Nesta segunda-feira (28), uma das sobreviventes do ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, descreveu os momento de horror que viveu quando ficou frente à frente com o assassino. A professora Jessica Conceição Perini, de 31 anos, relatou ao UOL Notícias que foi ferida de raspão na cabeça, mas, felizmente, não sofreu nada mais grave.
De acordo com o depoimento, Jessica estava na sala dos professores da Escola Estadual Primo Bitti, quando o atirador entrou no recinto. Ela correu para se proteger, mas percebeu um rápido deslocamento de ar próximo à cabeça. “Era como se fosse um cenário de guerra. Quando virei para correr, senti algo passando por cima da minha cabeça. O tiro passou de raspão. Mas não percebi, porque não senti dor”, narrou a professora de Biologia.
Jessica relembrou que, após ouvir o barulho dos disparos, notou a aproximação do criminoso e se escondeu atrás de um sofá. “Ele [o atirador] estava ali para matar mesmo. Imaginei que não sairia dali viva. Só fechei os olhos e esperei que os tiros chegassem em mim. Só que isso não aconteceu”, disse, aliviada. “Orava a Deus enquanto ouvia os disparos”, acrescentou.
Segundo o portal, a jovem trabalha na instituição há nove anos e se viu desesperada ao notar a dimensão da tragédia. “Olhei em volta e vi que quem estava perto, havia sido atingido. Eu estava bem perto da Cybelle e da Flavia”, comentou em referência às duas professoras que morreram após o ataque. Além delas, outra profissional e uma aluna também perderam a vida. “Foram cenas de terror, que voltam toda a hora na minha memória. Senti uma tristeza profunda, porque perdi amigas queridas. Mas tive uma segunda chance”, completou.
Depois do desespero, Jessica notou que havia sido atingida. “Se o tiro tivesse sido um pouco abaixo, eu não estaria aqui para contar a história. As cinco professoras que estavam perto de mim foram baleadas. Foi um milagre eu não ter sido atingida, porque estava desprotegida”, narrou. O veículo explica que ela chegou a procurar um atendimento médico, contudo, devido à superficialidade do ferimento, não precisou de nenhum tipo de tratamento.
Outra sobrevivente que também se abriu sobre os momentos de terror foi Ana Paula Coutinho. A docente disse que ficou em estado de choque na hora do ataque. “Mas as outras pessoas ficaram sem reação. Depois, voltei a ver as minhas colegas ensanguentadas no chão”, contou.
Marlene Fernandes Barcelos também deu seu depoimento. Ela revelou que ajudou os alunos a fugirem do atirador e se retirou do local logo em seguida. “Quando percebi que era tiro, já corri e pedi que o guarda abrisse o portão para os alunos saírem. Falei: ‘sai que é tiro.’ Aí, os alunos correram. Alguns até pularam o muro da escola. Consegui fugir com os alunos. Nós sobrevivemos”, concluiu.
O ataque
O ataque aconteceu nesta sexta-feira (25) na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e no Centro Educacional Praia de Coqueiral (antigo Darwin), uma unidade de ensino particular que fica na mesma avenida, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município.
Segundo o UOL, autoridades informaram que o atirador, um adolescente de 16 anos, é filho de um tenente da Polícia Militar. Ele teria planejado o crime por dois anos. Pouco depois, o suspeito foi apreendido na casa de sua família. Nas imagens das câmeras de segurança, ele aparece vestindo roupa camuflada, de mangas compridas, com máscara e um chapéu. Confira:
https://twitter.com/RenanPeixoto_/status/1596177986612760576?s=20&t=gmeJqbn102hDaprxoGUJ9g
O criminoso entrou primeiro na escola estadual, já empunhando uma pistola e fazendo diversos disparos. Na sequência, ele se dirigiu até a sala dos professores, onde voltou a atirar, deixando quatro pessoas mortas.
O autor da matança saiu da instituição em um carro, modelo Renault Duster dourado. As placas do veículo estavam cobertas. De lá, ele se encaminhou para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, que fica na mesma região, onde deixou cinco feridos e tirou a vida de mais uma pessoa.
Ao fim do ataque, o atirador fugiu no veículo. O caso deixou moradores em pânico e a segurança do bairro foi reforçada. Após o ocorrido, bombeiros usaram um helicóptero para resgatar uma das pessoas baleadas.
URGENTE: Tragédia agora em Coqueiral, município de Aracruz, no ES. Bandidos invadiram duas escolas, uma pública e outra particular e atiraram em dezenas de pessoas. Mataram a diretora da escola Primo Bitti.#ataque #Escola #Aracruz #Coqueiral pic.twitter.com/eRgvwlAT6B
— Plantão de noticias (@Danielcar30) November 25, 2022
Suspeito é preso
No início da tarde da própria sexta-feira, Renato Casagrande, governador do ES, anunciou a prisão do atirador. De acordo com a polícia, o veículo usado na ação e na fuga, estava com a placa parcialmente encoberta, entretanto, os números restantes foram suficientes para identificar o endereço do assassino. Ele foi preso quatro horas após o atentado, em sua casa, em Aracruz.
“Nossas equipes de segurança alcançaram o autor do atentado que, covardemente, atacou duas escolas em Aracruz pela manhã“, informou Casagrande no Twitter. O governador decretou luto de três dias no Espírito Santo. “Decretei luto oficial de três dias em sinal de pesar pelas perdas irreparáveis. Continuaremos apurando as motivações e, em breve, teremos novos esclarecimentos“, concluiu.
Nossas equipes de segurança alcançaram o autor do atentado que, covardemente, atacou duas escolas em Aracruz pela manhã. Decretei luto oficial de três dias em sinal de pesar pelas perdas irreparáveis. Continuaremos apurando as motivações e, em breve, teremos novos esclarecimentos
— Renato Casagrande 40 (@Casagrande_ES) November 25, 2022
Quatro vítimas perderam a vida
Neste sábado (26), a Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa) confirmou a morte de uma mulher de 38 anos, vítima do ataque. Flavia Amoss Merçon Leonardo era professora na Escola Estadual Primo Bitti e foi a primeira pessoa a ser atingida.
Além de Flavia, duas professoras e uma aluna também haviam sido mortas. Segundo o g1, Selena Zagrillo, de 12 anos, Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos, foram enterradas no início da tarde de hoje (26). Já os familiares de Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos, preferiram que o corpo dela fosse cremado e levado para Pernambuco, onde outros parentes moram.
A Secretaria também informou que seis das treze pessoas que ficaram feridas no ataque seguem internadas, sendo cinco em estado grave: três professoras e duas crianças. Uma delas com 14 anos, com perfurações na cabeça, enquanto a outra, de 11, com perfurações no abdome. Segundo o último boletim divulgado, as duas crianças passaram por cirurgia e estavam na UTI em estado grave.