Após anos sendo visto em filmes ‘on demand’, de orçamento modesto, Nicolas Cage está pronto para retornar às telonas, numa grande produção. A empreitada vem na esteira de um convite ousado: interpretar a si mesmo, e encarar os demônios do passado. Corajoso, o astro protagoniza “O Peso do Talento“, longa de ação e comédia, que estreia nesta quinta (12) no Brasil. Na produção, ele encarna o ator Nick Cage, mas garante que os dois têm suas diferenças. Em entrevista concedida a Bruno Rocha, nosso Hugo Gloss, Nicolas explicou como se distanciou do personagem, revisitou filmes criticados de sua carreira, e revelou o que nunca topou fazer mesmo nos tempos das dívidas crescentes.
Para além de alguns fatos curiosos da biografia, Nicolas acredita que o senso de humor é o que mais o aproxima de Nick Cage. “É algo bem similar. Eu gosto de fazer as pessoas darem risada quando estou em casa. Gosto de fazer minha esposa rir, fazer meus filhos rirem. Foi bom poder trazer um pouco desse humor para outro filme novamente. Já faz um tempo que não me convidam para fazer uma comédia, e esse foi um dos grandes motivos que me fez querer fazer esse filme”, disse.
Na sequência, o veterano refletiu sobre a maior diferença: “O grande divisor de águas, que faz com que o personagem não se pareça comigo, é a ideia de ele ser alguém que prioriza a carreira em detrimento da família. Não existe nenhuma versão do Nick Cage da vida real, que não queira ver os seus filhos. Mas Tom Gormicand, o diretor, deixou bem claro que isso seria uma evolução necessária. Que o personagem precisava começar como um ator narcisista, focado apenas na carreira, e evoluir para um homem de família. Mas eu sou um homem de família em primeiro lugar”.
No longa, o protagonista é um ator excêntrico que tenta entrar num projeto de Quentin Tarantino, ao mesmo tempo em que se vê pressionado por dívidas altíssimas. Por isso, ele aceita receber 1 milhão de dólares para aparecer na festa de um fã mexicano (Pedro Pascal), sem saber que se trata do líder de um cartel de drogas. Para sair dessa roubada, Nick será recrutado até pela CIA. Eita!
Questionado se, ao longo da carreira, já foi “convidado” para um evento privado por dinheiro, o astro negou. “Isso nunca aconteceu e eu não faria algo assim, não acho que isso seja legal. Simplesmente não é legal, eu não faria isso. Talvez eu fosse, se alguém que eu admiro muito me convidasse, mas a maior parte das pessoas que eu admiro não está mais entre nós, em todo caso”, observou.
Hugo, que não é bobo nem nada, aproveitou a deixa para convidar Nicolas para seu próprio aniversário. “Se eu estiver no Brasil e for na mesma época que o seu aniversário, vamos fazer isso!”, respondeu o ator. OMG!
Desde 2009, a carreira de Cage tem sido marcada essencialmente por filmes lançados diretamente no mercado de “video on demand”. Nesse período, o ator participou de cerca de 5o títulos, e não esconde a motivação para ter topado integrar projetos de gosto duvidoso como “O Apocalipse”, “Regresso do Mal” e “Vingança ao Anoitecer”. Ele precisava pagar uma dívida milionária – que chegou a US$ 12 milhões (cerca de R$ 60 milhões), acumulada por “gastos extravagantes”.
Nicolas não se arrepende dos papéis, apesar de admitir que nem todas as produções foram boas. “Há uma diferença entre arrependimento e remorso. Eu não me arrependo dos filmes que escolhi fazer, todos eles são como filhos para mim e eu sinto que dei o meu melhor em cada um deles. Nem todos deram certo, mas ao mesmo tempo, eu sinto que fiz o melhor trabalho da minha vida nesse período de ‘video on demand'”, garantiu.
“Eu diria que ‘Pig’, ‘O Peso do Talento’, ‘Joe’, ‘Vício Frenético’, ‘Sede de Vingança’ são tão bons quanto qualquer outro filme que eu tenha feito nos meus primeiros 30 anos de carreira. Ser alguém com o mantra ‘eu nunca tive uma carreira, eu apenas tive trabalho’, me permitiu praticar e continuar no mercado, trabalhando, e fazer coisas que me aproximassem da minha empatia, minha imaginação e do meu instrumento (ser ator)“, analisou.
Embora tenha cedido a propostas de longas mambembes, Nicolas revelou a Hugo Gloss algo que ele nunca aceitou fazer mesmo com altos débitos em jogo. “Você nunca me viu fazendo um comercial para o Super Bowl, e não foi por falta de oferta. Para mim, é sobre trabalhar. E o meu trabalho é criar personagens. Isso não quer dizer que os outros não levam isso tão a sério como eu, mas eu te garanto que eu levo muito a sério”, explicou.
No ano passado, em entrevista ao Collider, o ator revelou que não pretendia assistir ao filme, já que uma versão “neurótica e exagerada” de si mesmo seria algo difícil de lidar como espectador. A Hugo Gloss, porém, ele admitiu que os planos mudaram.
“Eu tive que assistir ao filme, porque eu não apenas atuo nele, mas também sou um dos produtores. Chegamos em um ponto entre o diretor e o estúdio, no qual precisavam de um outro olhar. Então, como produtor, desliguei metade do meu cérebro e metade do meu coração, e assisti através de um ponto de vista neutro. Assim pude ver quais cenas funcionavam e quais não funcionavam”, explicou.
“E me alegra dizer nós chegamos exatamente no alvo que queríamos atingir. Inicialmente, eu disse que não iria assistir porque me parecia uma experiência muito assustadora. A não ser que você seja inacreditavelmente um narcisista nato, quem é que quer se olhar no espelho durante duas horas? Quem quer interpretar um personagem que leva o seu próprio nome? Mas eu fico feliz que eu tenha feito isso. Porque me deu medo, mas eu aprendi com essa experiência. Para mim, não foi algo tão interpretado, foi espiritual”, concluiu Nicolas.
Confira a entrevista completa:
Ficou curioso? Além dos protagonistas, “O Peso do Talento”, conta com Sharon Horgan, Lily Sheen e Neil Patrick Harris no elenco. O filme é dirigido por Tom Gormican, com roteiro de Kevin Etten.