A contratação de Robinho pelo Santos Futebol Clube causou polêmica nesta semana, especialmente hoje (16), quando o “Globo Esporte” revelou trechos da sentença judicial e da transcrição de grampos que o levaram a ser condenado por violência sexual de grupo na Itália, em novembro de 2017. Com a repercussão, o comentarista Walter Casagrande não se calou e criticou a atitude do clube ao vivo no “Globo Esporte SP”.
Casagrande mostrou sua indignação com os que consideraram os questionamentos a Robinho como um “apedrejamento” do jogador. “Eu estou assustado com a sociedade brasileira. Não é o apedrejamento do Robinho, é o apedrejamento da moral da sociedade brasileira. Não podem se inverter os valores. O Robinho está condenado a nove anos de prisão por violência sexual na Itália. Recorreu, mas, neste momento, é condenado. Eu fico assustado com o que acontece no Brasil”, desabafou ele.
O ex-jogador de futebol recordou outros episódios lamentáveis no Brasil, como a censura e denúncia de Carol Solberg, do vôlei de praia – que disse “Fora Bolsonaro” após uma vitória num torneio – e do caso do senador Chico Rodrigues, pego com dinheiro na cueca esta semana. “No Brasil, se solta traficante, o vice-líder [do governo] é preso com dinheiro na cueca. A Carol Solberg, por se manifestar politicamente, a CBV faz censura e o Santos contrata um jogador que é condenado por estupro”, continuou ele.
Casão citou uma canção de Milton Nascimento e afirmou que não teme represálias ao seu comentário. “Tem um trecho da música ‘Bola de meia, bola de gude’ que fala assim: ‘Não posso aceitar qualquer sacanagem como coisa normal’. Não vou me calar. Eu sou uma voz, eu sou inquieto e não vou me calar perante esse tipo de coisa. Não estou preocupado com as consequências de nada que eu falo. Estou falando fatos, não estou inventando, nem atacando ninguém”, pontuou.
O comentarista reforçou que não pretende parar de se manifestar. “A sociedade tem que parar de aceitar sacanagem como qualquer coisa normal. É isso que nós estamos fazendo. Eu não aceito e me posiciono. Eu sou um dos muitos que têm voz de resistência e não vou me calar diante de um absurdo desses”, disse ele. Assista ao vídeo aqui:
Casagrande:
"Eu tô assustado com a sociedade brasileira. O Brasil solta traficante. O vice-líder é preso com dinheiro na cueca. A Carol Solberg, por se manifestar politicamente, a CBV faz censura. E o Santos contrata um jogador condenado por estupro"pic.twitter.com/Q0BI8eTll6
— Paulo Pacheco (@ppacheco1) October 16, 2020
Santos anuncia suspensão do contrato de Robinho
Mais tarde nesta sexta-feira (16), após a reportagem do “Globo Esporte”, o Santos Futebol Clube, que havia contratado Robinho, decidiu suspender o vínculo. O time estava enfrentando pressão, tanto do público, quanto dos patrocinadores, para tomar uma atitude em relação ao caso. De acordo com o Santos, a decisão foi tomada “em comum acordo”.
“O Santos Futebol Clube e o atleta Robinho informam que, em comum acordo, resolveram suspender a validade do contrato firmado no último dia 10 de outubro para que o jogador possa se concentrar exclusivamente na sua defesa no processo que corre na Itália”, comunicou o time através do Twitter. Confira:
NOTA À IMPRENSA
O Santos Futebol Clube e o atleta Robinho informam que, em comum acordo, resolveram suspender a validade do contrato firmado no último dia 10 de outubro para que o jogador possa se concentrar exclusivamente na sua defesa no processo que corre na Itália.
— Santos FC (@SantosFC) October 16, 2020
Em suas redes sociais, o jogador também se pronunciou. “Com muita tristeza no coração, venho falar para vocês que tomei a decisão junto do presidente de suspender meu contrato neste momento conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos Futebol Clube. Se de alguma forma estou atrapalhando, é melhor que eu saia e foque nas minhas coisas pessoais. Para os torcedores do Peixão e aqueles que gostam de mim, vou provar minha inocência”, garantiu Robinho. O vínculo entre o atleta e o time era válido por cinco meses, e seria discutido no dia 21 em reunião do Conselho Deliberativo.
Robinho fora do Santos. pic.twitter.com/j5o86rrv03
— Gabriel dos Santos (@_gabriel2santos) October 16, 2020
Entenda o caso
A reportagem do “Globo Esporte” revelou nesta sexta-feira (16) trechos da sentença judicial e da transcrição dos grampos que levaram Robinho a ser condenado em primeira instância por violência sexual de grupo na Itália, em novembro de 2017. Nas conversas, o jogador admitiu que teve relações sexuais com a vítima e que ela estava “completamente bêbada” a ponto de “não saber nem o que aconteceu”.
O caso ocorreu em uma boate de Milão chamada ‘Sio Café’ na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013. Além de Robinho, outros cinco brasileiros teriam participado do ato – classificado pela Procuradoria de Milão como “violência sexual” – contra uma jovem de origem albanesa. No entanto, apenas o jogador e Ricardo Falco foram condenados a nove anos de prisão.
Os outros quatro acusados deixaram a Itália no decorrer da investigação e, por isso, estão sendo processados num procedimento à parte, explicou o advogado da vítima, Jacopo Gnocchi, ao ‘GE’. Robinho e Ricardo foram condenados com base no artigo “609 bis” do código penal italiano, que fala da participação de duas ou mais pessoas reunidas para ato de violência sexual – forçando alguém a manter relações sexuais por sua condição de inferioridade “física ou psíquica”.
A decisão do Tribunal de Milão foi contestada pelos condenados. Os advogados dos dois apresentaram recurso e a Corte de Apelo de Milão iniciará a análise do processo, em segunda instância, no dia 10 de dezembro.
Confira a íntegra do caso, a transcrição das conversas, os relatos revoltantes e a série de manifestações contra a contratação do jogador, clicando aqui.