[Alerta gatilho: relatos de assédio sexual] Mais um caso absurdo de assédio contra mulheres em nosso país… Uma mulher identificada como Anna Paula Oliveira, de 31 anos, revelou que foi demitida por justa causa da loja em que trabalhava, após denunciar o abuso sexual que sofreu do gerente e de outro funcionário do estabelecimento. No longo desabafo, a vítima relata como tolerou brincadeiras indevidas por muito tempo, até que em um determinado dia foi atacada na “sala da sarrada” pelos abusadores. Após relatar tudo para órgãos internos da empresa, ela terminou sem emprego.
Em sua primeira publicação, Anna explicou que sempre havia atitudes inadequadas para o ambiente de trabalho, mas por conta da necessidade de continuar empregada, ela ignorou tudo. Até que, no dia 3 de maio deste ano, ela foi atacada dentro de um dos cômodos da loja da operadora Tim, em um shopping da zona norte do Rio de Janeiro. “Eu vivi o pior dia da minha vida. Entrei na cozinha como de costume, subi para beber água e fui pega de surpresa pelo meu colega de trabalho, um consultor igual a mim e pelo meu gerente geral. Eles apagaram a luz e fui empurrada para o gerente pelo ‘colega de trabalho'”, relembrou.
“Minha mente paralisou na hora, não conseguia assimilar por que comigo e o porquê de estarem fazendo aquilo, foram minutos angustiantes. Ele passou a mão no meu corpo, pressionava tão forte o seu corpo contra o meu e beijava o meu pescoço de forma rígida e rápida, enquanto continuava passando a mão no meu corpo, enquanto eu pedia para ele parar e quando vi que seria dali para pior”, detalhou.
A “sorte” de Anna foi o fato de ter chamado uma de suas colegas para almoçar naquele mesmo horário, e a mulher estava próxima o suficiente para ouvir seus gritos de socorro. “Comecei a gritar por ela várias vezes até que ela veio me socorrer, mas ao tentar abrir a porta não conseguiu… Em todo momento, eles [ficaram] rindo e minha agonia só aumentava, até que essa colega do trabalho falou para denunciar eles (Pelo canal interno que a TIM disponibiliza), e é quando abrem a porta e eu consigo sair, seguro na mão dela meio trêmula e falo que estou nervosa”, prosseguiu.
Oliveira contou para sua colega o que tinha ocorrido, mas acreditou que o período de férias seria o suficiente para superar tudo. O que não foi o caso… Ao voltar para a loja, ela começou a ter crises de ansiedade. “Só de pisar na loja eu me tremia, subia para sala do ar de condicionado e chorava sozinha, ainda com muita vergonha e medo de perder o emprego e ainda sem entender o porquê eles fizeram isso comigo”, desabafou. De acordo com a vítima, as semanas seguintes foram ainda piores, pois além de descobrir que um dos funcionários que a atacou inventava mentiras a seu respeito, ela viu seu desempenho profissional despencar por conta de sua saúde mental.
Ver essa foto no Instagram
“Eu descobri que ele estava dizendo para todos que não me pegou porque ele não quis, [ficou] me humilhando e me ameaçando junto com o consultor, caso eu continuasse com a denúncia. Lembrando que eu estava no meu ambiente de trabalho. Meu rendimento caiu, não conseguia mais atender um cliente, porque eu sempre estava com lágrimas nos olhos, mas ainda sim tentando ser profissional com o gestor e com o colega de trabalho. Mal eu sabia ali me calando, eu estava me sufocando por dentro, desencadeando a minha depressão”, contou.
Anna Paula Oliveira decidiu então fazer uma denúncia oficial por meio dos canais internos disponibilizados pela empresa. Acontece que, segundo ela, o gerente teve acesso ao relatório feito por ela, e a intimidou mais uma vez. “Ele me chama até a sala e depois chama os dois colegas de trabalho que presenciaram que eu fui atacada. Fui humilhada de várias formas, ameaçada e coagida, simplesmente porque ele teve acesso à denúncia e à avaliação da sua gestão que eu, claramente, respondi de forma negativa. No mesmo dia fui à 23ª DP e fiz um registro de ocorrência. Ainda muito abalada com tudo, fui para o hospital depois, e depois enviei o registro e o atestado médico de 2 dias para minha coordenadora”, recordou.
Segundo a vítima, sua situação ficou tão preocupante naquele dia, que os médicos recomendaram que sua família a monitorasse constantemente. Quando chegou o dia de voltar ao trabalho, a coordenadora de Anna Paula ainda queria que ela retornasse para a mesma loja onde tudo aconteceu. “Queriam que eu convivesse com os meus abusadores”, destacou. Oliveira explicou que ainda tentou trabalhar normalmente na nova unidade que foi direcionada, mas teve uma nova crise de ansiedade. Enquanto aguardava que seu namorado chegasse no local para buscá-la, ela foi surpreendida mais uma vez.
