O fim de uma era! Nesta semana, o SBT pegou muita gente de surpresa, ao anunciar o fim do “Casos de Família”. No ar desde 2004, a atração terá sua ultima edição exibida no dia 7 de setembro. Ao longo desse tempo, o vespertino abordou temas importantes, como violência contra a mulher e homofobia, de forma simples, e virou um verdadeiro símbolo da cultura popular, com memes e casos divertidos.
Apresentadora do programa há 13 anos, Christina Rocha deu sua primeira entrevista após o anúncio, com exclusividade a Bruno Rocha, o nosso Hugo Gloss. No bate-papo, a veterana afirmou ter ficado sabendo do fim no mesmo dia em que o público, numa reunião na sede do canal. Apesar de um baque, a notícia não foi de toda uma surpresa para Christina. “Eu sabia que ia acontecer alguma coisa. Eu estava sentindo pelo papo [dos bastidores]. A audiência se prejudicou, obviamente, pelas mudanças constantes de horário. Foi um conjunto de fatores“, admitiu.
De acordo com a jornalista, também pesaram contra a atração, a falta de investimentos e o formato engessado. “O programa precisava de uma mudança. Eu estava meio cansada, meio saturada. Por mais que você tente, você não pode mudar muito, você não pode criar muito. Claro, sempre vai ter um conflito diferente, mas chega uma hora que os conflitos são os mesmos. Acho esse programa um sobrevivente, porque ele nunca teve chamadas maravilhosas no SBT. Com 13 anos no ar diariamente, com o formato fechado, 13 anos fazendo a mesma coisa, então você vê como esse programa é forte. E é um programa que nunca deu trabalho ao SBT, porque nós fomos vice-líderes 90% do tempo. Quando mudava algum horário ou alguma coisa na programação, esse programa era o coringa. Porém, o programa precisava muito de investimento. Eu queria que ele fosse para outras cidades, queria mudar muita coisa, mas não podia“, avaliou.
A apresentadora também garantiu que não opinou na decisão de tirar o vespertino do ar e revelou se acha que a ordem partiu de Silvio Santos. “Não sei se ele (Silvio Santos) sabia. Que eu saiba, a decisão não partiu do Silvio Santos, não sei se ele soube da decisão, de tirar e de colocar a novela no lugar, pelo menos por enquanto. O Silvio sempre foi um fã desse programa. Não tive a oportunidade de falar com ele sobre isso”, explicou.
Após tantos anos juntos, Christina se emocionou e foi às lágrimas ao falar sobre sua equipe e a amizade que criou nos bastidores da atração. “Eu duvido que na televisão, mesmo dentro do SBT, tenha um programa com uma equipe tão unida. São 13 anos, todos os dias. Construímos uma amizade legal. Com a equipe, com os seguranças, com os câmeras. E isso vai fazer muita falta, mas eu não morri, obviamente. E estou no SBT, pelo menos por enquanto, já que o contrato é indeterminado. Mas a amizade é isso, a equipe é muito unida“, disse ela, pedindo por um lenço para secar o rosto após o choro.
Segundo Rocha, o “Casos de Família” não terá um “grand finale”, já que ninguém havia sido informado que a emissora planejava encerrar as gravações. Ela também deixou em aberta a possibilidade do programa voltar para as telinhas em algum momento, mas com um formato diferente do tradicional.
“Eu sei que o último programa vai ser dia 7 de Setembro. Um programa comum, porque ninguém sabia. Não vai ter um ‘grand finale’ porque o SBT disse que pode voltar em 2023. Mas não vai ter despedida, porque primeiro que não foi um final. A gente nunca sabe. De repente, pode voltar a ter ‘Casos de Família’, mas com algo maior, com outros quadros”, vislumbrou.
Com programas populares no currículo, como “Aqui e Agora” e “O Povo na TV”, Christina espera se despir de qualquer rótulo que a tenham imposto ao longo da carreira. Seu sonho seria fazer uma atração da linha de shows, com musicais e entrevistas. “Eu tenho horror de rótulo, de rotularem a Christina Rocha para fazer ‘esse tipo de programa’. Esse tipo de programa não dá sede. Eu sou apresentadora de qualquer tipo de programa. É só me darem as ferramentas que eu faço“, ressaltou.
Para além dos estúdios de TV, ela quer cuidar dos seus cavalos, dos seus cachorros, e beijar muito. “Estou bem, estou viva e estou bem viva. Eu vou procurar beijar muito na boca, tô solteira sim, mas sozinha nunca. Vou andar com meus cavalos, vou viver! Isso tinha que acontecer, de uma maneira ou de outra“, concluiu.
Confira a entrevista na íntegra:
HG: O tema de hoje é: “Casos de Família” acabou. E agora?
CR: Muita gente está falando sobre o “Casos de Família”. Primeiro, que eu sou Christina Rocha, eu não sou o “Casos de Família”, eu não sou o SBT. Na verdade, ontem, quando eu fui chamada para a reunião, eu já imaginava que alguma coisa fosse acontecer. Eu tenho a maior gratidão pelo “Casos de Família”. Que ficou comigo durante 13 anos, com a minha cara. Por 5 anos, ele já estava no ar, dos 18 anos ao todo. Foi uma honra fazer, tenho gratidão demais. Mas o programa estava precisando de uma mudança. Durante 13 anos, fazendo a mesma coisa, em um programa engessado, como é o “Casos de Família”. Pensa, o “Casos de Família” não podia criar muito, concorda? Por mais que eu quisesse, eu dei o meu estilo, o meu jeito, nesses 13 anos.
Eu já tinha conversado com o [Fernando] Pelégio, do SBT, que é um cara que eu tenho muito apreço, é o diretor artístico do SBT. E eu estava meio cansada, meio saturada. Por mais que você tente, você não pode mudar muito, você não pode criar muito. Claro, sempre vai ter um conflito diferente, mas chega uma hora que os conflitos são os mesmos. Acho esse programa um sobrevivente, porque ele nunca teve chamadas maravilhosas no SBT. Com 13 anos no ar diariamente com o formato fechado, 13 anos fazendo a mesma coisa, então você vê como esse programa é forte. E é um programa que nunca deu trabalho ao SBT, porque nós fomos vice-líderes 90% do tempo. Quando mudava algum horário ou alguma coisa na programação, esse programa era o coringa. Porém, o programa precisava muito de investimento. Eu queria que ele fosse para outras cidades, como eu já tinha conversado com o Pelégio. Eu não gosto de ficar engessada, eu sou outra Christina, eu não sou só a Christina do “Casos de Família”, eu não sou a Cristina do SBT, eu sou a Christina apresentadora, que tem muitas facetas e muitos não conhecem o meu jeito.
Se me perguntassem se eu fiquei acomodada, eu diria que fiquei, mas não por mal, e sim porque eu tinha que ‘vestir a camisa’ do programa e ficar naquele padrão. O programa, por mais criticado que seja, por mais que digam que é ‘combinado’, o que não é. Podem ter até ter tido alguns casos que a gente descobriu depois, mas no geral não era. Mas foi o primeiro programa que tratou sobre sexualidade, abuso da mulher e conflitos cotidianos. O programa da família não é só um meme, legal, engraçado. Eu tenho a honra de ter feito o “Casos de Família”, mas eu precisava me renovar. Eu dei o sangue. Eu nem fazia terapia antes, mas eu tive que começar a fazer porque, apesar de rir do programa, ele mexe pra cacete com a cabeça da gente. Então, é um programa importantíssimo não só pelos memes, mas pelo que foi tratado. Quantas pessoas a gente ajudou, quando a gente deu palco para a pessoa falar. Mas é um programa que desgasta muito o apresentador, a pessoa. Eu sou uma pessoa muito intensa, eu sou geminiana, então tudo que eu faço eu visto a camisa. Muita coisa eu queria mudar, mas eu não podia.
HG: Ontem a gente recebeu o comunicado oficial do SBT e você disse que ontem estava na reunião. Foi ao mesmo tempo?
CR: Eu já tinha tido um papo com o Pelégio sobre o tempo que estava no ar, que a gente precisava de investimento em algumas coisas. Eu gosto muito do SBT, inclusive eu tenho contrato indeterminado com o SBT ainda. Tenho muita gratidão, muito carinho. Mas eu acho que o programa poderia ter tido mais investimento, sabe? Mais chamadas, porque ele sempre foi um coringa da casa, mudava muitas coisas e ele ‘escorrega, mas não cai’. Eu não estou reclamando, mas poderia ter tido um pouco mais de investimento, de carinho. É aquele programa ‘pau pra toda obra’, que na hora H quem troca o horário é a gente e não os outros programas
HG: Partiu de você a ideia de acabar com o programa?
