ouça este conteúdo
|
readme
|
Zeli dos Anjos falou pela primeira vez sobre o caso do bolo envenenado por arsênio, que matou três pessoas de sua família. Ela chegou a ingerir o doce, mas sobreviveu. Ao “Fantástico” deste domingo (16), Zeli ainda expressou sua opinião sobre a nora, Deise Moura dos Anjos, principal suspeita do crime.
“A gente comeu um pedacinho do bolo só, e daqui a pouco, a gente já começou a passar mal. Foi rápido. Eu sabia que ela era má, que fazia maldades, mas nunca que fosse chegar a um nível desses”, desabafou Zeli. “Eu não tenho nem pena, nem ódio, nem raiva. Mas quando eu penso que ela tirou as quatro pessoas mais importantes da minha vida…”, acrescentou, em meio às lágrimas.
O crime aconteceu no dia 23 de dezembro, na cidade de Torres, no Rio Grande do Sul. Zeli e mais seis pessoas da família se reuniram para comer um bolo de reis no apartamento de uma das irmãs. Como tradição, a dona de casa preparava o bolo há mais de 40 anos. “Eu não ia fazer o bolo, mas naquela manhã eu resolvi fazer”, afirmou ela ao jornalístico.
As vítimas foram Maida e Neuza, irmãs de Zeli, e a sobrinha Tatiana, filha de Neuza. Jefferson, marido de Maida, e o filho de Tatiana, de 11 anos, sobreviveram. A suspeita, por sua vez, foi presa em 5 de janeiro. Já na última quinta-feira (13), ela foi encontrada morta dentro de sua cela na Penitenciária de Guaíba, em Porto Alegre.

Zeli teve sintomas mais graves e ficou 19 dias internada. O caso foi tratado, inicialmente, como uma intoxicação alimentar. Contudo, os primeiros laudos da perícia confirmaram a presença de arsênio em amostras de sangue e urina das vítimas. Segundo os parentes, Deise não gostava da sogra. A informação, inclusive, foi confirmada pela própria suspeita em depoimento.
“Todos os depoimentos foram no sentido de um certo ódio que a investigada tinha pela sua própria sogra. Ela mesma, espontaneamente, disse que o apelido da sogra era ‘naja’, seguido de uma leve risada depois”, contou o delegado Marcos Vinícius Muniz Veloso.
Pesquisas e compras na internet
Três dias depois das mortes, Deise foi levada para prestar depoimento, mas negou envolvimento no caso. Durante as investigações, a polícia encontrou indícios de que ela estava mentindo e, com um mandado de busca, apreendeu o celular e o computador dela. Os agentes recuperaram o histórico de pesquisas feitas pela mulher na internet, e identificaram a procura por 18 substâncias tóxicas. Dentre elas estavam “arsênio”, “veneno para o coração” e “veneno para matar humanos”.
“Ela não planejou comprar só o arsênio. A primeira pesquisa dela foi o veneno mais mortal do mundo”, salientou o delegado. As investigações também apontam que Deise comprou arsênio pelo menos duas vezes, entre agosto e dezembro do ano passado. A primeira foi recebida no endereço dela, em 21 de agosto, enquanto a outra ocorreu em 16 de dezembro.

A polícia afirma que a suspeita misturou parte do arsênio ao leite em pó que levou para os sogros, junto com outros alimentos, no dia 31 de agosto. Dois dias depois, Zeli e o marido passaram mal ao beberem café com leite. A senhora foi atendida no hospital de Torres e liberada. Já o marido dela, Paulo Luiz dos Anjos, de 68 anos, morreu em 3 de setembro. Na certidão de óbito, a causa aparece como “infecção alimentar”.
“Ele me disse que não estava muito bem, e daqui a pouco eu também [não estava]. Eu disse: ‘Engraçado, o que será que nos fez mal?’ (…) Eu não quis acreditar em várias pessoas que me falavam: ‘Faz o exame nele, faz o exame nele’. E eu achei impossível”, confessou Zeli. À época, a polícia argumentou que não havia suspeitas de que a morte de Paulo poderia ter sido um assassinato.
Em novembro, Deise foi ao encontro da sogra novamente na cidade de Arroio do Sal. As autoridades acreditam que foi quando a mulher misturou o veneno na farinha, usada posteriormente por Zeli para fazer o bolo de reis. A cunhada dela, Bernardete dos Anjos, também conversou com o “Fantástico” sobre a tragédia.
“Pra mim, ela é uma pessoa má. Não importa quem ela vai atingir. Uma pessoa que coloca veneno no suco, dá pro marido, o qual ela diz que amava, e o filho toma”, analisou. Tanto pai quanto filho foram para o hospital e, através dos exames, também foi constatado arsênio no organismo dele.

Morte na cadeia
Após Deise ser encontrada sem vida, os agentes avistaram um bilhete deixado por ela. Em uma camiseta, a suspeita escreveu que não era assassina, e deixou outras anotações na cela. Conforme o advogado de defesa, sua cliente sofria de depressão. “Por óbvio, com o cárcere e com o isolamento, que era necessário até em razão de uma integridade física, isso se agrava. Por isso que a defesa, desde o início, fez requerimentos de laudos médicos frente à necessidade dela ter um tratamento”, declarou Cassyus Pontes.
Em nota, a Polícia Penal do Rio Grande do Sul informou que Deise “recebeu atendimentos psicológicos e que apresentou comportamento estável”. Já para a polícia, está comprovado que Deise foi a responsável por envenenar nove pessoas da família, causando a morte de quatro delas. O fim das investigações está previsto para essa semana, e o inquérito deverá ser arquivado.

Agora, Zeli dos Anjos busca cuidar de sua família após a tragédia. “Um dia atrás do outro, pensando que meu neto e meu filho precisam estar bem. Eu nunca fiz planos. Eu namorei o Paulo aos 15 anos e a nossa vida foi acontecendo. Aí agora, depois da enchente, nós resolvemos ficar na praia, veranear o resto da nossa vida. Não deu”, lamentou a dona de casa, por fim.
Assista à íntegra:
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques