O inquérito que apurava a conduta de Gustavo Acioli Astarita, intérprete de Saci, o mascote do Inter, foi concluído nesta quinta-feira (14), pela Polícia Civil, por meio da 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre. Após a conclusão das diligências, ele foi indiciado pelo crime de importunação sexual contra duas mulheres. A repórter Gisele Kümpel, da rádio Canal Monumental, de Porto Alegre, se manifestou sobre a decisão.
As vítimas, uma delas sendo a própria Gisele, denunciaram Gustavo após o clássico Gre-Nal disputado em fevereiro, no Beira-Rio. Segundo elas, a importunação aconteceu antes e durante o jogo. Kümpel denunciou ter sido abraçada e beijada sem consentimento pelo Saci durante a comemoração do último gol que garantiu a vitória do Inter. Na época, a jornalista chegou a pedir uma medida protetiva contra Astarita na Justiça.
Além de Gisele, uma torcedora do clube porto-alegrense também denunciou Gustavo, mas preferiu manter sua identidade em sigilo. Às autoridades, a vítima relatou ter sido “abraçada com força pela cintura e pelos braços” pelo mascote, que também teria lhe tocado na região dos seios durante um registro fotográfico no pátio do estádio, momentos antes da partida. A moça afirmou, ainda, que ele teria dito uma frase de cunho sexual a ela no momento do registro. Assista:
Mascote do Inter é indiciado por importunação sexual pic.twitter.com/4fs1Uv3Kvq
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Imagens de ambos os momentos foram avaliadas pela polícia no inquérito e, após o indiciamento de Gustavo, Gisele Kümpel se manifestou. Em conversa com o Fim de Papo, do UOL Esporte, ela se disse “aliviada”, já que teria sido chamada de ‘mentirosa’ após a denúncia.
Os ataques teriam sido tão intensos que fizeram a repórter “duvidar de si mesma”. “Essa pauta é séria e tem que ser debatida, os acontecimentos do último mês provam isso. Hoje, a gente teve a finalização do inquérito policial da denúncia que eu fiz no dia 25 de fevereiro, que foi o dia do GreNal, e eu confesso que estou num misto de sentimentos. Eu fui muito agredida verbalmente nas redes sociais”, lamentou ela.
“O mascote, o Gustavo Acioli, ele tinha o benefício da dúvida. Eu não, eu já estava sendo julgada como mentirosa. As pessoas queriam ver as imagens para absolvê-lo, ninguém queria ver as imagens para me acolher como vítima. Quando as pessoas me falavam ‘parabéns pela tua coragem’, eu pensava ‘como assim a gente precisa ter coragem para fazer uma coisa que deveria ser normal?’. A gente tem que naturalizar a denúncia, naturalizar esse processo da mulher reclamar quando seu corpo é tocado sem consentimento”, destacou.
“Quando eu relatei o fato no dia do Gre-Nal, olha como isso é muito sério, eu coloquei no B.O. que ele tinha me beijado, que eu tinha ouvido o estalo do beijo e que eu tinha sentido no meu pescoço inclusive o suor dele. Eu senti aquilo ali, foi o que me impactou. Não sei se foi com a máscara levantada, se na hora do pulo levantou, mas eu senti e relatei o que tinha acontecido. E aí eu comecei a receber muitas mensagens, com muitos questionamentos, que era impossível ele levantar a máscara, que era impossível eu ter sentido o beijo dele, que eu estava mentindo. E ali comecei a duvidar do que eu tinha sentido, vejam bem, será que foi só um abraço? Eu comecei a dar uma atenuada nessa fala porque eu já não lembrava mais, a gente tem um apagão”, recordou.
“Ao longo do dia, veio à tona o depoimento dele e a delegada falou que ele admitiu que me beijou, que a máscara fica acima da boca, ou seja, que a boca dele fica no queixo da máscara do boneco. Eu não estava louca, eu senti o beijo, eu ouvi o beijo acontecendo e ele relatou. É super importante a gente entender o que acontece na nossa mente porque eu não tinha noção de que realmente eu estava tão certa daquilo, porque as pessoas começaram fazer eu acreditar que era impossível ele me beijar porque ele estava de máscara. Mas a máscara tem uma tela muito fina e a boca dele fica no queixo da máscara, para ele poder falar com as pessoas. Então, aconteceu mesmo o que eu senti, isso é muito sério porque mexem até com o nosso psicológico quando a gente faz a denúncia”, concluiu.
Repórter relembra caso de importunação sexual com mascote do Inter pic.twitter.com/pMvhsdpaji
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Demissão
Após a conclusão do inquérito, o Inter anunciou o desligamento do intérprete do mascote Saci. Em nota à imprensa, o clube se colocou à disposição para outros esclarecimentos da Polícia Civil. Leia a íntegra abaixo:
“O Sport Club Internacional comunica que o ator que interpretava o seu mascote não faz mais parte do quadro de funcionários do Inter. O Clube reitera que segue à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários para a depuração dos fatos. Também reforça sua solidariedade com as mulheres envolvidas neste episódio, seguindo à disposição tanto delas quanto das autoridades.
Ainda, o Inter informa que mantém suas iniciativas de conscientização e prevenção internas, incluindo às pessoas responsáveis pela interpretação do Saci. Por fim, o Clube do Povo reafirma seu comprometimento social e institucional, com as diversas campanhas e ações já realizadas em seus canais de divulgação para o público externo, ressaltando o repúdio a qualquer tipo de importunação, discriminação e preconceito, bem como seu compromisso para que o Beira-Rio seja sempre um lugar seguro e acolhedor para todas as pessoas“.