Após 6 dias, Cuca deixa Corinthians em meio a protestos por condenação por estupro; assista

O técnico foi condenado por estupro, na Suíça, em 1989

Cuca

Nesta madrugada (27), Cuca anunciou que não é mais técnico do Corinthians. A notícia foi dada por ele, em entrevista coletiva, após a classificação do time para as oitavas de final da Copa do Brasil. Cuca foi condenado pelo estupro de uma jovem de 13 anos, em 1989, na Suíça. A contratação do técnico gerou uma onda de protestos dos torcedores e de jogadoras do clube, que culminaram em sua saída.

Na entrevista, ele alegou ter sofrido um “massacre” desde que foi anunciado. “Antes desse sonho se realizar, tiveram três, quatro dias muito pesados para mim. De pesadelo. Foi quase um massacre o que acabou acontecendo. Eu estava muito concentrado nessa decisão, não queria tirar o foco. E isso acaba levando para os jogadores. Hoje me emocionaram. Estou aqui há cinco dias, mas todos ofertaram para mim”, disse.

“Eu não pedi nada, mas eles sentiram, como ex-atleta que sou, o que estou passando. E quero ser bem breve, porque não quero ser vítima de nada, é a pior coisa que um homem pode passar. Quando está em xeque a dignidade dele. Quando invade as redes sociais das filhas e mulher com ameaças e ofensas descabidas”, continuou.

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O técnico afirmou que pretende ficar com a família neste momento, e que a sua saída foi uma decisão compartilhada com eles. “Eu vou fazer 60 anos no mês que vem, você pesa o que vale e o que não vale a pena na vida. Neste momento, quero fazer valer a pena minha família, a coisa mais importante que tenho no mundo. Não esperava a avalanche que aconteceu aqui. São coisas já passadas há muito tempo, ressurgidas como se tivessem acontecido hoje. Fui julgado e punido pela internet, entre aspas. Isso tem uma consequência muito grande”, declarou.

Segundo Cuca, ele seguirá tentando provar sua inocência na Justiça: “Saio nesse momento porque não era como eu queria. Você espera a vida inteira por isso e sai dessa maneira, como um pedido… Contratei o doutor Daniel, a doutora Bia. Eles vão fazer todo o trabalho que nunca pude fazer. Nunca contratei ninguém, agora pode ser feito. Quem julga, também pode ser julgado”. 

Cuca foi condenado enquanto ainda era jogador do Grêmio. (Foto: Getty)
Cuca foi condenado enquanto ainda era jogador do Grêmio. (Foto: Getty)

Além de manifestações internas, o Corinthians teve protestos na porta do Centro de Treinamento Joaquim Grava e no Parque São Jorge. A diretoria do clube, no entanto, chegou a declarar que acreditava nas palavras de Cuca, e o diretor Duilio Monteiro Alves lamentou a saída.

“Mais importante é eu agradecer o presidente, que é uma pessoa maravilhosa. Já tinha tomado essa decisão ontem. [O Duílio] é um cara do bem, que vive lá dentro, um cara simples, eu estava prejudicando ele. A gente vê, a gente sente conversando com ele… Não é justo deixá-los sofrendo por um problema que é meu”, concluiu o treinador.

Entenda o caso

Em 1987, Cuca, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, foram detidos sob a denúncia de terem estuprado Sandra Pfäffli, na época com 13 anos, em Berna, na Suíça. Na ocasião, todos jogavam pelo Grêmio, que fazia uma excursão pela Europa. De acordo com as investigações, a jovem se dirigiu com amigos ao quarto dos jogadores. Os atletas, então, a teriam puxado para dentro e a abusado.

Os quatro ficaram no país por cerca de 30 dias e prestaram depoimento antes de voltarem ao Brasil. Dois anos depois, eles foram condenados. Cuca, Eduardo e Henrique receberam 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. Fernando foi absolvido da acusação de atentado ao pudor e condenado por estar envolvido no ato de violência. Como o Brasil não extradita seus cidadãos, eles nunca cumpriram a pena.

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Em sua apresentação no Corinthians, o técnico reafirmou que se considera inocente e que ouviu muitas “inverdades” sobre o caso. “Esse é um tema delicado. Aconteceu há 30 anos, em 1987, eu fazia, não sei ao certo, estava emprestado do Juventude ao Grêmio, fiquei uns 20 dias para tirar o passaporte. Tenho vaga lembrança de tudo o que aconteceu porque foi há muito tempo. Eu tinha 20 e poucos anos na época. Nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina ao quarto, o quarto era o que eu estava junto com outros jogadores. Era um quarto duplo. Essa foi a minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada”, disse.

“As pessoas falam que houve um estupro, houve acho que um ato sexual a vulnerável. Essa foi a pena que foi dada. A gente vê e ouve um monte de coisas que são inverdades, chegam a ofender. Eu vou fazer 60 anos, tenho duas filhas. Elas nem existiam, já era casado com a Regiane e sou casado até hoje. Venho de uma casa onde sou o único homem. Respeitei e respeito todas as mulheres. Nunca encostei o dedo indevidamente em uma mulher. Ao longo de todos esses anos que vivo na bola, já trabalhei com vocês da imprensa, já estive em diversos clubes. Nunca me foi perguntado isso numa coletiva, não é só o Cuca que não falou do tema. Por quê? Porque naquele tempo as leis eram as mesmas”, continuou.

Cuca se diz inocente no caso. (Foto: Getty)
Cuca se diz inocente no caso. (Foto: Getty)

Apesar da alegação, o Tribunal Superior do Cantão de Berna endossou a informação de que vestígios do esperma do técnico foram encontrados no corpo da menina de 13 anos. O processo, porém, está sob um sigilo de 100 anos para proteger a identidade da vítima. Para o jornal O Estado de S. Paulo, um porta-voz da Corte acrescentou que o jornal Der Bund, responsável pela reportagem de 1989 que traz detalhes do relatório forense, é “muito conceituado e profissional, não há razão para duvidar das informações”.

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O advogado da vítima também se manifestou, criticando as alegações de Cuca. Willi Egloff afirmou que a menina reconheceu o treinador como um dos agressores e que o sêmen dele foi usado como prova. “A declaração de Alexi Stival (o Cuca) é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor”, disse ele, em entrevista ao UOL. Egloff também confirmou que a vítima tentou cometer suicídio após o caso.

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