CR: Não, de jeito nenhum. De coração, eu falo, a gente ‘tirou leite de pedra’. A equipe é tão maravilhosa. Muita gente pensa que eu sou brava, mas eu sou maior porra louca, eu sou engraçada pra caramba. Eu estou com muita garra de ter novos desafios. Eu não sou apresentadora só de um tipo de programa, sou uma apresentadora de qualquer programa
Não sei se volta, eu posso estar falando aqui para você, e de repente, em Janeiro, ele voltar. Você sabe como é a televisão, às vezes acontece alguma coisa e, de repente, volta “Casos de Família”. Eu acho que o programa tinha que dar uma reciclada. Estava saturado, e eu também estava. Eu tô me sentindo igual um cachorro que fica muito tempo na coleira, e quando a gente solta na praia ele fica parado
HG: Você chegou a falar com o Silvio Santos?
CR: Não, sobre isso não. Na reunião, eu acho que partiu de um consenso, mas não sei se ele (Silvio Santos) sabia. Que eu saiba, a decisão não partiu do Silvio Santos, não sei se ele soube da decisão, de tirar e de colocar a novela no lugar, pelo menos por enquanto. O Silvio sempre foi um fã desse programa. Não tive a oportunidade de falar com ele sobre isso. Eu acredito que não partiu dele. Eu acho que foi uma reunião de comercial, com direção artística, não sei.
O que eu tenho certeza é da nossa equipe. A gente é muito unido. É uma amizade tão legal, é um ambiente tão legal. A nossa equipe era unida para cacete. O meu diretor é maravilhoso, Rafael Belo. Então, eu estou dividida porque a insegurança dá medo e o desconhecido assusta. Mas, ao mesmo tempo, eu estou animada.
HG: Você já tem algum projeto ou você realmente foi pega de surpresa, assim como o público?
CR: Eu sabia que ia acontecer alguma coisa. Eu estava sentindo pelo papo. A audiência se prejudicou, obviamente, pelas mudanças constantes de horário. Eu acho que era um conjunto de fatores. Eu estava precisando de uma renovação interna, de um renascimento. Eu estava muito acomodada, era sempre politicamente correta. Hoje em dia eu sinto que tem tanta coisa nova, queria fazer outro tipo de programa.
HG: Você inclusive aparece no documentário da Daniela Perez, na época do Aqui e Agora. Você tem vontade de voltar a ser âncora de um telejornal? Ou você tem vontade de ficar mais no entretenimento?
CR: Eu tenho tantas facetas em mim que o SBT não me deu a chance de mostrar. O ‘Alô Cristina’, por exemplo, que fazia o maior sucesso. Minha cabeça é de adolescente, eu tenho a idade, mas a minha mente é muito jovem. Eu tenho horror de rótulo, de rotularem a Christina Rocha para fazer ‘esse tipo de programa’. Esse tipo de programa não dá sede. Eu queria fazer um programa da linha de shows, com musicais e entrevistas. É só me darem as ferramentas que eu faço.
HG: Você já sabe como o programa vai terminar? O último programa já está gravado, tem uma finalização? Ou vai ser mais um programa comum, como qualquer outro?
CR: Um programa comum, porque ninguém sabia. Eu sei que o último programa vai ser dia 7 de Setembro. Não vai ter um ‘grand finale’ porque o SBT disse que pode voltar em 2023. Tanto que você é a primeira pessoa que eu converso. Mas não vai ter despedida, porque primeiro que não foi um final. A gente nunca sabe. De repente, pode voltar a ter “Casos de Família”, mas ter outros quadros, sabe, ter outras coisas, entrevistas…
HG: Tem momentos icônicos do programa em que você foi brava. Foram momentos realmente genuínos de você se revoltar ali na hora?
CR: Eu juro pelos meus filhos. Eu nunca fiz nada forçado. Podem falar tudo de mim, mas falar Christina é falsa, faz forçado, é balela. Eu sou a pessoa mais intensa e mais verdadeira do mundo. Teve dia que eu saí daquele programa puta da vida, com vontade de matar ‘aquele cara’. O programa, apesar de ter esse lado de brincadeira, cômico, ele tem outro lado super profundo, super sério e de utilidade pública.
