Mesmo anos depois, reviver um trauma é algo extremamente doloroso… Em entrevista para o site Universa, do Uol, nesta quarta-feira (5), a atriz Juliana Lohmann falou da repercussão de seu relato sobre o estupro e o relacionamento abusivo que sofreu no passado. Após muitas críticas maldosas, a artista explicou por qual motivo não expôs os nomes dos homens envolvidos.
No início do mês de julho, a atriz, que já protagonizou diversos trabalhos na Globo e Record, deu um forte depoimento para a revista Claudia sobre o estupro que sofreu aos 18 anos de um diretor de cinema, e as agressões físicas, psicológicas e verbais durante um relacionamento. Juliana explicou que, apesar de todo o apoio que recebeu, os primeiros dias após a publicação da matéria foram muito difíceis.
“Sentia tremeliques. Estava muito nervosa, mas ao mesmo tempo eu sabia que tinham pessoas ao meu lado que diziam: ‘Olha, calma, eu tô com você'”, contou a atriz, que está no ar na novela “Amor Sem Igual”, da Record TV. E, de fato, ela não estava sozinha… Lohmann chegou a receber mais de 50 relatos com histórias semelhantes que aconteceram com outras mulheres. Artistas como Tatá Werneck, Paula Braun, Giselle Itié e Mônica Iozzi manifestaram publicamente total apoio para a colega de profissão.
“Em algum instante, eu virei um porto seguro. Comecei a receber mensagens de amigas, uma delas aos prantos contando que entendeu ter sido abusada. Mulheres mais velhas da família do meu companheiro falaram sobre coisas que viveram antigamente e que nunca tinham debatido entre elas”, explicou. “Foi assustador porque a gente percebe que somos muitas que fomos abusadas e violentadas, que, infelizmente, acontece com muitas mulheres”, completou.
Infelizmente, na internet não podemos contar que todos manifestem empatia pelo próximo, e Juliana precisou ler comentários que colocavam em xeque o fato de não ter revelado quem eram os homens envolvidos nos dois casos. Entre as manifestações completamente equivocadas, os internautas acusavam que o relato sem nomes poderia “acabar com a vida” de quem estava sendo especulado como responsável pelos crimes. Ou então, que outras pessoas seriam vítimas.
Embora não precisasse se pronunciar sobre isso, principalmente depois de recordar um assunto tão pessoal, Juliana Lohmann explicou por que não podia denunciar mais os envolvidos. “Tem a Juliana que quer dar nomes. Só que eu não posso. Simplesmente porque os crimes prescreveram. Se eu der nomes vou ser acusada, por várias questões jurídicas. Não existe essa possibilidade”, lamentou em entrevista para o Universa.
“Então, se eu não posso expor meu relato, se eu não posso alertar outras mulheres para que se identifiquem e assim possam denunciar os seus abusadores, eu faço o quê? Isso é uma maneira de silenciar a mulher que já foi violentada”, acrescentou. Inclusive, foi a vontade de incentivar outras vítimas a denunciarem seus algozes o motivo de Lohmann decidir abrir sua intimidade. “Se eu não posso fazer justiça, que outras mulheres façam. Se eu vivi o que vivi, que outras mulheres não vivam, ou, se viverem, possam identificar e denunciar, fazer valer a Lei Maria da Penha”, declarou.
A atriz ainda tomou a iniciativa de dar apoio às mulheres que também foram abusadas. “Se alguma mulher viveu o mesmo com esses homens, esteja em tempo de denunciar e resolver ir à justiça, me ofereço para ser testemunha”, afirmou. Assim como aconteceu nos casos de João de Deus e Harvey Weinstein, a Justiça aceita que outras mulheres, que tenham tido seus crimes prescritos, possam testemunhar e fazer parte de uma denúncia coletiva contra o mesmo abusador.
Para quem ainda alegou que Lohmann estava “querendo aparecer”, ela explicou que, pelo contrário, seu depoimento poderia ter acarretado graves consequências para sua carreira. “Não estou falando de uma pessoa específica que me violentou sexualmente, eu estou falando de um diretor. Quando você fala de um diretor, isso pode acabar incomodando os diretores, no geral, porque começam especulações, nomes são citados injustamente”, disse.
“Pensei muito sobre o medo de não ser mais chamada para trabalho, o medo de ser de alguma maneira rechaçada porque: ‘Ah, a Juliana é a feminista, é aquela que denuncia’. Pensei até mesmo sobre a própria pessoa, que é muito conhecida, sobre de que maneira ela pode mexer os pauzinhos para acabar com a minha carreira. Porque essa pessoa sabe que eu estou falando dela. Ele é influente, até que ponto ele pode estar me prejudicando? Eu não sei”, analisou.