Biel faz trança nagô e diz que está ‘com cara de bandido’; Funkeiro é acusado de racismo e apropriação, e se manifesta

Na noite dessa terça-feira (9), o nome do funkeiro Biel ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter, após o cantor adotar um penteado tradicional da cultura afro, e associar o visual a um bandido. De tranças nagô, o jovem de 23 anos foi acusado de apropriação cultural e racismo.

“Oi! Fiquei malandro com esse cabelo, ‘fio’. [Se] olhar com cara fechada parece até que é o quê? Bandido”, disse o músico em um vídeo publicado nos Stories do Instagram. As críticas não demoraram a aparecer na web. “O cara foi cancelado 300 vezes, mas parece que não aprende a lição”, escreveu o youtuber Felipe Castanhari em seu perfil.

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Os “cancelamentos” mencionados por Castanhari se referem a duas outras polêmicas vividas pelo funkeiro no passado. Em 2016, uma jornalista de 21 anos do portal iG denunciou Biel de assédio, após ser chamada durante uma entrevista de “gostosinha”, e ouvir do cantor que ele “a quebraria no meio”. Depois da grande repercussão, o músico se mudou para os Estados Unidos e, em 2018, foi acusado pela ex-mulher Duda Castro, de violência doméstica. Ele atualmente vive no interior de São Paulo com a família, onde tem passado a quarentena.

https://twitter.com/FeCastanhari/status/1270515837598937095?s=20

A fala de Biel é considerada racista pelo fato dele ser branco, se apropriando de um penteado de herança negra que representa resistência, e associá-lo à marginalidade.

De acordo com a repórter Priscilla Geremias, da revista Marie Claire, o penteado reproduzido por Biel vai muito além das questões estéticas. “Para a população negra, trançar o cabelo é mais do que um código estético, é herança de uma história de resistência, resiliência e ancestralidade, passada entre mulheres, geração após geração”, explicou.

O blog Las Pretas aponta que em países da América Latina, incluindo o Brasil, mulheres escravizadas usavam as tranças de maneira inteligente, como forma de comunicação, desenhando nas cabeças umas das outras mapas com caminhos nas fugas para os quilombos. O penteado ainda pode indicar religião, parentesco, idade, etnia e outros atributos de identidade.

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Na web, internautas se enfureceram com a postura do cantor. “Isso é preconceito social. Isso é racismo, afinal, tranças são um elemento da cultura preta”, comentou um internauta. “Biel disse que ao colocar tranças ficou parecendo bandido. Não conhecer a história por trás da cultura dos povos preto e indígena, e se apropriar mesmo assim, também é racismo”, disparou outra. “Só botar uma trança afro que você virou bandido. Racismo tá em dia”, lamentou uma terceira.

Diante da repercussão, Biel se justificou, e disse que o termo “bandido” usado por ele, era apenas uma gíria. “Eu não vou deixar esse tipo de coisa acontecer, porque é desagradável. Eu sei que sou branco, eu sou uma pessoa que foi favorecida a vida toda por conta do privilégio branco. Todos os meus tios foram para a faculdade graças a facilidades por conta de coisas da sociedade que meus avós tiveram. Eu sei que é difícil para uma pessoa como eu me posicionar num momento como esse, mas usar gíria para converter o que eu estou falando…”, começou.

Pra mim, isso é falar que um bagulho é pica, tipo, ‘tô bandido’. Isso já mexe com trauma, com coisas que eu passei, mexe com pressão da infância que foi exercida sobre mim por conta de erro e vacilo de moleque. Gente que não tem consciência das consequências dos seus atos, esse era eu, imaturo. E aí hoje, vim usar uma gíria… Para, na moral. Vamos focar na real causa disso tudo. Eu tô trabalhando, me deixa”, finalizou.

Assista a um trecho abaixo:

https://twitter.com/ktaefave/status/1270505700159115266?s=20