HG: Mesmo sendo engessado vocês conseguiram fazer uns temas muito bons. Eu separei alguns aqui, que eu acho maravilhosos: ‘Estou desconfiado que meu marido é o Batman, não pode escurecer que ele desaparece’; ‘Amor, você quer paz no casamento, então devia ter casado com uma pomba. Quem inventa esses temas? Qual é o seu tema preferido? Tem algum que você gostou mais?
CR: Às vezes, os temas saíam dos próprios personagens que falavam alguma frase interessante, e a gente pegava. São temas icônicos, engraçadíssimos e, ao mesmo tempo, profundos.
HG: Se o “Casos de Família” voltar com um novo apresentador ou uma nova apresentadora, qual conselho a Christina daria?
CR: Vista a camisa. Seja você. Eu fui eu, totalmente. Quando eu entrei no programa, eu dei uma roupagem totalmente diferente do outro, que ficou no ar por 5 anos, porque eu fui eu mesma. Uma coisa que eu tenho horror, em qualquer apresentador, é quando você vê que aquilo não é de dentro para fora, não é verdadeiro, e eu percebo.
HG: O programa tinha muitas críticas de que seria combinado. Isso te incomodou? Essas críticas te incomodaram? Como é que batia na produção quando recebia uma matéria dessa?
CR: Muita sacanagem, podem até não gostar do programa, mas dizer isso não, porque o programa sempre foi verdadeiro. Foram casos verdadeiros. Até tiveram casos que a gente descobriu a verdade depois, mas a gente não tem poder de polícia, né?! O que a gente sacava [que era mentira], a gente descartava. Teve um ou outro, nesses 13 anos, que foi no João Kléber também. Mas os estagiários dão duro pra caramba, eles vão em algumas comunidades que são barra pesada. A gente tinha contatos que eram da própria comunidade, tinha que ser da comunidade, para o pessoal deixar entrar. Também tivemos contatos que viravam casos, para retratar a realidade. É um programa super batalhado, gente. Então sempre me irritou isso, falar que o programa foi ‘combinado’, logo eu, com tantos anos de emissora, então quer dizer que eu sou mentirosa?
HG: Você está de férias? Como vai ser isso aí?
CR: Eu estou precisando pensar em mim. Eu estou com muita garra. Eu estou precisando de novos desafios. Eu estava me sentindo muito presa. Não é porque eu estou com esta idade que eu vou parar por aqui.
HG: O que mais vai fazer falta é esse convívio com a equipe? Você já conversou com a Dra. Anahí?
CR: Conversei com a Anahí hoje. Ela é muito fofa, adoro ela. É uma pessoa incrível, é uma amizade verdadeira. Eu duvido que na televisão, mesmo dentro do SBT, tenha um programa com uma equipe tão unida. Um dos câmeras me mandou uma mensagem, porque eu não quis falar com muita gente, era uma coisa muito recente e eu queria colocar minha cabeça no lugar primeiro. O Amaral (câmera) escreveu pra mim a coisa mais linda do mundo e isso me emociona.
A equipe é muito unida, 13 anos, todos os dias. Uma amizade legal, sabe? Com a equipe, com os seguranças, com os câmeras. E isso vai fazer muita falta, mas eu não morri, obviamente. E estou no SBT, pelo menos por enquanto, já que o contrato é indeterminado. Mas a amizade é isso, a equipe é muito unida.
HG: Como a Dra. Anahí recebeu essa notícia?
CR: Ela está triste para caramba. É triste, mas ela também reconhece que o programa estava repetitivo. São muitos anos de programa. Eu estava conversando com a Anahí hoje, e falamos que é bom dar uma reciclada. As ações ficam repetitivas, os conselhos também.
Eu só queria agradecer todo mundo que vai assistir [à entrevista], o público do “Casos de Família”. Gente, amo vocês, mas tudo tem um começo e um fim, ou um recomeço. Estamos aí, estou viva e estou bem viva. Eu vou procurar beijar muito na boca, tô solteira, mas sozinha não. Vou andar com meus cavalos, vou viver! Isso tinha que acontecer, de uma maneira ou de outra.
Assista à entrevista completa, e lembre-se aqui no Hugo Gloss, você também sempre terá um amigo:
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques