigêmeo porque eu era muito nova”, contou.
Além de canabidiol, a mineira – que já passou por quatro cirurgias, 70 médicos e mais de 50 remédios testados – faz uso de dez medicamentos diariamente, incluindo antidepressivos, anticonvulsivos, opioides e relaxantes musculares. As crises também já afetaram sua saúde mental.
Após esgotar “todas as opções médicas disponíveis e enfrentar uma dor insuportável diariamente”, Carolina tomou a decisão de buscar a eutanásia na Suíça, já que a realização não é permitida no Brasil. Ela anunciou uma vaquinha para arrecadar o dinheiro necessário para o procedimento e, até o fechamento desta matéria, conseguiu arrecadar R$ 120 mil. Clique aqui para saber os detalhes.