Neste domingo (21), o “Fantástico” exibiu imagens inéditas do caso de Tio Paulo. Érika de Souza Vieira Nunes foi presa em flagrante na última terça-feira (16), após levar o cadáver do tio em uma cadeira de rodas para receber um empréstimo de R$ 17 mil em uma agência bancária de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Além do vídeo que viralizou e chocou o país, as câmeras do banco também mostraram os momentos antes do atendimento, quando os dois entraram no local.
Chegada na agência
Ao se sentar para esperar sua vez, Érika apoiava a cabeça do tio e parece conversar com ele, mas os movimentos da cabeça dele são feitos com a mão da mulher. Quando ela retira a mão para mexer na bolsa, a cabeça dele tomba. Em outro momento, ela é chamada e conversa com uma funcionária do banco. Érika vai ao banheiro, onde fica por aproximadamente 6 minutos. Durante esse tempo, foi uma funcionária do banco que sustentou a cabeça do idoso.
A sobrinha volta com um copo de água e tenta dar um pouco ao tio, que continua sem se mexer. Na sequência, eles vão ao guichê, quando se inicia o registro que rodou o mundo. Aqui, Érika tenta manter a cabeça do tio reta, usando a mão como apoio, e pede insistentemente que ele assine o empréstimo igual ao documento.
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Em mais imagens inéditas, Érika voltou a se sentar, ainda segurando a cabeça do tio, após a tentativa frustrada de conseguir o dinheiro. Por alguns instantes, ela apoia a cabeça dela na dele. Os dois, então, são levados a uma sala reservada. No trajeto, é a funcionária quem sustenta a cabeça do cadáver. Na sequência, os seguranças retiram Paulo da cadeira e a funcionária da agência faz massagem cardíaca para tentar reanimá-lo.
A funcionária em questão, que preferiu não ser identificada, contou ao programa que o homem não se movia, não tinha reação, e que isso gerou nela um “sentimento de impotência”. “Eu perguntava se ele estava me ouvindo e nada, não tinha nenhuma reação. Mesmo fazendo tudo que estava ao meu alcance, tudo o que eu quero é esquecer, é um sentimento de impotência”, afirmou a moça.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegou ao local minutos depois, quando a agência foi esvaziada. O médico que fez atendimento relatou à polícia que quando Paulo chegou já estava morto e apresentava livores – manchas de sangue que geralmente aparecem cerca de duas horas depois da morte. As investigações apontam que Paulo já entrou sem vida no banco.
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O laudo do Instituto Médico Legal informou que a morte foi provocada por broncoaspiração de conteúdo estomacal e falência cardíaca, mas exames complementares foram pedidos para saber se Paulo sofreu algum tipo de intoxicação.
Érika Nunes foi presa em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva. Ela foi indiciada por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio – caracterizado pelo ato de menosprezar o cadáver de uma pessoa. Ela está presa no Complexo Penitenciário de Bangu. A polícia investiga se a mulher pretendia se aproveitar do tio doente e se tinha consciência que carregava um cadáver.
“Ela foi com o tio ao banco porque percebeu que ele estava no seu último momento de vida, e tentou, antes que ele morresse, retirar esse dinheiro. Só que, antes de chegar ao banco, ele veio a óbito. Ainda assim, ela viu a possibilidade de fazer o saque desse dinheiro, porque era a última chance que ela tinha de tirar esse dinheiro”, afirmou o delegado Fábio Souza ao dominical da TV Globo. Para ele, o fato de Érika simular uma conversa com o tio e “fingir normalidade”, reafirma que ela sabia o que estava acontecendo.
Segundo a família, a mulher tem problemas psiquiátricos, com diagnósticos assinados por psiquiatras de quadro de depressão e alucinações auditivas. “Uma pessoa com problema psiquiátrico pode não entender que o tio está morto, mas certamente também não entenderia que tem que ir à agência pegar o dinheiro. A pessoa não pode ter uma consciência seletiva”, rebateu o delegado.
Já advogada de Érika, Ana Carla de Souza Correa, entende que a cliente estava em “estado de negação”. “Ela não aceitou que ele estaria desfalecido, morto, naquele momento, até porque ela conversa com ele”, disse.
A família, que também conversou com o “Fantástico”, argumentou que o empréstimo seria usado por Paulo na casa em que ele morava com Érika e três dos filhos dela em Bangu. Eles acrescentaram que o idoso não deixou herdeiros, nunca teve filhos e nem se casou, apesar de ter tido companheiras ao longo da vida. Ele teria sido acolhido pela sobrinha, com quem vivia há 15 anos.
Aos 68 anos, Paulo Roberto não tinha nenhuma renda até agosto do ano passado, quando passou a receber um benefício do Governo Federal para idosos com mais de 65 anos e baixa renda, o BPC-Loas, no valor de um salário mínimo. A polícia ainda vai investigar se há outros empréstimos no nome dele.
“Isso nós vamos levantar, fazer uma consulta formal para saber todas as solicitações de empréstimo feitas por ele, tendo elas sido concretizadas ou não”, explicou o delegado. Um documento apresentado pela família mostra que o dinheiro foi solicitado em nome do idoso no dia 25 de março e seria descontado mensalmente do benefício.
Antes do vídeo viral
O empréstimo seria liberado depois da assinatura de Paulo Roberto. No dia 8 de abril, ele foi internado com pneumonia em uma unidade de saúde de Bangu. O idoso recebeu alta uma semana depois, no dia 15. Neste dia, Érika também saiu com o tio de casa.
Imagens mostram os dois em um shopping onde fica a agência do banco. De acordo com a família, a agência já tinha concedido o empréstimo. A advogada disse que Érika foi até lá sacar o dinheiro, mas foi avisada que teria que fazer isso em outra agência. Os dois saem do shopping e voltam uma hora depois, quando é possível ver que Paulo encosta uma das mãos na porta de entrada e conversa com uma pessoa.
No dia seguinte, o mesmo do óbito, Érika e Paulo saíram mais uma vez de casa. Quando o motorista de aplicativo chegou, a mulher pediu que ele a ajudasse a colocar o tio na parte da frente do carro. Em depoimento, o motorista confirmou que Paulo ainda “respirava e tinha forças na mão” naquele momento. O mototaxista que deu auxílio para tirar o idoso do carro, já no estacionamento do shopping, disse o mesmo.
“A princípio, entendemos que ele saiu vivo de casa. Isso foi narrado por testemunhas. Ele chega vivo ao shopping, mas já não apresenta um comportamento normal”, apontou o delegado. O médico legista Fernando Esberard que analisou as imagens do programa da TV Globo acredita que Paulo Roberto estava vivo quando chegou ao estacionamento do shopping.
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Antes de entrarem na agência bancária, Érika segue com o tio para uma loja. Deixa ele do lado de fora, imóvel. Depois, vai a uma cafeteria com ele e, enquanto mexe na bolsa, o tio continua sem movimento. Dali, eles seguem para a agência, do outro lado da rua do shopping. Paulo está com a cabeça caída para o lado. A partir desse momento, a sobrinha começa a segurar a cabeça do tio.
Segundo a família, a saúde de Paulo Roberto piorou por causa de complicações com a bebida, chegando, inclusive, a perder parte de sua mobilidade. Os parentes apontam ainda que, em suas últimas semanas de vida, Paulo já estava muito debilitado, mal conseguia andar e que Érika era responsável pelos cuidados dele. O dominical ainda exibiu um vídeo do idoso no fim do ano passado, saudável e cantando com o pedreiro José Geraldo Santos, ex-marido de Érika.
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