Balenciaga aponta culpados após campanhas da marca serem associadas a abuso infantil, e abre processo multimilionário

A empresa tem sido alvo de uma série de críticas por incluir crianças, itens de fetiche e documentos sobre pornografia infantil nas campanhas

Balenciaga Urso

A grife Balenciaga está no centro de um enorme polêmica por conta de duas recentes campanhas. Após receber uma série de críticas, incluindo de sua embaixadora, Kim Kardashian, a empresa voltou a se manifestar nesta segunda-feira (28). A marca espanhola deu entrada em um processo contra os envolvidos nas peças publicitárias e assumiu a responsabilidade pelo erro.

Uma das campanhas trazia crianças segurando ursinhos de pelúcia customizados com itens comuns em práticas sexuais fetichistas, como BDSM. A outra expunha, ao fundo, documentos de um processo federal envolvendo um homem que trocava materiais com pornografia infantil. Diante da repercussão negativa, a Balenciaga divulgou um novo comunicado. “Nós condenamos fortemente o abuso infantil; nunca foi nossa intenção incluir isso na nossa narrativa. As duas campanhas distintas em questão refletem uma série de erros graves pelos quais a Balenciaga assume a responsabilidade”, iniciou a empresa.

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Quanto à campanha que trouxe as crianças e os objetos questionáveis, a empresa afirmou: “Nossas bolsas de ursos de pelúcia e a campanha da coleção de presentes não deveria trazer crianças. Isso foi uma escolha errada da Balenciaga, combinada com a nossa falha em avaliar e validar as imagens. A responsabilidade sobre isso é apenas da Balenciaga”.

Já sobre a segunda campanha, a grife explicou que “todos os itens inclusos no shooting foram fornecidos por terceiros que confirmaram por escrito que esses objetos eram documentos de escritório falsos”. “Acabou que eles eram papéis legais reais, muito provavelmente vindos de filmagens de dramaturgia na televisão. A inclusão desses documentos não aprovados foi o resultado de uma negligência imprudente pela qual a Balenciaga apresentou uma queixa. Nós assumimos total responsabilidade pela nossa falta de supervisão e controle dos documentos [que apareciam] ao fundo, e poderíamos ter feito as coisas diferentes”, pontuou. Leia a íntegra:

A grife aproveitou o comunicado para anunciar que já há investigações internas e externas sobre o ocorrido. Segundo a marca espanhola, algumas medidas também já foram tomadas. “Nós estamos revisando de perto a nossa organização e as formas coletivas de trabalhar. Nós estamos reforçando as estruturas acerca do nosso processo criativo e passos de validação. Nós queremos garantir que novos controles marquem uma virada e impeçam que isso aconteça novamente. Nós estamos estabelecendo as bases com organizações especializadas na proteção de crianças e que visem o fim do abuso e da exploração de crianças”, disse a empresa.

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De acordo com o The Washing Post, a “queixa” da qual a Balenciaga se refere é um processo contra a produtora North Six e o cenografista Nicholas Des Jardins. O jornal afirma que a grife quer uma indenização de “pelo menos US$ 25 milhões por danos” (cerca de R$ 134 milhões).

Entretanto, um representante da parte processada alegou que a gigante da moda quer apenas usá-los como “bode expiatório”. Ao contrário do que a empresa diz, o agente rebateu e afirmou que “todos da Balenciaga” estavam envolvidos com essa sessão de fotos em questão.

Entenda o caso

A campanha de fim de ano da Balenciaga viralizou na semana passada. A peça publicitária foi divulgada no site da empresa, visando promover a diversidade de presentes disponíveis para este fim de ano. Contudo, o que chamou atenção foram as crianças retratadas segurando ursos de pelúcia que usavam roupas tradicionais de práticas sexuais de BDSM, especialmente bondage (amarração), incluindo tops de arrastão, harness de couro no peito, colares de cadeado e contenções de tornozelo/punho.

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A Balenciaga causou polêmica em sua campanha. (Foto: Divulgação; Gabriele Galimberti)

Outra campanha que deu o que falar foi a da coleção de primavera 2023. Em uma das fotos, uma bolsa de mão da grife aparecia próxima de uma série de documentos espalhados. Segundo a revista Paper, os papéis reproduziam documentos de um caso da Suprema Corte dos Estados Unidos, que julgava um homem chamado Michael Williams. O réu em questão havia postado mensagens oferecendo a troca de materiais de pornografia infantil, que exibiam crianças sendo vítimas de abusos sexuais.

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Depois de ser cobrada pelos seguidores, Kim Kardashian quebrou o silêncio sobre o caso neste domingo (27). A embaixadora da marca não escondeu sua indignação pelo que houve. “Fiquei quieta nos últimos dias, não porque não estivesse enojada e indignada com as recentes campanhas da Balenciaga, mas porque queria uma oportunidade de falar com a equipe deles para entender por mim mesma como isso poderia ter acontecido“, explicou a empresária.

Balenciaga : Dinner Outside Arrivals Paris Fashion Week Haute Couture Fall Winter 2022 2023
Em julho, Kim compareceu ao desfile e a um jantar da marca em Paris. (Foto: Getty)

Como mãe de quatro filhos, fiquei abalada com as imagens perturbadoras. A segurança das crianças deve ser a nossa prioridade e qualquer tentativa de normalizar o abuso infantil de qualquer tipo não deve ter lugar em nossa sociedade – ponto final“, continuou a magnata, que vinha fazendo diversos trabalhos com a Balenciaga, inclusive, tendo desfilado para a marca em Paris no último mês de julho.

Após a primeira retratação da grife, Kim agradeceu pela empresa ter reconhecido o próprio erro e retirado as campanhas do ar, e disse ter falado diretamente com a companhia. “Agradeço a remoção das campanhas e desculpas de Balenciaga. Ao conversar com eles, acredito que eles entendem a gravidade do problema e tomarão as providências necessárias para que isso nunca mais aconteça“, pontuou Kim.

Por fim, a influenciadora comentou sobre futuras parcerias com a empresa: “Atualmente, estou reavaliando meu relacionamento com a marca“. “Me baseio na disposição da empresa de aceitar a responsabilidade por algo que nunca deveria ter acontecido – e as ações que espero que eles tomem para proteger as crianças“, concluiu.

Na quinta (24), o fotógrafo da campanha polêmica, Gabriele Galimberti, também deu seu posicionamento sobre o ocorrido. O profissional reiterou que não tinha poder de decisão sobre aquilo que iria registrar. “Não estou em posição de comentar as escolhas da Balenciaga, mas devo frisar que não tive o direito de escolher os produtos, nem os modelos e nem a combinação desses itens. Como fotógrafo, fui único e exclusivamente solicitado para fotografar a cena dada, e tirar as fotos de acordo com o meu estilo. Como em todas as sessões comerciais, a direção da campanha e a escolha dos objetos exibidos não estão nas mãos do fotógrafo“, ponderou.

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Suspeito que qualquer pessoa propensa a pedofilia pesquise na internet e, infelizmente, tenha acesso fácil a imagens completamente diferentes das minhas, totalmente explícitas em seu conteúdo. Acusações como estas estão sendo feitas contra alvos errados, e nos distraem do verdadeiro problema e dos criminosos. Além disso, não tenho nenhuma ligação com a foto em que aparece um documento do Supremo Tribunal. Essa foi tirada noutro conjunto por outras pessoas e foi falsamente associada às minhas imagens“, completou. Leia:

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