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[Alerta de conteúdo sensível sobre assédio sexual] Uma jovem de 20 anos registrou em vídeo o momento em que foi vítima de importunação sexual dentro de um trem da CPTM, na Linha 7-Rubi, em São Paulo. O caso aconteceu em 20 de fevereiro, na estação Francisco Morato, e ganhou repercussão após a vítima compartilhar o vídeo nas redes sociais e relatar o ocorrido. Segundo o g1, o suspeito foi identificado pela Polícia Civil, mas ainda não prestou depoimento.
A vítima, que prefere ser chamada de Ana, estava sentada e estudando durante o trajeto quando percebeu que um homem, em pé ao seu lado, estava esfregando a genitália em seu ombro. “Achei que era uma mulher me empurrando por conta da lotação do trem, ou só uma pessoa muito maluca que estivesse me empurrando para outras passarem, porque vinha e voltava. Quando olhei para cima, por sentir algo duro no meu braço, percebi que era um homem, não uma mulher. Não era uma bolsa roçando em mim, era o pênis dele”, relatou ao portal nesta segunda-feira (24).
Mesmo com medo, ela gravou o momento com o celular e denunciou o assediador em voz alta. Nas imagens, é possível ouvir a passageira pedindo ajuda e dizendo ao homem para se afastar. “Foi muito difícil. Eu senti muito medo, senti que eu era menor que ele, senti alguma coisa que me travava, que não me deixava falar. Eu sentia medo de fazer escândalo, sentia medo de as pessoas me tirarem de louca. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo”, afirmou. Ela contou ainda que enfrentou estações inteiras travada, até conseguir pegar o celular e reagir.
No vídeo, o homem nega o assédio e diz que a vítima está “maluca”, alegando que era sua mochila que encostava nela. Apesar dos pedidos de ajuda, ninguém interveio diretamente. “Ele saiu do vagão porque quis, com a cabeça erguida, como se nada tivesse acontecido. As mesmas mulheres que falaram depois no vídeo só olharam indignadas, ninguém falou nada. Tinha homens à frente, olhando para o meu rosto, olhando para o rosto dele, nenhum deles fez nada. Me senti completamente sozinha no mundo”, disse.
Veja o vídeo:
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A repercussão do vídeo fez com que outras mulheres procurassem Ana para relatar situações semelhantes, inclusive envolvendo o mesmo suspeito. “Começaram a me ligar meninas falando que esse cara já tinha abusado delas. Uma delas é uma familiar que entrou em contato e disse que foi abusada por ele quando criança. Ninguém teve coragem de denunciar na época, porque era há muitos anos, as pessoas não denunciavam isso”, relatou.
No dia do assédio, Ana ainda tentou contato com os canais de denúncia da CPTM. Segundo ela, foi orientada a procurar a equipe de segurança, mas como precisava seguir viagem, não conseguiu denunciar na hora. Posteriormente, procurou a delegacia para registrar o boletim de ocorrência. Segundo o relato da jovem, houve resistência inicial por parte dos policiais: “Quando eu falei que queria fazer presencialmente, eles falaram: ‘Mas foi só assédio? Ele te agrediu? Ejaculou em você? Se não, você pode fazer online mesmo’”.
Ana decidiu esperar. Ela chegou à delegacia por volta das 17h e só conseguiu registrar o caso por volta da meia-noite. “Durmo à base de remédio. Fecho os olhos e vejo a cara dele”, contou.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que o caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Francisco Morato e que o suspeito foi identificado e intimado a prestar depoimento. A CPTM declarou, em nota, que lamenta o ocorrido, colaborou com a polícia e reforçou a importância da denúncia. A empresa afirmou ainda que está enviando as imagens do caso à autoridade policial e que orientou a vítima a registrar o boletim o quanto antes.
Dados divulgados pelo g1 apontam que os registros de importunação sexual nos trens de São Paulo mais que dobraram entre 2022 e 2023. A cada 14 horas, pelo menos um caso é notificado. Apesar de campanhas de combate ao assédio e da existência de espaços como o “Espaço Acolher” da CPTM, muitas mulheres ainda relatam despreparo de seguranças e dificuldade em serem ouvidas. O crime de importunação sexual é previsto no Código Penal desde 2018 e prevê pena de um a cinco anos de reclusão. A Polícia Civil continua investigando o caso.
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