Ver essa foto no Instagram
“O gerente (da nova loja) falou que a coordenadora está lá e queria falar comigo. Pedi a ele para que ela subisse, pois não estava bem. Quando a mesma subiu, me demitiu por justa causa, no meio de uma crise de ansiedade e me demitiu de forma humilhante, falando sobre eu ter ferido a honra dos meus superiores e colegas de trabalho, quebrando assim o código de ética da Tim. Depois de tudo isso que vivi, me senti perdida, só chorava e meu corpo queimando, dor no peito, minhas mãos suadas, até vir o diagnóstico de depressão, ataque de pânico e estresse pós-traumático”, revelou.
Anna Paula Oliveira encerrou o desabafo lamentando que só queria a ajuda da empresa para se livrar de seus agressores, no entanto viveu momentos humilhantes. Ela ainda aproveitou para agradecer aos policiais que investigaram o caso e indiciaram os dois funcionários. “Essa dor que sinto, essa ansiedade e ataques de pânico, se Deus quiser irão passar um dia. Mas eu nunca vou esquecer o que esses dois fizeram e a ajuda que pedi e não tive. […] Que a TIM mude a sua estrutura de ‘denúncias anônimas’, que ouçam mais os seus funcionários, pois o meu namorado ainda está lá de forma profissional, buscando tirar um sustento para nossa família, e sei que existem mais casos semelhantes e que muitas se calam mediante o silêncio da empresa”, finalizou.
Ver essa foto no Instagram
Investigação
Nesta quinta-feira (12), o site Uol procurou a 23ª DP, localizada no Méier (RJ), e conversou com o delegado responsável pelo caso, Deoclécio Francisco de Assis. O oficial revelou que os dois funcionários foram indiciados por três crimes: importunação sexual, coação e difamação. “A vítima, apesar de buscar o canal interno de notícia da empresa, jamais foi recebida por nenhum representante da mesma, tendo que relatar os fatos por chat, mesmo depois de implorar por atendimento pessoal. O principal indiciado (o gerente) denominava a sala do refeitório como a ‘sala da sarrada'”, detalhou por nota.
“Em depoimento, os dois negaram, alegam que não ocorreu, que não fizeram. A empresa conduziu muito mal, simplesmente não apurou. Ela denunciou no canal interno e a empresa ficava sempre pedindo mais detalhes, ela falando, não querendo se identificar. Quando ela se identificou e identificou quem fez, o gerente da loja tomou conhecimento”, continuou Assis.
O delegado revelou ainda que, nos depoimentos, o gerente seguiu difamando Anna Paula, dizendo que ela tinha se relacionado com um colega de trabalho casado. “Ele, muito mal orientado, tentou desacreditá-la o tempo todo”, compartilhou. Ao menos oito pessoas foram ouvidas ao longo do inquérito e uma acareação chegou a ser realizada entre Anna Paula e o gerente da loja.
O que diz a Tim
Também por nota, a empresa destacou que “repudia qualquer situação de assédio”. Questionados sobre a demissão de Anna Paula, a companhia disse que “o afastamento da colaboradora se deu por causas anteriores e totalmente alheias aos fatos relatados“. A Tim também afirmou lamentar o ocorrido e disse que “trata com máxima atenção, seriedade e sigilo as denúncias e manifestações recebidas em seu Canal de Denúncias, como ocorreu no presente caso. Em função da abertura do processo criminal, a empresa afastou do trabalho os dois colaboradores arrolados no inquérito”.
[Atualização] Na manhã deste sábado (14), a empresa enviou um novo comunicado sobre o caso, garantindo que demitiu os dois colaboradores e que prestará auxílio à Anna Paula. Confira na íntegra:
“A TIM repudia veementemente qualquer situação de violência, abuso ou assédio e esclarece que o caso se encontra sob apuração sigilosa por parte das autoridades competentes.
Em função do recebimento da denúncia do Ministério Público, pelo Juiz Criminal, a empresa demitiu os dois colaboradores.
A empresa lamenta a situação exposta pela ex-colaboradora e informa que entrou em contato com a mesma para prestar apoio e suporte psicossocial a ela e a sua família. A empresa esclarece que qualquer decisão tomada com relação a seus colaboradores é sempre feita de forma imparcial e baseada em fatos apurados e documentados.
Ressalta-se, ainda, que a demissão da ex-colaboradora se deve a eventos pregressos vinculados à relação de trabalho e totalmente alheios aos fatos relatados.”