Hugo Gloss

Vídeo: Câmeras corporais de PMs mostram como motorista do Porsche foi liberado sem teste do bafômetro e ação da mãe; assista

Nesta quinta-feira (25), foram divulgados vídeos das câmeras corporais dos policiais militares responsáveis por atender a ocorrência do acidente do Porsche, que bateu contra um Sandero a mais 100 km/h no dia 31 de março, em São Paulo, deixando um morto e um ferido. O limite para a via é de 50km/h. O registro revela como o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho foi liberado por agentes da corporação sem realizar o teste do bafômetro.

Durante o vídeo, é possível ver os agentes da Polícia Militar impedindo que Fernando deixasse o local do acidente, que ocorreu na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé. Ambos tiveram que correr atrás do empresário, que estava acompanhado pela mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade.

A dupla foi parada pelos PMs, que então pegaram os dados e o depoimento do empresário. “Ô, ô, ô. O senhor era o condutor do carro?”, pergunta um dos policiais. Daniela então argumenta que eles já haviam conversado com as autoridades e não precisavam continuar no local: “Já passou tudo pra ele, tá tudo com ele já”.

Eles insistem em conversar com Fernando, que chega a se emocionar algumas vezes durante o relato sobre a batida. “Conta pra mim o que aconteceu, Fernando?”, questiona a PM. “Eu estava com o Marcus (amigo do empresário), a gente estava voltando para casa e aí aconteceu um acidente horrível, foi isso”, diz ele. “A gente tava saindo da festa. A gente ia ir pra minha casa. Jogar sinuca. Aí, do nada aconteceu um acidente horrível e… Aconteceu isso. Eu não lembro mais de nada”, acrescentou.

A PM pede que Fernando leia o documento com suas informações num aparelho eletrônico e o libera na sequência, após insistência da mãe, que diz que o levaria ao hospital. “Lê o que você me disse e vê se é isso mesmo para você assinar”, diz a agente. “É isso”, responde o motorista. “Tá. Você vai assinar com o seu dedo aqui, ó”, indica a policial.

Ainda durante a conversa, a mãe de Fernando chega a dizer que o rapaz está ferido e sangrando. “Pode ir agora?”, questiona Daniela, visivelmente transtornada. “Pode, pode ir lá”, afirma a PM. “A senhora vai levar ele pra qual hospital?“, pergunta. “São Luiz, pro São Luiz, muito obrigada”, responde a mãe. Assista abaixo:

Após deixarem o local, de acordo com o g1, Daniela não levou o filho a qualquer unidade de saúde. Os dois seguiram para a casa da família, no bairro de Vila Formosa, na Zona Leste. Assim, o motorista envolvido no acidente fatal não realizou o exame que poderia confirmar se ele havia ingerido bebida alcóolica antes da colisão.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o erro dos PMs foi não ter checado se Fernando estava embriagado durante o atendimento à ocorrência. As imagens obtidas nas bodycams, bem como o diálogo do grupo, comprovam a falha no atendimento. Os agentes estão sendo investigados pela Corregedoria da PM por descumprirem o protocolo em casos de acidentes com vítimas.

Testemunhas apontam consumo de bebida alcoólica

A colisão resultou na morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, que conduzia o Sandero. Ele foi socorrido e levado a um hospital, mas não resistiu aos ferimentos. A batida também deixou Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo do empresário, com ferimentos graves. Além de fraturar quatro costelas, ele precisou retirar o baço em cirurgia.

Segundo testemunhas ouvidas durante a investigação da Polícia Civil, Fernando consumiu álcool antes de bater o carro. Ele estava num bar com os amigos e a comanda aponta a compra de bebidas alcoólicas.

Outros disseram, também, que observaram o rapaz apresentar “sinais de embriaguez e voz pastosa” após o acidente. Essas características não foram apontadas pelos PMs que atenderam a ocorrência. Entretanto, ao prestar depoimento, Fernando negou ter bebido e fugido.

Fernando estava a mais de 114km/h no momento da colisão (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Polícia encerra inquérito e pede prisão de motorista pela 3ª vez

Hoje (25), o 30º Distrito Policial (DP) da Polícia Civil, no Tatuapé, concluiu o inquérito em torno do acidente. A corporação pediu, pela terceira vez, a prisão do motorista do carro de luxo, que já foi indiciado por homicídio por dolo eventual (por assumir o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por ferir o amigo, Marcus) e fuga do local do acidente (por não realizar o exame do bafômetro). Atualmente o empresário responde aos crimes em liberdade. Daniela, mãe dele, também foi indiciada como coautora da fuga.

A prisão de Fernando foi solicitada pela investigação outras duas vezes, uma temporária e outra preventiva, mas ambas foram negadas. Segundo o delegado responsável pelo caso, o pedido da prisão preventiva é justificável por “garantia da ordem pública”, já que esse tipo de crime “causa comoção popular e deve ser punido exemplarmente”.

Após a conclusão, o inquérito será enviado para avaliação do Ministério Público (MP), que poderá denunciar Fernando pelos crimes já citados. A Promotoria também deve concordar ou não com a prisão do motorista. Na sequência, o documento será encaminhado para a Justiça, que decidirá se acatará o pedido de prisão e se apontará Fernando como réu no processo do acidente. Até o momento, não há qualquer decisão judicial sobre o requerimento.

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