Um menino de 7 anos foi diagnosticado com síndrome da medula ancorada através de uma pesquisa feita pela mãe, Courtney, no ChatGPT depois de passar por 17 médicos. De acordo com o Today, Alex tinha apenas 4 anos quando começou a sofrer com dores crônicas e, conforme relatou a mãe, vivia à base de analgésicos para evitar colapsos “gigantescos”. O menino consultou com vários especialistas, que apontavam direções diferentes para os sintomas, até o diagnóstico acontecer através do sistema de inteligência artificial no início do ano.
Tudo começou durante a pandemia da Covid-19, quando Courtney comprou um pula-pula para seus dois filhos. Logo depois, Alex passou a sentir dores. “[Nossa babá] começou a me dizer: ‘Tenho que dar Motrin (analgésico) a ele todos os dias, ou ele terá esses colapsos gigantescos'”, contou. “Se ele tivesse Motrin, ele estava totalmente bem”, acrescentou. Na mesma época, o menino começou a mastigar coisas. Ele foi levado ao dentista, dando início a uma série de consultas com vários médicos.
Além da mastigação, que levou os pais a acreditarem que Alex estava com uma cárie, ele apresentou mudanças na personalidade. De doce, o menino passou a se mostrar instável. “Estava se dissolvendo nessa pessoa louca e birrenta que não existia no resto do tempo”, explicou Courtney. O dentista “descartou tudo“, mas acreditou que o paciente sofria com obstrução das vias aéreas, e que um especialista poderia ajudar. Essas obstruções afetariam o sono, podendo explicar por que Alex estava tão cansado e mal-humorado.
Então, um ortodontista descobriu que o palato de Alex era pequeno demais para os dentes, dificultando sua respiração durante a noite. O especialista colocou um expansor no palato do paciente e as coisas pareciam que estavam melhorando. “Tudo ficou melhor por um tempo. Achávamos que estávamos na reta final”, lembrou. Porém, ela notou outro sintoma: Alex não estava mais crescendo. Por conta disso, eles visitaram um pediatra, que achou que a pandemia vinha afetando negativamente seu desenvolvimento.
Courtney não concordou com o médico, mas levou o filho para fazer um check-up no início de 2021. “Ele cresceu um pouco”, admitiu. Mas o menino foi encaminhado para fisioterapia porque parecia ter alguns desequilíbrios, arrastando o pé esquerdo e usando o direito na maior parte do tempo. Antes de iniciar a fisioterapia, a família visitou um neurologista porque Alex sentia fortes dores de cabeça que só pioravam com o tempo. O diagnóstico foi de enxaqueca. E, em meio a tantos sintomas, ele lutava contra a exaustão. O garoto foi encaminhado para um otorrinolaringologista para checar se estava com problemas de sono por causa das cavidades nasais ou vias respiratórias.
Mas não importava quantos médicos a família visitasse, os profissionais tratavam apenas os sintomas da sua especialidade. “Ninguém está disposto a resolver o problema maior. Ninguém vai te dar uma pista sobre qual poderia ser o diagnóstico”, expôs. Logo depois, um fisioterapeuta apontou um possível diagnóstico para Alex, dizendo que ele poderia ter Malformação de Chiari, uma condição congênita que causa anomalias no cérebro, onde o crânio encontra a coluna, de acordo com a Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos. Alex, então, foi levado a mais médicos, somando um total de 17 especialistas em três anos. No entanto, ninguém sabia explicar o que estava acontecendo com o garoto.
O ChatGPT
A resposta para o que a família procurava veio no início deste ano. Frustrada com a situação do filho, Courtney compartilhou com o ChatGPT os sintomas e todas as informações dos seus exames. “Vimos tantos médicos. Acabamos no pronto-socorro em um determinado momento… Eu estava sempre insistindo. Eu realmente passei a noite no [computador]… analisando todas essas coisas”, relembrou. Quando o sistema de inteligência artificial sugeriu que Alex poderia ter síndrome da medula ancorada, “fez muito sentido” para ela.
