“Guardiões do Crivella”: Reportagem denuncia funcionários da prefeitura do RJ que fazem “plantões” para impedir trabalho da imprensa em hospitais; assista!

Um completo absurdo! O telejornal RJ2, da Globo, exibiu uma matéria investigativa nesta segunda-feira (31) que deixou não apenas os cariocas revoltados, mas todos os brasileiros. A equipe jornalística descobriu que mais de 300 funcionários da prefeitura são pagos para agirem como “guardiões” de hospitais públicos na cidade do Rio de Janeiro. A função deles?! Impedir que sejam feitas reportagens denunciando todos os problemas que esses lugares têm enfrentado.

O noticiário começou a perceber um padrão durante muitas gravações feitas nas portas dos hospitais, em que sempre existe uma ou duas pessoas completamente descontroladas, que atrapalham as entrevistas e os textos dos repórteres aos gritos de “Globo lixo”, “Bolsomito” e “Bolsonaro”. Em um dos casos registrados, um homem chega a questionar por qual motivo um paciente estava reclamando na televisão, sendo que “está tudo indo bem e a prefeitura está trabalhando correto e bem (sic)”.

O trabalho de investigação do telejornal conseguiu levantar os dados de alguns funcionários que foram filmados em seus “postos de trabalho”, atacando os profissionais da imprensa. Um deles, identificado como José Robério Vicente Adeliano, funcionário público desde 2018 em “cargo especial” e com salário de mais R$ 3 mil, não conseguiu sequer responder perguntas básicas do repórter da Globo. “É aqui que você cumpre seu contrato de trabalho com a prefeitura? Você recebe salário da prefeitura para quê?”, questiona o jornalista. “Tá tudo tranquilo. Estamos aqui nos trabalhos, meu querido”, debochou o funcionário.

Um dos homens responsáveis por atrapalhar reportagens foi identificado pela equipe da Globo. Foto: reprodução/TV globo

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O “RJ2” conseguiu ter acesso a três grupos no WhatsApp que organizam todo o esquema de trabalho. Juntos, os chats “Guardiões do (prefeito Marcelo) Crivella”, “Assessoria Especial GBP (Gabinete do prefeito)” e “Plantão” reúnem juntos mais de 300 pessoas. Nas conversas, é organizado as escalas com os hospitais em que cada dupla ficará “acampada”. Para “bater o ponto”, os funcionários públicos registram selfies em frente aos prédios no horário exato que começam seus expedientes.

As conversas trazem registros fotográficos, principalmente das equipes jornalísticas da Globo, em frente aos hospitais tentando gravar matérias. “Pessoal, a Globo acabou de chegar, fiz a apuração. É sobre a morte da paciente que estava internada com tiro no pescoço”, tranquiliza um dos membros do grupo. A atuação dessas pessoas é bem simples: ficam próximos das equipes de reportagem, sempre com os celulares na mão registrando tudo, e quando julgam que a pauta é prejudicial para a gestão municipal, eles interferem.

Funcionários enviam registros confirmando que já estão em seus devidos postos. Foto: Reprodução/TV Globo

Porém, nem sempre as coisas funcionam como é o esperado pela administração dos “guardiões do Crivella”. Uma matéria da Globo foi feita sem interrupção, e no chat, um homem identificado como ML fica revoltado com a situação. “A Globo está no [hospital] Rocha [Faria]. Cadê a equipe do Rocha?”, pergunta o homem. Mais tarde, quando o link ao vivo foi transmitido, ML tirou um print e queixou-se: “Gente, muito triste, não derrubamos a matéria”.

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A equipe conseguiu descobrir que ML é Marcos Paulo de Oliveira Luciano, ninguém menos que o assessor especial do gabinete do prefeito Crivella desde 2017, com salário superior a R$ 10 mil. “O sistema todo é chefiado pelo doutor Marco Luciano. Doutor Marco Luciano é um amigo do Crivella. É o chefão geral, tá? Não sei se ele é parente, se é da Igreja Universal, não sei, não, mas sei que ele é muito chegado. É uma pessoa de extrema confiança do prefeito Crivella”, revelou um dos “guardiões” que serviu como fonte da reportagem.

O informante ainda detalhou o ambiente de intimidação com as pessoas que fazem parte do esquema. “Todo tempo, ameaça é de demissão. Quando eles fazem reuniões com a equipe, ninguém pode entrar de celular e passam detectores de metal em cada funcionário e as reuniões são geralmente na prefeitura, e é muita ameaça”, entregou. O homem, que não quis ser identificado por motivos óbvios, explicou que esses cargos existem há oito meses, mas com o caos trazido pela pandemia do coronavírus, essas pessoas atuam diariamente. “Existe plantão nas unidades para poder cercear a imprensa”, completou.

Marcos Luciano participou das campanhas de Crivella para o Senado e a prefeitura do Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/TV Globo

Para a surpresa da produção do “RJ2”, o prefeito Marcelo Crivella foi identificado dentro de uma das listas de contato do grupo. “O prefeito, ele acompanha no grupo os relatórios e tem vezes que escreve lá: ‘Parabéns! Isso aí!'”, explicou a fonte do jornal.

Procurada pelo telejornal, a prefeitura respondeu em nota que “reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais no sentido de melhor informar à população e evitar riscos à saúde pública, como, por exemplo, quando uma parte da imprensa veiculou que um hospital (no caso, o Albert Schweitzer) estava fechado, mas a unidade estava aberta para atendimento a quem precisava. A Prefeitura destaca que uma falsa informação pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde”. Assista à reportagem na íntegra, clicando aqui!

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Nas redes sociais, a denúncia gerou revolta dos internautas. GUARDIÕES DO CRIVELLA! hahaha Era só o que não faltava. Estamos pagando funcionários públicos que fazem ponto em frente aos hospitais do município para impedir reportagens gritando ‘MITO! BOLSOMITO! AQUI É PATRIOTA'”, escreveu o humorista Marcelo Adnet incrédulo. 

Em QUALQUER país sério, Marcelo Crivella já teria deixado o cargo ao ficar provado que existem GRUPOS ORGANIZADOS da prefeitura para atrapalhar os trabalhos da imprensa. É um atentado direto ao livre exercício do jornalismo e deve ser repudiado por todas as forças democráticas”, compartilhou o jornalista William De Lucca. Confira a repercussão:

https://twitter.com/delucca/status/1300585928461824000?s=20