[Atenção: O texto a seguir contém relatos gráficos e perturbadores de violência] Dois anos após ser acusado de estupro e canibalismo, Armie Hammer falou pela primeira vez sobre o assunto. Em entrevista ao Air Mail divulgada neste sábado (4), o ator confessou uma série de erros que fizeram com que ele parasse a sua carreira em Hollywood. Além disso, ele também revelou que sofreu um estupro aos 13 anos e isso teria influenciado seu comportamento quando adulto.
“Estou aqui para assumir meus erros, assumir a responsabilidade pelo fato de que fui um idiota, que fui egoísta, que usei as pessoas para me fazer sentir melhor e, quando terminei, segui em frente”, iniciou ele. “Agora sou uma pessoa mais saudável, feliz e equilibrada. (… ) Sou verdadeiramente grato por minha vida, minha recuperação e tudo mais. Eu não voltaria atrás para desfazer tudo o que aconteceu comigo”, acrescentou.
Na publicação, Hammer relata que seu interesse em práticas eróticas de BDSM iniciou a partir do abuso sexual que ele diz ter sofrido aos 13 anos. O artista falou que foi abusado por quase um ano por um pastor de jovens da sua igreja. Ele acrescentou que, na época, falou com seus pais que o pastor o incomodava, mas eles responderam com um ar de: “Este é um homem de Deus… Como você ousa dizer esse tipo de coisa? Ele quer te dar atenção, e isso é legal”.
“Ele introduziu a sexualidade em minha vida de uma forma que estava completamente fora do meu controle”, explicou Armie. “Eu estava impotente na situação. Eu não tinha agência na situação. A sexualidade foi apresentada a mim de uma forma assustadora, onde eu não tinha controle. Meus interesses então foram para: quero ter o controle da situação, sexualmente (… ) porque estar fora de controle era muito perigoso para mim e muito desconfortável”, relembrou.
Em janeiro de 2021, o astro de “Me Chame Pelo Seu Nome” foi apontado como responsável por enviar mensagens para várias mulheres de cunho sexual e violento, fazendo referência a estupro, mutilação e canibalismo. Além disso, ele também foi acusado de estuprar uma moça chamada Effie em 2017. “Tentei fugir, mas ele não deixou. Achei que ele fosse me matar ”, disse ela em entrevista coletiva quatro anos depois.
Hammer negou a acusação feita Effie, afirmando que o encontro deles foi o que é chamado de “cena consensual sem consentimento” – uma prática que Hammer disse ter aprendido com a jovem. Segundo ele, “cada coisa foi discutida de antemão ” durante conversas que agora foram excluídas no Facebook Messenger.
“Se eu ainda tivesse essas mensagens, teria conseguido resolver isso em 0,5 segundo”, falou ele. “Esse suposto estupro foi uma cena que foi ideia dela. Ela planejou todos os detalhes, desde em qual cafeteria eu a encontraria, a maneira que eu a seguiria até sua casa, como a porta da frente seria aberta e destrancada e eu entraria, e nós nos envolveríamos no que é chamou de ‘cena consensual sem consentimento'”, justificou o ator.
“Essa é uma parte muito importante do mundo BDSM”, adicionou ele. “O consentimento. Porque você está fazendo coisas que estão ultrapassando os limites. Você está fazendo coisas que estão além do [domínio de] ‘Vamos fazer sexo papai e mamãe com as luzes apagadas’. Você tem que ter essa confiança. Você tem que ter essa vulnerabilidade com alguém. Você tem que ter aquele aspecto de ‘eu estou voluntariamente dando meu controle para esta pessoa’… Você sabe, o [parceiro submisso] é aquele que realmente tem todo o poder. Sempre. São eles que podem dizer ‘pare’ a qualquer momento. São eles que estabelecem os limites”, falou Hammer.
Em relação à acusação de estupro, ele ainda declarou: “Nunca despejei isso em alguém inesperadamente. Nunca”. E desabafou: “O objetivo disso é o prazer mútuo. Se você está envolvido em algum tipo de ato sexual com alguém e eles não estão se divertindo, para mim, eu não estou me divertindo. Quando duas pessoas estão envolvidas em algo, especialmente uma cena intensa, a simbiose é o que o torna mágico. Se uma pessoa não está gostando e você sente essa energia, talvez haja pessoas que gostem disso, mas não sou eu. Eu tenho tanto prazer em dar prazer a alguém”.
Ainda durante a entrevista, Armie comentou sobre o envolvimento com Courtney Vucekovich e Paige Lorenze, em que ele supostamente teria expressado desejos canibais. Apenas dele ter negado a falta de consentimento, ele afirmou que traçou levemente sua inicial na pele de Lorenze, o que resultou em um leve sangramento. Entretanto, o astro reconheceu que a “dinâmica do poder estava errada”, por causa da sua idade e fama. Ele ainda confessou que era emocionalmente abusivo com as mulheres que o acusaram.
“Elas ficavam felizes apenas por estar comigo e teriam dito sim para coisas que talvez não teriam dito por conta própria. Isso é um desequilíbrio de poder na situação”, analisou ele. “Eu tinha um estilo de vida muito intenso e extremo, e eu pegava essas mulheres, as trazia para ele – para esse turbilhão de viagens, sexo, drogas e grandes emoções voando por aí – e então, assim que terminava, eu as deixava e passava para a próxima mulher, fazendo aquela mulher se sentir abandonada ou usada”, refletiu.
Depois de perder vários projetos no cinema, o artista contou que tentou se suicidar enquanto passava a quarentena nas Ilhas Cayman, em 2021. “Eu apenas entrei no oceano e nadei o mais longe que pude e esperei que me afogasse ou fosse atropelado por um barco ou comido por um tubarão”, lembrou ele. “Então percebi que meus filhos ainda estavam na praia e que eu não podia fazer isso com eles”, disse.
Ele, que foi visto trabalhando em um resort após o escândalo, falou que tem tido dificuldade de manter um emprego. “Ninguém vai chegar perto de mim, porque se eles me contratarem, então são eles que apoiam os abusadores”, afirmou. Todavia, Armie ainda não perdeu a esperança de voltar a atuar e vê Robert Downey Jr, que passou por uma tumultuosa fase de vício em drogas, como uma inspiração. O colega e amigo, inclusive, vem o ajudando a passar pelo período difícil.
“Existem exemplos em todos os lugares, Robert sendo um deles, de pessoas que passaram por essas coisas e encontraram a redenção por um novo caminho. E isso, eu sinto, é o que está faltando nessa cultura do cancelamento e no negócio da ‘máfia da consciência social’. No minuto em que alguém faz algo errado, eles são jogados fora. Não há chance de reabilitação. Não há chance de redenção. Alguém comete um erro e nós os jogamos fora como uma câmera descartável quebrada. Robert e outros são exemplos de como é para um ser humano sentir dor e depois crescer. E esse aspecto é algo que eu aspiro”, concluiu.