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J.K. Rowling volta a causar revolta na web após divulgar loja que vende produtos transfóbicos, com frases como “Mulheres trans são homens”; confira

Foto: Getty

O legado da autora JK Rowling está sendo cada vez mais manchado… por ela mesma. Nesta quarta-feira (23), a escritora britânica foi criticada duramente, após divulgar uma loja online que tem posicionamento abertamente transfóbico. Na web, os internautas entenderam que a criadora do universo de Harry Potter estaria demonstrando, mais uma vez, que realmente tem preconceito com as pessoas transexuais.

Em um post publicado em seu Twitter pessoal ontem (22), Rowling divulgou a loja Wild Womyn Workshop. A autora publicou a foto de uma camisa que traz a seguinte frase: “Esta bruxa não queima”. Na legenda da publicação, a britânica brincou com o conteúdo e compartilhou o link da empresa. “Às vezes, uma camiseta fala por você… Caso você conheça uma bruxa que gostaria [de uma camisa dessa]”, disse.

Em um segundo tuíte, JK voltou a promover a loja, aparentemente para evitar que as pessoas continuassem comprando em outros lugares que copiaram o design da Wild Womyn. “Se você é (ou conhece) uma bruxa que deseja uma dessas [camisas], não compre de oportunistas cínicos. Eu ganhei minha camiseta da @Wild_Womyn. #ApoieMulheresNaGestãoDeNegócios”. Quando o perfil da loja agradeceu o compartilhamento de Rowling, ela respondeu dizendo: “Você a projetou, você merece o crédito e o dinheiro”.

Até aí não teria problema algum… Acontece que, ao acessar o site do empreendimento, o público descobriu a venda de produtos com mensagens transfóbicas absurdas. Uma coleção de adesivos, canecas e broches, por exemplo, inclui itens com as frases: “Transativismo é misoginia”; “Ideologia trans invisibiliza mulheres”; “Notoriamente transfóbica”; “Mulheres trans são homens”. Em sua descrição, a Wild Womyn se identifica como uma loja para quem procura produtos “radfem”, uma vertente do movimento feminista com posicionamentos radicais, entre eles o de não enxergar as mulheres transexuais como “mulheres de verdade”.

Adesivos reproduzem preconceitos com pessoas trans. Foto: Reprodução
Caneca da loja assume “Notoriamente Transfóbica”. Foto: Reprodução
Broche dizendo “Mulheres Trans são homens”. Foto: Reprodução

Nas redes sociais, os internautas não gostaram nadinha de ver J.K. Rowling promovendo uma loja que tenha esses produtos em seu catálogo. “Fica até difícil te apoiar assim, né, JK Rowling?”, lamentou um rapaz. “Cara, HP é uma obra maravilhosa, porém a p*rra da autora é uma filha da p*ta que estragou tudo por conta de comentários preconceituosos. Que ódio, mano”, revoltou-se uma jovem. “Parem de dar palco pra essa mulher. Ela tá promovendo transfobia e o pessoal dando mais engajamento para essa doida. Bloqueia ela. Ignora que ela volta pro buraco de onde saiu”, aconselhou um terceiro perfil. Até o fechamento desta matéria, a escritora não tinha se pronunciado a respeito do caso.

https://twitter.com/P4r3nt3/status/1308897270855761923

https://twitter.com/paloschiale/status/1308897121936998407

https://twitter.com/jmglitter/status/1308896987207684096

Histórico polêmico

Tudo começou em junho (6), quando a autora dos livros de “Harry Potter” comentou sobre um artigo de um site, intitulado “Criando um mundo pós-Covid-19 mais igualitário para pessoas que menstruam”. “‘Pessoas que menstruam’. Tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude. Wumbem? Wimpund? Woomud? (nota da tradução: variações propositais da palavra ‘woman’, que significa mulher em inglês), escreveu Rowling, em seu Twitter.

Muitos internautas se incomodaram com a publicação feita pela escritora, confundindo sexo com gênero, e pontuaram que homens transsexuais e pessoas não-binárias também podem menstruar. Após a repercussão, J.K. criticou a distinção entre os conceitos.

“Se o sexo não é real, então não existe atração pelo mesmo sexo. Se o sexo não é real, a realidade vivida por mulheres ao redor do mundo é apagada. Eu conheço e amo pessoas trans, mas excluir o conceito de sexo remove a habilidade de muitos discutirem suas vidas de maneira significativa. Não é ódio falar a verdade”, declarou.

A escritora disse ser empática às mulheres trans, mas insistiu na ideia de que o sexo biológico de alguém estaria ligado ao gênero. “A ideia de que mulheres como eu, que são empáticas por pessoas trans há décadas, se identificando porque elas [mulheres trans] são vulneráveis da mesma maneira que as mulheres [cis] – ou seja, à violência masculina -, ‘odeiam’ pessoas trans porque acham que o sexo é real e viveram as consequências – é um absurdo”, disparou.

“Eu respeito o direito de todas as pessoas trans a viver da forma que for autêntica e confortável para elas. Eu marcharia em protestos com vocês caso fossem discriminadas por serem pessoas trans. Ao mesmo tempo, minha vida foi podada por ser uma mulher. Eu não acredito que dizer isso seja propagar ódio”, finalizou.

A autora de “Harry Potter” chegou a ter seu posicionamento repudiado por atores do universo que ela criou, como Daniel Radcliffe, Emma Watson, Eddie Redmayne e Evanna Lynch. Mas não para por aí… No início deste mês, JK Rowling causou revolta na web ao lançar o livro “Troubled Blood”, sob o pseudônimo de Robert Galbraith.

A quinta obra do best-seller que envolve o personagem Cormoran Strike acompanha mais um dos casos do detetive, que dessa vez investiga um homem cis que, por vezes, se veste de mulher para cometer feminicídios. Em uma dura resenha, o jornalista Jake Kerridge, do jornal britânico “The Telegraph”, declarou que o exemplar possui uma “subtrama de fazer os críticos de Rowling fumegarem de raiva”. Segundo o colunista, o mote da história parece se resumir na seguinte mensagem: “Nunca confie num homem de vestido”.

Ex-fãs e ativistas da comunidade LGBTQI+ viram, na composição do vilão da trama, uma provocação da autora. (Foto: Getty/Divulgação)

Além da trama de gosto duvidoso, o codinome utilizado por J.K. para publicar a obra também chocou o público. Segundo o jornal Independent UK, o verdadeiro Robert Galbraith Heat foi um psiquiatra que viveu de 1915 a 1999, e dedicou sua vida a experimentos bárbaros de conversão sexual, popularmente conhecidos como “cura gay”.

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