“Examinei linha por linha tudo o que estava nas anotações dele (da ressonância magnética) e conectei ao ChatGPT”, disse. “Eu coloquei sobre como ele não se sentava com as pernas cruzadas. Para mim, isso foi um grande gatilho que algo estrutural pudesse estar errado”, declarou. Ao descobrir a resposta do ChatGPT, ela encontrou um grupo no Facebook para famílias com crianças que tinham mesma a condição. Assim, Courtney confirmou através de relatos que as histórias eram semelhantes ao que acontecia com o filho.
Ela marcou uma consulta com uma nova neurocirurgiã. Courtney explicou para ela que suspeitava que Alex tinha a síndrome da medula ancorada. Ao olhar os exames, a médica entendeu na mesma hora o que havia de errado. “Ela disse diretamente: ‘Aqui está a espinha bífida oculta e é aqui que a coluna está ancorada”, relatou. Quando Courtney finalmente teve um diagnóstico para Alex, ela sentiu “alívio, validação e entusiasmo pelo futuro dele“.
A síndrome da medula ancorada acontece quando o tecido da medula espinhal forma ligações que limitam os movimentos da própria medula. Sendo assim, ela se estica de um jeito anormal. A condição está ligada à espinha bífida, um defeito congênito em que parte da medula espinhal não se desenvolve corretamente e os nervos ficam expostos. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, muitas crianças com espinha bífida têm uma abertura visível nas costas. O tipo de Alex é fechado e considerado “oculto“. Courtney também relatou que nunca notou nada nas costas dele. “Meu filho não tem abertura. Há quase o que parece ser uma marca de nascença no topo de suas nádegas, mas ninguém viu. Ele tem um umbigo torto“, comentou.
Tratamento
Após o diagnóstico, o menino passou por uma cirurgia há algumas semanas e está se recuperando. “Retiramos o cordão de onde ele está preso, essencialmente, na parte inferior do cóccix”, explicou a Dra. Holly Gilmer, neurocirurgiã pediátrica do Michigan Head & Spine Institute, que tratou Alex. “Isso libera a tensão”, completou.
Alex é uma criança “feliz e sortuda“. Ele adora brincar e jogou beisebol no ano passado, mas desistiu após se machucar. Ele precisou sair do hóquei porque os patins do gelo machucavam suas costas e joelhos. No entanto, encontrou um jeito de se adaptar e não abandonar o esporte. “Ele é incrivelmente inteligente. Ele sobe em uma estrutura, sobe em uma cadeira e passa a ser o treinador. Então, se mantém no jogo”, revelou a mãe.
Courtney aceitou compartilhar sua história na intenção de ajudar outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades. “Não há ninguém que ligue os pontos para você. Você tem que ser o defensor do seu filho”, finalizou.
ChatGPT e a medicina
O ChatGPT é um programa de inteligência artificial que responde com base nas informações inseridas pelo usuário. Ao usá-lo para fazer um diagnóstico, uma pessoa pode dizer ao programa seus sintomas, como febre, calafrios e dores no corpo. O sistema pode encontrar “gripe” como uma possível resposta. “É um mecanismo de busca médica extremamente poderoso”, declarou Andrew Beam, Ph.D., professor assistente de epidemiologia em Harvard.
“Acho que o ChatGPT pode ser um bom parceiro nessa odisseia diagnóstica. Ele lê literalmente toda a Internet. Pode não ter os mesmos pontos cegos que o médico tem”, explicou. Contudo, a inteligência artificial, claro, não substitui a experiência de um médico. O ChatGPT pode criar informações quando não encontra uma resposta. Por exemplo, se o usuário pesquisar por estudos sobre gripe, a ferramenta pode responder com vários títulos que parecem reais, mas os artigos podem não existir. Esse fenômeno é chamado de “alucinação”. “Isso se torna realmente problemático quando começamos a falar sobre aplicações médicas, porque não queremos que isso seja apenas uma invenção”, concluiu.
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